Antes que os recursos fossem distribuídos com a ajuda de empresas fantasmas e até as contas bancárias de uma rede de postos de gasolina, o esquema fraudulento descoberto pela Operação Turbulência valeu-se de uma securitizadora de crédito, de nome Smartcred, para movimentar os recursos clandestinos que foram levantados com contratos da transposição do São Francisco e refinarias Petrobras.
A empresa atuou, indiretamente, na compra do avião usado por Eduardo Campos, de acordo com os documentos da investigação federal.
O procurador da República Cláudio Henrique Dias revela, na peça de denúncia enviada à Justiça Federal de Pernambuco, que o elo de ligação entre as empresas era o executivo Paulo Gustavo Cruz Sampaio, da Smartcred Securitização.
Paulo Gustavo é um dos 18 nomes denunciados oficialmente pelo MPF, na semana passada, depois de indiciados pela Polícia Federal, na semana retrasada.
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Segundo a denúncia, em janeiro de 2012, Paulo Gustavo Cruz Sampaio já havia comprado 2 mil ações da Smartcred que pertenciam a BR Participações, de Apolo Santana. » MPF em Pernambuco denuncia 18 por formação de organização criminosa » MPF diz que Eduardo Campos era ‘cliente’ de esquema operado por denunciados Conforme descobriu a PF na investigação que teve início após a queda do avião de Eduardo Campos, em 2014 a Smartcred foi responsável pelo envio de R$ 500 mil para a Giovani Pescados comprar o avião da Turbulência.
Na PF, Paulo Gustavo Cruz Sampaio confessou em depoimento que estava subordinado a Apolo Santana.
Além disto, disse que foi convidado por Apolo para trabalhar em mais duas empresas, a MS Pescados e a Smartcred.
Para recapitular: a MS Pescados recebeu créditos milionários da West Pneus e Tonimar Pneus, duas empresas fantasmas ligadas pela PF ao esquema, entre julho de 2013 e março de 2015.
Só a Tonimar emitiu 13 títulos no valor de R$ 2,1 milhões para a MS Pescados, de Apolo Santana Vieira.
Não era só.
Paulo Gustavo Cruz Sampaio também admitiu que já havia sido empregado na empresa D’´Marcas Comércio Ltda, também de Apolo Vieira.
Além de Paulo Gustavo Cruz Sampaio, a PF identificou outro diretor-presidente da Smartcred, Bruno Alexandre Donato Moutinho, como envolvido nas operações financeiras criminosas, apontado como colaborador do esquema, na mesma denuncia do MPF junto à Justiça Federal.
Segundo a denúncia, Bruno Moutinho também usou o nome da empresa fantasma Tonimar Pneus para trocar os títulos junto a factoring Negocial Fomento Mercantil, do Recife.
Além de diretor da BR Participações, ele figurava como gerente financeiro da Tonimar Pneus. » Morato tinha função de movimentar dinheiro de esquema da Operação Turbulência, aponta MPF » MPF diz que OAS pagou avião de Eduardo Campos, para ajudar clandestinamente em custos de campanha presidencial Ocorre que, na PF, Tonimar de Araujo Ribeiro - o proprietário da empresa- informou que desde 2010 sua empresa não estava mais funcionando e alegou ainda que desconhecia Bruno Moutinho, bem como nunca autorizou ele ou outra pessoa a realizar movimentação em nome de sua empresa. “Todos esses títulos foram emitidos para poder justificar a remessa de recursos financeiros da empresa Negocial Fomento para outras empresas integrantes da organização criminosa”, relata o procurador da República Claudio Henrique Dias.
Irmã de Apolo na Smartcred Em uma nota do relatório do MPF (177), os acusadores citam ainda como exemplo da ligação de Apolo Santana com a Smartcred o fato de sua irmã, Patrícia Santana, trabalhar na empresa, apresentando vínculo empregatício com a empresa desde 2011.
No entanto, Patrícia Santana não teve o nome indiciado pela PF nem saiu na relação dos acusados formalmente pelo MPF. » Empresa de terraplenagem não tinha sequer um caminhão em seu nome » Apontado como líder de esquema, João Carlos Lyra tem apenas R$ 7 na conta “Todas as testemunhas que assinam os contratos da Norcred, da Smartcred e da BR Par Participações eram todas funcionários ou estagiários das empresas de Apolo”, diz o MPF, em dado trecho da denúncia.
Mais ligações Além de Paulo Gustavo Cruz Sampaio e Bruno Alexandre Moutinho, no que toca ao capítulo dos títulos de crédito, a PF e o MPF citaram como envolvida Carolina Gomes da Silva.
Ela era secretaria há 18 anos de Apolo Santana na Bandeirantes Pneus. também aparece como vice-presidente na BR Participações, a empresa que tentou suceder a A.F.
Andrade como dona do avião que matou Eduardo Campos em 2014. » Relatório do MPF e Policia Federal diz que João Carlos Lyra era ‘laranja’ de Eduardo Campos » Eduardo Ventola era beneficiário das contas da firma fantasma Geovane Pescados, que comprou avião de Eduardo Campos Segundo as investigações da PF, Carolina Gomes da Silva emprestou o nome como sócia da BR Participações e assinou contratos da BR Participações, de acordo com achados na casa de Paulo Gustavo Cruz Sampaio. “Como sócia, foi responsável por parte da movimentação ilícita da BR Par na Giovane Pescados”, escreve o procurador da República Cláudio Henrique Dias.
Outras ligações entre Recife e Goiás A PF e o MPF também envolveram, nesta parte das investigações, o nome de Silvana Cristina Dias, que trabalhava há 20 anos com Apolo Santana Vieira.
Ela cuidava da parte financeira da Bandeirantes Pneus. » Empresa de terraplenagem na Refinaria Abreu e Lima é o elo entre esquemas da Lava Jato e Operação Turbulência » Delações de Trombeta e Morales denunciaram ‘delivery’ de dinheiro de João Carlos Lyra, no Recife » Ministério Público destaca promotora para acompanhar inquérito da morte de Paulo Morato Segundo a denuncia do MPF, Silvana Cristina Dias levou os títulos da West Pneus e A.
M. de Pontes Pneus - duas empresas fantasmas- para serem trocados na Negocial Fomento Mercantil. “Embora figure como gerente financeira, ela não tinha relação formal com as empresas.
Nos documentos da Negocial Fomento Mercantil, a gerência financeira da West Pneus, na Imbiribeira, era o mesmo endereço da A.M. de Pontes Pneus e Tonimar Pneus.
Na PF, ela confessou que agia a mando de Apolo Santana Vieira, de acordo com as informações da denuncia do MPF à Justiça Federal de Pernambuco.