O ex-presidente Nacional do PP e ex-deputado federal pernambucano Pedro Corrêa, preso pelo Mensalão e depois na operaçáo Lava Jato, por receber vantagens indevidas em contratos da Petrobras, apresentou, segundo a PF e o MPF, uma versão fantasiosa para tentar proteger os aliados de Alagoas do PP, que também se relacionavam ao suposto esquema da Petrobras, em uma investigação relacionada ao esquema da Operação Turbulência.

Provas compartilhadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e a Justiça do Paraná, no bojo da operação Lava Jato, já haviam mostrado que o esquema da Operação Turbulência, objeto de uma operação da Polícia Federal de Pernambuco, no dia 21 de junho passado, no Recife, começaram a ser desvendados a partir das delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.

LEIA TAMBÉM: » Operação Turbulência acha elo entre esquema local e operador uruguaio condenado na Lava Jato » Alvo da Operação Turbulência, comprador de avião de Eduardo Campos caiu em contradição ao depor em inquérito da Lava Jato O resumo é: Em delação, o doleiro Alberto Yousseff disse que um agiota de pernambuco, de nome João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, emprestou dinheiro para a campanha de Arthur de Lira, do PP de Alagoas.

Depois das eleições de 2010, Artur de Lyra foi a Youssef e pediu que o ajudasse a pagar dívidas de campanha.

Uma das empresas usadas para depositar valores foi a Câmara e Vasconcelos, cujo nome já havia sido citado na compra da aeronave de Eduardo Campos usava na campanha eleitoral de 2014.

Carlos Lyra era um dos compradores do avião.

Operação Turbulência: Câmara e Vasconcelos entrou no radar da PF após Paulo Roberto Costa e Youssef delatarem esquema em Alagoas Contextualizando o caso Em delação premiada, no final de 2014, tanto o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa quanto o doleiro Alberto Youssef haviam informado à Polícia Federal que repassaram recursos para a campanha de 2010 dos alagoanos Arthur Lira e Benedito de Lira.

O operador Youssef contou que usou duas empresas suas, MO Engenharia e Construtora Rigidez, para fazer as transferências.

Nos depoimentos, eles também citaram pela primeira vez o nome da empresa fantasma Câmara e Vasconcelos, que estava no nome de Paulo Cesar de Barros Morato, que apareceu morto e envenenado em um motel de Olinda, um dia depois da operação da PF no Recife.

Nos depoimentos a força-tarefa da Lava Jato, os dois colaboradores nacionais associaram ainda o nome de João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho à empresa Câmara e Vasconcelos e disseram que ele era agiota no Recife.

Como se sabe hoje, a Câmara e Vasconcelos é uma empresa fantasma e era controlada pelo testa de ferro Paulo Cesar de Barros Morato, que apareceu morto em um motel de Olinda, um dia depois de ter a prisão provisória decretada pela Justiça Federal de Pernambuco, a pedido da PF.

No dia 21 de junho, a Polícia Federal acusou oficialmente a empresa de ter recebido cerca de R$ 19 milhões, da OAS, supostamente desviados de obras da transposição do São Francisco.

Conforme também já revelado, o empresário Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho foi chamado a depor na PF de Brasília, em abril de 2015, um ano antes de ter sido alvo da operação na capital pernambucana.

Qual era o cenário investigativo?

A deduragem de Paulo Roberto Costa consta mais especificamente do anexo 24 de seu termo de colaboração, como são chamadas tecnicamente as delações.

Nesta fase da delação, o ex-diretor da Petrobras afirma que Benedito de Lira, senador do PP em Alagoas, solicitou, por meio do doleiro Youssef, a quantia de um milhão de reais, para a campanha ao Senado em 2010.

Essa informação já constava de uma notação em sua agenda, apreendida na operação da Lava Jato, em sua casa.

A suspeita da PF era que os valores fossem provenientes de repasses ilícitos, decorrentes de sobrepreço na Petrobrás.

Já a delação de Alberto Youssef consta nos termos de colaboração número 17 e 26.

Nestes dois, o doleiro do Paraná confirma que pagou resquícios de campanha de Benedito de Lira e Arthur de Lira (deputado pelo PP de Alagoas) no ano de 2010, por meio de transferências eletrônicas de empresas de fachada, assim como teria intermediado a “doação’ oficial de R$ 400 mil da empresa UTC (do empresário Ricardo Pessoa) para Benedito Lira, valores que seriam decorrentes de vantagens indevidas do esquema ilícito da Petrobras. » Justiça Federal decide manter na prisão mais dois dos cabeças do esquema da Operação Turbulência De acordo com os registros da PF, segundo Youssef, os resquícios de campanha, dívidas de campanha, do ano de 2010, dos candidatos a senador e deputado federal do PP foram pagos através da empresa M.

O.

Consultoria, parte sendo paga diretamente a Artur de lira em seu escritório, em espécie, sendo o restante mediante transferências da M.

O.

Consultoria para contas indicadas por Arthur Lira.

Onde entra o ex-presidente Nacional do PP, Pedro Corrêa?

De acordo com os documentos do caso, Pedro Corrêa tentou socorrer os alagoanos ao assumir que teria feito negociação com carneiros junto a Arthur Lira, mas a PF informou no processo que ele não tinha prova alguma desta negociação.

Não se sabe se uma operação combinada, de acordo com as informações do processo, no STF, Artur também teria tentado jogar a operação para o pernambucano.

Em depoimento no mesmo processo, o pai de Arthur, Benedito de Lyra, hoje senador pelo PP, disse não saber se Pedro Corrêa pediu dinheiro emprestado ao filho.

Como o esquema começou a finalmente se aproximar de Pernambuco?

Em um termo de declaração complementar, de número 12, Youssef afirmou que fez um ou dois depósitos em contas indicadas por Artur Lira, por meio das empresas M.O.

Consultoria ou Empreiteira Rigidez, sendo o restante entregue em espécie, tendo os valores sido transferidos da MO ou rigidez para uma empresa de Alagoas e Pernambuco, em várias transferências.

Bingo.

Com base nestas informações, por meio do ofício 098/2015, os agentes da PF começaram a pesquisar os antecedentes penais e dos quadros societários das empresas em nome de Arthur de lira, Benedito de Lira e o pernambucano João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, bem como pesquisas dos quadros societários e e históricos das empresas MO Consultoria Comercial e Laudos LTDA e a empreiteira Rigidez. » Operação Turbulência descobriu quatro empresas fantasmas ligadas a Apolo Vieira “A análise das informações bancárias teriam detectado transferência da Rigidez para a pessoa jurídica Câmara e Vasconcelos Terraplenagem, cujo suposto proprietário seria João Carlos Pessoa de Melo Filho, sendo este mencionado por Alberto Youssef como “agiota” (no Recife)”, descreve a PF, em documento de 2015.

Depois, os delegados da PF levantaram ainda o quadro de sócios e de funcionários, desde 2009, além de pedirem ao BC para saber se a Câmara e Vasconcelos Locação e Terraplenagem tinha autorização para atuar na qualidade de instituição financeira.

O pedido de investigações da PF ao BC e o depoimento solicitado a Carlos Lyra foram feito em março de 2015. » Operação Turbulência: saiba o que o testa de ferro Paulo César Morato disse à Polícia Federal, em Brasília, antes de morrer De acordo com a PF, Alberto Youssef realizou 58 termos de depoimento na sede da Polícia Federal no Paraná.

Os depoimentos foram colhidos entre 2 de outubro de 2014 a 25 de novembro de 2014, dois meses após a queda do avião de Eduardo Campos.

Nos documentos internos, citando fontes abertas, comno o Jornal Nacional, os relatórios citam o episódios do avião, relacionando-os com os nomes das empresas e empresários locais.

Janot e Câmara e Vasconcelos Foi o procurador Rodrigo Janot, no dia 3 de março de 2015, que solicitou ao STF que a Polícia Federal realizasse, no bojo do inquérito de Benedito e Artur Lyra, diligências no sentido de comprovar que a empresa Câmara e Vasconcelos era utilizada por João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho usasse a firma para atividades de agiotagem.

Citado como agiota por Youssef, a PF descobriu que, de fato, o pernambucano Carlos Lyra era proprietário da JCL Fomento Mercantil LTDA, na capital pernambucana, ajudando a reforçar a versão apresentada, conforme ressalta a PF, nos registros do caso. » Juiz viu indícios de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha para negar soltura de acusados » Advogado diz que acusado na Operação Turbulência é mantido preso para levar a delação O MPF, no pedido de invesigação encamainhado a Teori, no STF, cita que a Câmara e Vasconcelos já havia mudado de endereço em três oportunidades.

O primeiro deles havia sido o número 16, da rua Agamenon Magalhães, no bairro de Sertãozinho, em Nazaré da Mata.

Quando foi ouvido pela PF, em abril de 2015, Carlos Lyra disse que encontrou Paulo Cesar Morato, o testa de ferro da Câmara e Vasconcelos, em um endereço em Boa Viagem, para onde havia transferido a sede.

No sistema de informações bancárias do MPF (Simba), o órgão já haviam descoberto até então ao menos R$ 200 mil repassados pelas empresas de fachada de Youssef para a Câmara e Vasconcelos. » Empresas fantasmas da Operação Turbulência funcionavam em distribuidoras de medicamentos e até central de bebidas Youssef disse que não sabia nada sobre as atividades da empresa local, mas as investigações iniciais mostraram que a empresa M.O.

Consultoria, uma das empresas de fachada utilizadas por Youseff no esquema criminoso, fez uma transferência eletrõnica, no dia 22 de 12 de 2010, para a empresa Câmara e Vasconcelos, no valor de R$ 100 mil, a título de suposto pagamento de fornecedores.

Conforme dito por Alberto Youssef, este pagamento se referia ao pagamento de déitos de campanha, relacionada à campanha ao Senado de 2010, feito com valores provenientes do esquema ilícito envolvendo a Petrobras.

Da empresa Rigidez, outra empresa de fachada usada por Alberto Youseff, o MPF descobriu outra transferência para a pernambucana Câmara e Vasconcelos, no valor de R4 100 mil, no dia 07 de janeiro de 2011.

Depoimento de Eduardo Freire Bezerra Leite tanbém tratou do empréstimo polêmico (Foto: Google Street View)Sem alarde, o empresário pernambucano Eduardo Freire Bezerra Leite, dono da empresa Camboa Cerâmica, no Pina, conhecido no meio político local como Eduardo Ventola, prestou depoimento à Polícia Federal em Brasília no dia 11 de maio do ano passado, quase um ano antes de ser preso – hoje está no Cotel, após a Justiça Federal aceitar o pedido de prisão na operação Turbulência.

Aos agentes federais, Eduardo Ventola admitiu que emprestou R$ 200 mil ao então deputado estadual Arthur Lira, no meio do ano de 2010, antes do pleito eleitoral daquele ano.

Os valores foram repassados em espécie.

Eles foram entregues a um portador indicado por Lira, mas ele não lembrou o nome.

O portador foi ao escritório dele, então funcionando no Empresarial Excelsior, na Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem.

Chegou de carro, estacionou na garagem, mas ele não soube informar a cidade de onde o portador vinha e para onde iria.

Hoje o escritório da Camboa Cerâmica funciona na Herculano Bandeira, no Pina. » Advogado diz que empresas de Apolo Vieira não são fantasma e ataca relatórios da PF e MPF Aos agentes da Polícia Federal, Eduardo Ventola garantiu que Artur Lira não condicionou que os valores do empréstimos fossem em espécie.

Os recursos foram sacados de sua conta, segundo informou, oriundos do lucro de suas empresas, mas, curiosamente, eles não fizeram um contrato formal. “Arthur Lira não declinou o nome do amigo que seria o primeiro destinatário do empréstimo e também não declinou o motivo do empréstimo’, anota a PF, em relatório.

O agiota local disse acreditar que o destino dos valores seria para um amigo dele.

Eduardo Ventola também contou, na PF de Brasília, que, após três meses do empréstimo, ele cobrou a Arthur Lira o pagamento e solicitou que ele depositasse valores na conta da Câmara e Vasconcelos Locação e Terraplenagem.

Foi depois disto que o deputado alagoano providenciou os dois depósitos, um no final de 2010 e outro no começo de 2011, cada um de R$ 100 mil.

Eram justamente as transferências do doleiro da Lava Jato, criando um elo entre os dois esquemas desbaratados pela Polícia Federal. » Juiz viu indícios de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha para negar soltura de acusados » Justiça Federal decide manter na prisão mais dois dos cabeças do esquema da Turbulência » Advogado diz que acusado na Operação Turbulência é mantido preso para levar a delação Ele disse que sempre se encontrava com Arthur Lira quando ele vinha ao Recife, almoçavam, já se encontraram na Exposição de animais do Recife.

Na PF, Eduardo Ventola também disse que Arthur Lira e Paulo César Morato não se conheciam.

Ventola negou ter doado recursos em 2010 para as campanhas de Arthur e seu pai Benedito Lira.

Dinheiro da Lava Jato nas contas do esquema local A PF mostrou a Eduardo Ventola as transferências efetuadas pelas empresas de Alberto Youseff (MO Consultoria e Empreiteira Rigidez) em favor da Câmara e Vasconcelos, em 22 de outubro de 2010 e em 07 de janeiro de 2011, e Ventola reconheceu como sendo os valores pagos pelo alagoano Arthur Lira para quitar o empréstimo anteriormente realizado com o agiota do Recife. » Empresário morto usou mecânico e seu irmão como laranjas na Câmara e Vasconcelos Terraplenagem » Câmara e Vasconcelos entrou no radar da PF após Paulo Roberto Costa e Youssef delatarem esquema » Empresário morto controlava três firmas fantasmas.

Empresa de fachada em Goiás irrigava esquema Ele acrescentou que, em torno de um ano depois do depósito efetuado por Arthur Lira (com dinheiro repassado por Youseff), foi feita a transferência dos valores das contas da Câmara e Vasconcelos para conta da Camboa Cerâmica ltda, em três ou quatro TEDs. “As TEds foram mais que R4 200 mil e menos que R$ 500 mil”, disse. “Os valores devolvidos ultrapassavem ao que tinha a receber de Arthur Lira porque havia feito negócios com Paulo Morato.

O valor excedente era devido ao aluguel de máquinas de terraplanagem dele”, informou.

Curiosamente, Eduardo Ventola, apesar de credor de meio milhão de reais, não sabia em que obra Paulo César Morato utilizou as máquinas.

Na sua fala na PF, o falecido Morato disse que pegou o empréstimo com Ventola para iniciar três obras com a Câmara e Vasconcelos. » SDS confirma envenenamento de Paulo César Morato » Corpo de Paulo César Morato é enterrado em Barreiros Paulo Morato revelou que prestou serviços na construção da Orla de Piedade, contratada por uma empresa chamada OAD (sic).

A OAS Engenharia foi a responsável por fazer as obras de contenção do avanço do mar em Jaboatão, com orçamento de R$ 40 milhões, contrata pela Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, com recursos federais.

Também prestou serviços na construção de 500 casas em Maraial, na Mata Sul do Estado.

Neste caso, a Câmara e Vasconcelos foi contratada pela empresa Bezerra e Leite.

Essa firma pertenceria a Edson Leite, identificado pela PF como irmão do empresário Eduardo Freire Bezerra Leite.

Morato citou ainda obras de terraplenagem na cidade de Caaporã, na Paraíba.

Nesta cidade, a Câmara e Vasconcelos teria sido contratada pela Votorantim.

Relação de amizade e de negócios antiga Na PF, o empresário Eduardo Ventola disse que foi apresentado em 2007 a Arthur Lira por um corretor de imóveis, quando o deputado alagoano manifestou interesse em numa fazenda dele.

O negócio de compra e venda não se concretizou. » Alvo da Operação Turbulência, Apolo Vieira teria usado familiares e até irmã em esquema de fraudes » Operação Turbulência acha elo entre esquema local e operador uruguaio condenado na Lava Jato, por prestar serviços a Nestor Cerveró No entanto, a fazenda foi arrendada a Arthur Lira logo após conhecê-lo, até ao menos aquele momento (maio de 2014).

A fazenda Estrela fica em Quipapa e tem 300 hectares, onde Arthur Lira desenvolve atividades pecuárias.

No depoimento à PF, Eduardo Ventola disse que recebe cerca de R$ 60 mil por ano de Arthur Lira pelo arrendamento, desde 2008.

Fazenda em Quipapá com vários donos Curiosamente, Benedito de Lira, que Ventola disse desconhecer, declara a fazenda em suas declarações de patrimônio.

De acordo com os autos do mesmo processo, o senador Benedito de Lira foi ouvido pela PF em maio de 2015 e disse que não conhecia Eduardo Freire Bezerra Leite e também não tinha conhecimento que Arthur Lira tenha pego R$ 200 mil emprestados com Eduardo Ventola. » Acusado de testa de ferro da Operação Turbulência ganhou carro de luxo como “presente de papai” » Um ano antes de ser preso pela PF, Carlos Lyra Filho já era investigado pela PF, após delação de Paulo Roberto Costa e Youssef Na ouvida, informou que Arthur Lira disse a ele que Eduardo Ventola foi o antigo dono de uma fazenda dele.

A compra da fazenda teria sido intermediada pelo filho e era a única coisa que sabia sobre Eduardo Ventola.