Ronaldo Caiado, senador do Dem, em artigo na folha de São Paulo Afastar a presidente Dilma Rousseff não é o fim, mas o início de um novo e prolongado processo de recuperação do país.

Em 13 anos de governo, o PT deixou o Brasil moribundo.

O impeachment, nesses termos, equivale a levá-lo à UTI, mas a salvação só virá se os procedimentos forem rigorosos, sem concessões.

E os sinais iniciais preocupam —e muito.

A meta fiscal deficitária, de R$ 170,5 bilhões, já de si absurda —e que condensa em números o trágico legado do PT—, precisa ser rigorosamente cumprida.

E o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, corrigindo o que dissera na véspera seu colega da Casa Civil, Eliseu Padilha, de que a meta já teria sido consumida em R$ 169 bilhões, assegura que o colega se equivocou.

Afirma que os números mencionados são uma projeção de gastos para todo o restante do ano —e não uma realidade já consumada no presente.

Se o fosse, estaríamos perdidos.

O que assusta, porém —e deu verossimilhança ao que foi desmentido—, não são tanto as declarações controversas, que desorientam os agentes econômicos, mas a prática por trás delas, como a concessão de aumentos salariais na esfera dos três Poderes.

O custo desses aumentos para o governo será de R$ 67,7 bilhões entre 2016 e 2018.

Mais que o impacto orçamentário, com efeito-cascata ainda não dimensionado, representam concessões injustificáveis ao corporativismo, beneficiando trabalhadores que já gozam de estabilidade funcional, em detrimento do atendimento a um vasto contingente de mais de 11 milhões de desempregados.

Preocupam também os termos da reestruturação da dívida dos Estados, de sentido claramente eleitoreiro: desconto de 40% por até dois anos e moratória por seis meses.

Dois anos é o tempo que falta para as próximas eleições, em que o governador que não fez o dever de casa terá meios de transferir o ônus de sua má gestão ao sucessor e ainda promover, com essa folga orçamentária de mão beijada, obras que turbinem sua administração.

Não é nem técnica nem moralmente aceitável.

Brindou-se o mau gestor.

Teme-se que novas concessões, da mesma natureza, ainda possam vir e ameaçar o cumprimento da meta.

O país, que já opera na base do cheque especial —a tanto equivale lidar com um rombo orçamentário—, não pode permitir que seu limite seja estourado.

Nessa hipótese, irão aplicar a receita clássica: aumento de impostos e novos cortes em investimento.

Em ambos os casos, o povo paga a conta —já está pagando—, com reflexos em áreas essenciais, como saúde, educação, segurança pública e programas sociais, que já estão abaixo da crítica.

O governo Temer não pode perder de vista o que o trouxe ao poder: a missão de restabelecer a saúde de um paciente terminal.

Não o fará se mantiver a gastança de sua antecessora.

Em alguns momentos, parece ter se esquecido disso.

O que justifica, por exemplo, o anúncio, feito pelo mesmo Padilha, de que no próximo mês o governo recriará o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que ele mesmo extinguiu?

Por que, havendo um Ministério da Agricultura —que, ao que se sabe, existe exatamente para prover o desenvolvimento agrário—, recriar outro, análogo?

Ou o governo não sabia o que fazia ao extingui-lo, o que é grave, ou recai no erro de seu antecessor, criando pastas para atender ao provimento político de cargos.

Não é momento de jogar para a arquibancada nem de afagar o Congresso, a pretexto de garantir o impeachment.

Nessa hipótese, corre o risco de ter o mesmo destino de sua antecessora.

Sua interlocução é com a história, e o reconhecimento, mesmo tardio, só virá se não a trair.

Temer não pode perder de vista o que o trouxe o poder: restabelecer a saúde de um doente terminal.