Um dos principais defensores da presidente afastada Dilma Rousseff e reconhecido por discursos exaltados na tribuna do Senado, o líder do PT na Casa, o pernambucano Humberto Costa, admite que a sessão da fase final do julgamento do impeachment não deverá ser fácil. “Não estamos defendendo a ideia de que está resolvido”, reconheceu em entrevista concedida ao Blog de Jamildo menos de 24 horas antes do início do julgamento da aliada, marcado para esta quinta-feira (25), às 9h.
O resultado do processo que já dura nove meses deve ser dado no início da próxima semana e, independente de qual seja, será um marco na política nacional.
Diante disso, Humberto Costa ainda avaliou os governos Dilma e do interino Michel Temer (PMDB), constatando que a gestão petista “colocou a política na frente da economia”.
Blog de Jamildo - Qual é a expectativa do senhor para a votação do impeachment?
Humberto - Será uma votação difícil.
Não estamos defendendo a ideia de que está resolvido.
O governo tem jogado pesado para manter os votos (contra Dilma), mas nós estamos conversando com aqueles se de dispuseram.
Nós precisamos de seis e estamos discutindo com 10.
Vai ser um resultado apertado.
Blog de Jamildo - Como será a sessão?
Humberto - Será um processo razoavelmente disputado, primeiro com duas a três horas de questões de ordem.
Depois, os depoimentos de quatro testemunhas na quinta e quatro na sexta.
Cada senador pode fazer uma pergunta, resultado em 12 minutos entre pergunta e resposta.
Vai ser um processo longo.
Blog de Jamildo - A atual oposição já está se preparando para esses questionamentos?
Humberto - Ao longo do dia vamos reunir as assessorias (dos parlamentares) e dos senadores para que possam escolher, trocar ideias, debater as réplicas, dividindo de acordo com o desejo de cada um.
Blog de Jamildo - Na sua avaliação, quais foram os erros do governo Dilma?
Humberto - A primeira foi a nossa relação com o Congresso Nacional, devido à característica da formação dela (de Dilma), de não ser afeita à política tradicional e não estabelecer um diálogo aberto.
Houve também os erros econômicos: de dar muitas isenções sem garantia de contrapartida de investimento das empresas e da geração de empregos e da subestimação da crise econômica internacional, achando que ela não iria chegar da mesma forma.
Erramos ao ter colocado a política na frente da economia.
Conquistamos a presidência em 2014, grande parte por causa do apoio dos movimentos sociais e depois adotamos uma estratégia diferente do eles pensavam.
Blog de Jamildo - Diante dessa relação com os movimentos sociais, como o senhor acredita que a esquerda no País vai sair desse processo?
Humberto - Saímos em condição melhor, ou pelo menos menos ruim, do que os que patrocinaram o golpe.
As pessoas estão vendo que esse é um processo político e uma afronta à democracia.
Podemos, na oposição, reconstruir o nosso caminho.
A política como um todo é afetada por esse processo.
Blog de Jamildo - Qual é a opinião do senhor sobre a gestão interina de Michel Temer?
Humberto - Péssimo, sem legitimidade, sem rumo econômico.
Está cheio de pessoas envolvidas ou denunciadas por práticas de corrupção.
Quer desmontar as políticas sociais que nós construímos.
Se o impeachment se consolidar, ainda vai enfrentar a dificuldade de governar.