Encontrado morto um dia após a deflagração da Operação Turbulência, há mais de um mês, o empresário Paulo César de Barros Morato tinha a função de movimentar recursos da organização investigada pela Polícia Federal no inquérito, para lavar o dinheiro desviado de obras públicas.

Foi o que apontou o Ministério Público Federal (MPF) no documento que veio a público nesta quarta-feira (3), em que denuncia 18 acusados de integrar o esquema, lista que não traz o nome de Morato por ter morrido.

A Procuradoria Regional, porém, afirma que o ’laranja’ agia a mando de dois dos três líderes do grupo, os empresários João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho e Eduardo Freire Bezerra Leite, ambos presos na Região Metropolitana do Recife e alvos de denúncias.

Estão presos ainda Apolo Santana Vieira, outro acusado de ser um dos chefes, e Arthur Roberto Lapa Rosal, que atuava como Morato.

LEIA TAMBÉM » MPF diz que Eduardo Campos era ‘cliente’ de esquema operado por denunciados O ’laranja’ era dono da empresa fantasma Câmara & Vasconcelos Locação e Terraplanagem desde 2009 - e, desde agosto de 2015, era o único sócio.

De fachada, a empresa recebeu da Construtora OAS R$ 23.759.154,56 só entre 31/07/2012 e 23/03/2015.

O dinheiro seria por um contrato para, entre outras funções, alugar caminhões para serem usados nas obras da Transposição do Rio São Francisco.

Porém, não havia veículos como esses registrados no nome dela nem de Morato, o que, para o MPF, serviu como mais um argumento para caracterizá-la como fantasma.

Antes da Turbulência, a empreiteira já havia sido investigada nas operações Vidas Secas e Lava Jato, envolvendo desvio de recursos também da Refinaria Abreu e Lima.

Segundo o MPF, Eduardo Freire ainda indicou a conta da empresa para o recebimento de recursos vindos de empresas de fachada ligadas ao doleiro Alberto Youssef, a MO Consultoria e a Empreiteira Rigidez, usadas para receber “vantagens indevidas” de contratos da Petrobras para os políticos de Alagoas.

Apesar dos valores movimentados pela empresa, o próprio Morato teve apenas R$ 3,1 mil entre 2012 e 2016. » Empresa fantasma de Paulo Morato abandonou Nazaré da Mata depois da queda do avião de Eduardo Campos » Ministério Público destaca promotora para acompanhar inquérito da morte de Paulo Morato » Saiba o que o testa de ferro Paulo César Morato disse à Polícia Federal, em Brasília, antes de morrer A investigação apontou que os empresários chefes dele serviam como agiotas para integrantes da sua própria rede de contatos, entre eles o ’laranja'.

Esses clientes recebiam empréstimos de montantes altos, com juros de 2% e curto período de resgate.

A “venda” do dinheiro era uma forma de fazer o ‘branqueamento’ dos recursos desviados de empreiteiras.

De acordo com o MPF, Morato chegou a sacar R$ 2 milhões da conta da Câmara & Vasconcelos só no dia 29 de agosto de 2014, menos de um mês depois da morte do ex-governador Eduardo Campos (PSB). “O saque de tal valor em um único dia é bastante incomum, não havendo justificativa para tanto.

Tal saque provavelmente serviu para que João Carlos Lyra pudesse ‘vender’ tais recursos a pessoas interessadas em pagar para trocar dinheiro desviado de órgãos públicos por dinheiro em espécie e formar caixa 2 sem chamar a atenção dos órgãos de controle”, afirma a denúncia do Ministério Público Federal.

Antes dessa atitude considerada suspeita na investigação, Morato já havia feito distribuições do dinheiro da empresa de fachada.

Para o MPF, o objetivo de pulverizar os recursos era de dificultar o seu rastreamento, já que era de obras públicas.

Só a Geovane Pescados Eireli e a CRM Material de Construção LTDA, compradoras do avião usado por Eduardo Campos, receberam, respectivamente, R$ 1.297.000 e R$ 1.433.000.

Presos na Turbulência, Arthur Rosal e João Carlos Lyra ficaram com R$ 644.358,58 e R$ 463.785,34. » Corpo de Paulo César Morato é enterrado em Barreiros » SDS confirma envenenamento de Paulo César Morato Além da Câmara & Vasconcelos, Morato era dono da Lagoa Indústria e Comércio LTDA.

Segundo o MPF, outra usada pela organização para movimentar recursos ilícitos.

Em 62 transações, o laranja transferiu para a sua conta R$ 792.000.

A avaliação do MPF foi que essa foi uma forma de ludibriar o controle do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Investigação da morte do laranja Mais de um mês depois de o corpo de Morato ter sido encontrado em um motel de Olinda, na Região Metropolitana, o caso ainda não foi esclarecido pela Polícia Civil, apesar de a presidente do inquérito, a delegada Gleide Ângelo, ter prometido há mais de três semanas entregar os resultados da investigações em menos de 15 dias.

A primeira informação da polícia foi ter descartado a tese de que o laranja foi assassinado, no dia seguinte à morte dele.

O Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE) e o deputado estadual Edilson Silva (PSOL) reclamaram sobre as investigações estarem sendo conduzidas pelo órgão estadual, alegando que poderia haver interferência do grupo político do governador Paulo Câmara (PSB), afilhado político de Eduardo Campos.

A gestão nega influência e a Polícia Federal disse que só assumiria o caso se fosse detectada relação entre a morte e a Operação Turbulência.

Exames encontraram veneno conhecido como ‘chumbinho’ no corpo de Morato.