“Admito que a perspectiva de barrar o impeachment é remota, mas manterei minha posição contrária”. É o que afirma o senador pernambucano Armando Monteiro Neto (PTB), ex-ministro do governo Dilma Rousseff (PT), sobre o possível afastamento definitivo da presidente.

O plenário do Senado se reúne para julgar o processo nesta quinta-feira (25), às 9h, em sessão que tem previsão de durar cinco dias.

O petebista e o líder do PT no Senado, Humberto Costa, os dois parlamentares eleitos pelo Estado que são contra a condenação da petista, concederam entrevista ao Blog de Jamildo.

Blog de Jamildo - Qual é a expectativa do senhor sobre a sessão?

Armando Monteiro - Tenho conversado bastante com os colegas do Senado sobre a fragilidade do argumento de crime de responsabilidade para aprovar o impeachment.

Mas não posso deixar de ser realista.

Admito que a perspectiva de barrar o impeachment é remota, mas manterei minha posição contrária ao impeachment, por um imperativo de coerência.

Blog de Jamildo - Como o senhor analisa o processo de impeachment, desde a abertura, ainda na Câmara dos Deputados, até esta fase final?

Armando - Estamos assistindo a um processo que tem se caracterizado por juízos de natureza eminentemente política, resultantes de uma correlação de forças existente no Congresso antes da abertura do processo de impeachment.

Estou convicto de que a presidente Dilma vai sustentar, na segunda-feira, no plenário, com altivez e coragem, suas marcas pessoais, os argumentos de natureza jurídica e política que fundamentam a inexistência de motivos para o impeachment.

LEIA TAMBÉM » Entrevista: Humberto Costa prevê votação difícil e reconhece erros do PT, mas critica Temer Blog de Jamildo - Como ex-ministro, o senhor pode avaliar o governo Dilma até agora?

Quais foram os principais acertos e erros no primeiro mandato e no início do segundo?

Armando - Houve uma contaminação de um ambiente econômico de desaceleração da atividade econômica e elevada taxa de desemprego pelo ambiente político.

Instalou-se no Congresso, muito antes de ser aberto o processo de impeachment, repito, um clima belicoso, de confrontação, que ignorou o sério processo de ajuste da economia que ela iniciou.

A presidente tomou medidas corajosas para promover o ajuste: aumento da taxa de juros de longo prazo, a TJLP, com redução de subsídios a novas operações do BNDES para investimentos; correção dos preços administrados; realinhamento cambial e forte ajuste nas contas externas; recomposição do IPI sobre automóveis; revisão das regras do seguro-desemprego, do abono salarial e da desoneração da folha de pagamentos; diminuição de incentivos à exportação.

Infelizmente, o processo de ajuste não se completou por decisão de um Congresso que, com suas pautas-bombas, não tem a autoridade necessária para fazer cobranças e questionamentos na área fiscal.

Blog de Jamildo - O senhor foi eleito em 2010 com o apoio do PSB de Fernando Bezerra Coelho.

Hoje, o senador que até já foi ministro, como o senhor, é um dos que votam a favor do impeachment.

Como o senhor percebe essa mudança de opinião?

Armando - Nesse quesito, respondo apenas pela minha posição.

A História vai se encarregar de julgar, no futuro, as posições de cada um.

Como mencionei no meu pronunciamento contra a admissibilidade, em maio, não aprendi a participar de um governo, como fiz até recentemente no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e não poder, agora, defendê-lo.

Blog de Jamildo - Como o senhor avalia os três meses de gestão de Temer?

Armando - Não faço oposição ao Brasil.

Votei a favor da fixação da nova meta do déficit primário sugerida pelo governo interino e também sou inteiramente favorável à PEC que limita o aumento dos gastos públicos à inflação do ano anterior.

Mas me preocupam, muito, os sinais de ambiguidade na administração fiscal de curto prazo.

Há uma leniência do governo interino com as pressões do funcionalismo para reajustes salariais de várias categorias, enquanto os trabalhadores do setor privado amargam desemprego e insegurança.

O governo, além disso, afrouxou as contrapartidas dos estados à renegociação de suas dívidas.

Para que a PEC dê resultados efetivos, é preciso, ademais, adotar medidas complementares essenciais, como a reforma da Previdência Social.