Trabalhadores de todo o Brasil vieram no rastro das obras de Suape – Foto: Igo Bione/Acervo JC Imagem A prestigiada consultoria econômica Ceplan, da economista Tânia Bacelar e sócios, acaba de concluir um alentado estudo sobre o desempenho da economia local no período 2005/2015 e prognósticos para os próximos anos.
O estudo foi realizado a pedido do LIDE Pernambuco e será publicado na íntegra pela Revista Negócios PE, em sua próxima edição.
Uma das principais conclusões do trabalho diz que a economia pernambucana vai continuar patinando em 2016 e 2017.
Nesse contexto, o mercado de trabalho em Pernambuco deve continuar registrando alto desemprego até 2017 (mantendo a taxa de desemprego próxima aos 10%) com uma população ocupada estimada em 3,6 milhões de pessoas (incluindo os informais). “O olhar para os próximos meses até o final de 2017 sinaliza para perspectivas não favoráveis para o emprego na economia estadual”.
Segundo o levantamento, O volume de desempregados está estimado em 542 mil pessoas no primeiro trimestre de 2016. “Em síntese, as informações mais recentes para o conjunto da atividade econômica mostram não somente a continuidade dos impactos negativos da crise nos primeiros meses de 2016, como o seu agravamento”.
O mercado de trabalho foi fortemente afetado pela crise econômica recente, pois nos anos pós 2014 se associam no Estado duas tendências.
A primeiera delas foi a finalização da implantação de um amplo bloco de investimentos com numerosas obras de empreendimentos produtivos, imobiliários e de infraestrutura.
Depois, teve ainda o aprofundamento da recessão na economia nacional atingindo a dinâmica do consumo, da produção e do investimento estadual.
No quesito emprego, observou-se a redução do ritmo das contratações para em seguida iniciar-se o movimento de demissões.
A taxa de desemprego começa a crescer significativamente no primeiro trimestre de 2015 e mantem trajetória ascendente nos meses iniciais de 2016.
No último trimestre de 2014 se situava nos 7,6%, no ultimo de 2015 passa para 11% e no primeiro trimestre de 2016 chega a 13,3% (um crescimento de 75% em pouco mais de um ano).
Nesse contexto, o emprego formal foi fortemente atingido pelo movimento recessivo.
A partir de 2015 o saldo entre os admitidos e os desligados começa a se apresentar negativo, no acumulado em 12 meses.
Em resumo, entre dezembro de 2014 e maio de 2016 a economia pernambucana queimou 149 mil empregos formais, o que representou 5,8% do total nacional, quando o PIB de Pernambuco pesa 2,6% do total nacional e 3,6% do total do emprego formal do país.
Paulo Câmara Foto: Roberto Pereira/SEI De acordo com o estudo, o Governo de Pernambuco perdeu substancial capacidade de investimento, especialmente em 2014.
Relativamente às finanças públicas estaduais, as receitas e despesas apresentam, como outras variáveis econômicas, uma desaceleração e um declínio em 2015.
Realce deve ser dado à redução da capacidade de investimento do Governo Estadual que, tanto do lado das receitas de capital (operações de crédito, entre outras) como da perspectiva das despesas de capital, especialmente no que diz respeito aos investimentos, registra uma redução dos valores apresentados bem mais intensos que os relacionados com os demais itens da receita e despesas.
Por sua vez os gastos com pessoal se mantiveram sob controle não ultrapassando os limites da LRF.
Destaque-se o crescimento do estoque da dívida bem como dos juros e encargos e ainda das amortizações únicos itens de despesa que cresceram em 2015.
A despeito de tal crescimento esses itens situaram-se dentro dos parâmetros definidos pela LRF tanto na comparação entre 2014 com 2015 quanto na comparação entre o acumulado de 12 meses até abril de 2015 com o acumulado até abril de 2016.
Dilma Foto: Roberto Stuckert Filho/PR O trabalho responsabiliza a presidente afastada Dilma por parte deste estrago. “As operações de crédito foram severamente restringidas pela União tanto em 2014 quanto em 2015, alegando-se para este último ano a necessidade de ajuste fiscal.
Em 2014, todavia, ano eleitoral, a restrição foi motivada por razões políticas devido ao não alinhamento do governo estadual com as pretensões de reeleição da Presidente agora afastada”, frisa o estudo. “A dívida consolidada líquida (DCL) do estado elevou-se de R$ 13,8 para 16,3 bilhões entre 2014 e 2015, um crescimento expressivo de 18,1% em apenas um ano motivada pela desvalorização do real para as dívidas em moeda estrangeira, e pela elevação da SELIC e da inflação para as dívidas em moeda nacional”.
No entanto, acrescenta o estudo, apesar das dificuldades fiscais o Estado de Pernambuco tem tanta capacidade de pagamento quanto de endividamento embora os juros e os encargos da dívida mais as amortizações tenham crescido nos últimos anos em contraposição aos demais itens de despesa.
Lava Jato e economia nacional PF Polícia Federal - Foto: Tânia Rêgo Agência Brasil “Pernambuco foi atingido pela crise de forma intensa devido a conjugação de três fatores: a exposição à crise nacional, a convergência da grande desmobilização de mão de obra empregada na implantação de nova infraestrutura e atividades produtivas com a fase descendente do ciclo econômico e aos efeitos da Operação Lava Jato sobre os setores emergentes da indústria naval e de petróleo e gás”, afirma. “No que se refere ao setor industrial, Pernambuco após a recuperação em 2010, quando registra crescimento de 8,8%, passa, nos anos seguintes, a alternar taxas de crescimento reduzidas com taxas negativas.
Além disso, o exame da evolução mensal de 2014 e 2015 mostra que nos meses que vão de maio de 2014 a dezembro de 2015 somente em três desses meses são registradas taxas positivas.
Nos meses restantes prevalece declínio dos níveis de produção”.
Receitas Relativamente às receitas públicas estaduais, o que se constata, é a sua redução, em termos absolutos.
De fato, fica evidente a partir de 2013 a queda das receitais totais, em valores reais, e a intensificação do seu declínio, desde 2013.
Se entre 2013 e 2014 a redução das receitas foi -2,7%, entre 2014 e 2015, tal redução alcançou -8,5%.
Para esse processo contribuem tanto as receitas correntes, a partir de 2014, quanto as receitas de capital, a partir de 2013.
Essas últimas apresentam um declínio significativo nos dois últimos anos da série.
Chama a atenção, nas receitas de capital, a redução ocorrida, a partir de 2013 nos valores apresentados.
De fato, de um total de R$ 4,4 bilhões (2013) passa-se para R$ 2,6 bilhões (2014) e para R$ 729 milhões (2015).
Essa queda deve-se essencialmente à redução das operações de crédito e das transferências da União que são realizadas por meio de convênios.
Por essa razão aumenta, entre 2013 e 2015, a participação das receitas correntes no total das receitas com o correspondente declínio das receitas de capital.
Tanto o declínio na arrecadação do ICMS quanto do FPE deve-se à forte retração no nível de atividade econômica.
Queda nos investimentos “As despesas de capital, em relação a 2013, caíram substancialmente em termos absolutos e relativos.
Essas despesas são financiadas com operações de crédito, receitas de privatização e transferências voluntárias da União, entre outras fontes de menor importância.
Como essas fontes de recursos se estreitaram rapidamente durante o período, como já foi visto acima, não poderia ser outro o impacto sobre as despesas de capital.
Destaca-se a queda nos investimentos tanto em 2014 quanto em 2015.
Neste último ano os investimentos caíram 60,8%.
As inversões financeiras também apresentaram variações significativamente negativas nos mesmos anos.
A queda nos investimentos públicos de origem estadual compromete a implantação e expansão de infraestrutura econômica e social tão necessária para revitalizar a economia.
As indicações anteriores mostram que a desaceleração e o declínio da economia comprometeram significativamente a capacidade de investir do governo a partir de 2013, tanto da perspectiva do financiamento (receitas), quanto da perspectiva dos gastos”.
Municípios As transferências aos municípios também declinaram em 2015, como reflexo da queda na arrecadação do ICMS.
Os municípios receberam, em termos reais, 4,6% menos recursos da cota-parte do ICMS em 2015 do que em 2014.
Some-se a este fato a queda nas transferências federais relativa ao Fundo de Participação dos Municípios para se deduzir que a situação fiscal dos municípios se deteriorou rapidamente durante o último ano.
Instabilidade nacional / Governo Temer Foto: Beto Barata/PR O ambiente econômico e político nacional continua impregnado de instabilidade e os sinais emitidos apontam para uma fase onde ajustes e reformas tendem a predominar, preparando um momento futuro de retomada que não se firmará no horizonte de 2017.
No cenário mais provável a retomada do crescimento fica para 2018.
No caso de Pernambuco, a Ceplan estima que em 2016 o PIB estadual ainda terá redução próxima aos 3% e em 2017 ainda amargará queda no entorno de 0,5%, tendendo a apresentar resultado positivo em 2018 (aumento estimado de 1,5%).
Nesses próximos meses, o Brasil deve experimentar mudanças no seu ambiente institucional e uma das reformas previstas atingirá o mercado de trabalho, tendendo a ampliar as terceirizações e alterar as regras de negociação.
As tendências do emprego, portanto, serão mais nítidas em 2018.
Comércio Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem A evolução do comércio pernambucano, avaliada através do volume das vendas do varejo ampliado, que inclui além do varejo tradicional as vendas de veículos e da construção civil, mostra que o nível de atividade apresentou taxas positivas até o penúltimo ano da série, registrando em 2015 um declínio maior que o constatado no Brasil.
Os serviços passam a registrar taxas negativas em 2014, ampliando o seu declínio no último ano da série.
As taxas mensais de crescimento dos serviços, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, apresentam, nos anos 2014 e 2015, não só a prevalência de taxas negativas como o aumento do declínio do nível de atividade com o passar dos anos.
O escopo do trabalho A análise da Ceplan concentrou-se na evolução da economia nacional e no exame da repercussão dessa trajetória na economia estadual.
O trabalho aponta duas fases do ciclo de longo prazo vivido pela economia nacional: a de expansão que vai de 2005 a 2010 e a de desaceleração de 2010 a 2015.
O exame realizado no contexto nacional mostrou nos anos 2010-2015 um intenso processo de desaceleração e declínio da atividade econômica que se acentuou a partir de 2014.
Considerando-se o componente da oferta no exame da trajetória do PIB constata-se que o produto dos dois setores econômicos mais importantes ou estagnou em 2014 e declinou em 2015 (setor serviços) ou registrou declínio nesses dois últimos anos (setor industrial).
Levando-se em conta os componentes da demanda, chama a atenção a queda do consumo das famílias de -4% e a da formação bruta de capital (investimentos) de-14,1%, no último ano da série.