O procurador da República Cláudio Henrique Dias revelou, na denúncia apresentada à Justiça Federal de Pernambuco, na última quarta-feira (3), que a suposta ‘organização criminosa’ investigada pela Operação Turbulência utilizou-se de uma rede de postos de gasolina no Estado de Pernambuco para lavar dinheiro, supostamente desviado de contratos públicos.
A imputação dos crimes precisa ser corroborada pela juíza federal titular da 4ª Vara Federal da Seção Judiciária de Pernambuco Amanda Torres de Lucena Diniz Araújo.
Foi ela que decretou preventivamente, em junho, as prisões de Apolo Vieira, Arthur Roberto Lapa Rosal, Eduardo Freire Bezerra Leite, João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho e Paulo César de Barros Morato, alegando a existência de provas da materialidade evidenciando a suposta existência de organização criminosa articulada, dedicada ao suposto branqueamento de capitais (lavagem de dinheiro).
O elo de ligação investigado pela Polícia Federal é o ‘gerente’ do esquema Arthur Rosal, também preso em junho passado, no Recife, quando foi deflagrada a Operação.
De acordo com as investigações da PF, Arthur Rosal, que também era sócio de um posto de gasolina, mantinha relações comerciais com o empresário Gilberto Pereira, dono da rede de postos Pepe Legal.
Foto: Reprodução/Google Street View Em troca de empréstimos anualmente, em condições especiais, junto ao esquema, Gilberto Pereira teria deixado que fossem usadas as contas de seus postos.
Conforme os relatórios do MPF no processo (notas 133 e 142) sobre o caso, a rede de postos serviu apenas para intermediar recursos, tendo sido usada pela construtora OAS e nos contratos da Petrobras com o mesmo fim.
Os dois investigados Arthur Rosal e Gilberto Pereira tem em comum serem de Vitória de Santo Antão, embora o segundo more no Recife.
Rosal é apontado pelo MPF como gerente e Gilberto Pereira apenas como colaborador.
O papel de Rosal O nome de Arthur Rosal aparece sendo citado como imprescindível na organização criminosa.
A ele caberia dar liquidez ao negócio. “Ele era responsável pelo recebimento, coleta e saques em dinheiro das diversas contas da empresa e pessoas interpostas (laranjas) do esquema”, cita o procurador da República, na peça enviada à Justiça Federal.
Rosal seria, no esquema, ao empresárioEduardo Freire Bezerra Leite, também conhecido como Eduardo Ventola, também preso na operação em junho. » Acusado de testa de ferro da Operação Turbulência ganhou carro de luxo como “presente de papai” de cabeça do esquema “Arthur Rosal foi o responsável por indicar as contas do posto Latot e Posto pais e Filhos (ambos de Gilberto Pereira e Sócios), para o recebimento de recursos de origem ilícita, provenientes da empresa Câmara e Vasconcelos e do esquema de venda de dinheiro em espécie que fora utilizado para abastecer o caixa dois de diversas empresas acusadas de corrupção e superfaturamento de obras”, afirma o procurador da República Cláudio Henrique Dias, na mesma peça de denúncia.
No suposto papel de gerente do esquema, Arthur Rosal também tinha o controle e usava as contas de um terceiro, que se apresentava como primo, Kleiton Albert da Silva, bem como teria usado até mesmo uma empresa (RU Veras)de um sócio para receber R$ 300 mil da Câmara e Vasconcelos.
No processo, o MPF acusa ainda Rosal de receber dinheiro nestas contas dos operadores financeiros de Alberto Youssef, Rodrigo Morales e Roberto Trombeta, já identificados pela Lava Jato e na condição de colaboradoers premiados.
Na argumentação enviada à juíza Amanda Torres de Lucena Diniz Araújo o MPF lista diversas operações financeiras, identificadas pelo COAF, de ao menos R$ 2,8 milhões, relacionadas entre Rosal e empresas investigadas.
O papel de Gilberto Pereira O nome de Gilberto Pereira da Silva, o Pepe, aparece nos relatórios do MPF como ‘colaborador’ do esquema, na condição de sócio de duas empresas.
Uma delas é a Latot Comércio de Derivados (Rede Pepe Legal) e a outra é o Porto Pais e Filhos.
Segundo a denúncia do MPF, “em troca de favores (empréstimos) (Gilberto Pereira) aceitava que Arthur Rosal transitasse recursos financeiros nas contas de suas empresas, com a finalidade de ocultar a origem ilícita dos recursos”.
Um exemplo citado envolve a empresa fantasma Câmara e Vasconcelos, de Paulo César Morato, que virou símbolo maior do esquema.
As contas da Latot receberam, em uma das operações, R$ 950 mil da Câmara e Vasconcelos.
Noutra operação, detectada pelo COAF, foram outros R$ 550 mil da mesma Câmara e Vasconcelos. “Verificou-se que tais movimentações financeiras não possuíam lastro real em transações efetuadas entre as empresas, uma vez que a Latot e Posto Pais e Filhos nunca realizaram negócios com a Câmara e Vasconcelos, mas serviram de fato apenas para intermediar a movimentação dos recursos públicos com o escopo em dificultar a identificação de sua origem, inclusive com a utilização de empresas fantasmas”, descreve o procurador da República Cláudio Henrique Dias.
Não era só isto, havendo ainda, segundo o MPF, interligação da organização com as operações do doleiro Alberto Youssef, do Paraná, célebre graças à Operação Lava Jato. “A Latot foi usada para receber recursos das empresas Manwin Serviços, dos agentes financeiros de Youssef, Rodrigo Morales e Roberto Trombeta, que operavam esquema de caixa dois da OAS para abrir valores decorrentes do superfaturamento de contratos superfaturados com a Petrobras e posterior pagamento de propina a políticos, conforme fatos apurados no bojo da Lava Jato”, escreve Cláudio Henrique Dias, do MPF de Pernambuco. “Gilberto Pereira integrava a organização criminosa ao permitir que Arthur lapa Rosal utilizasse as contas bancárias de suas empresas para ocultar a origem ilícita dos valores provenientes dos recursos destinados a obras desviadas da OAS e Petrobras (refinarias)”, contextualiza o procurador, ao caracterizar a suposta participação do personagem.
Mais postos na rede da PF Em uma documentação oficial anterior à denúncia dos 18 nomes, enviada ao TRF5, o MPF já havia informado que um grupo chamado Mega Posto teria apresentado a Geovani Pescados para a abertura de contas no Bradesco.
Como se soube depois, a Giovani Pescados era uma empresa fantasma, estava em nome de um pescador humilde da Imbiribeira que apareceu no Jornal Nacional como um dos compradores do avião de Eduardo Campos, logo após o acidente, em agosto de 2014.