O vice-prefeito Luciano Siqueira (PCdoB), pré-candidato a vice na chapa de Geraldo Julio (PSB), afirmou em entrevista ao Portal Vermelho que o seu partido rompeu com o PT nas últimas eleições por causa de uma crise profunda que os petistas viveram. “O PCdoB mantém ótimas relações com o PT no Recife”, disse. “Porém, após três anos e meio de participação ativa na coalizão que governa a cidade, não faria sentido abandonar a coalizão e passar para o lado oposicionista, acrescentou.
Leia a entrevista completa: Vermelho - Às vésperas das convenções partidárias desenha-se no Recife uma coalizão muito ampla e heterogênea. É possível a unidade dessa coalizão sabendo-se que em relação à crise política nacional as opiniões entre os vinte partidos que a compõem são divergentes?
Luciano Siqueira – Sim.
A prática desses três anos e meio da atual gestão liderada pelo prefeito Geraldo Julio o tem comprovado.
Num ambiente de respeito às diferenças e de tolerância a unidade se dá em torno do programa de governo para a cidade.
Vermelho - A possível coincidência da votação do impeachment no Senado em agosto não interferirá no ambiente político dessa coalizão?
LS – Creio que não.
Os partidos que a integram fizeram diferentes opções nas eleições presidenciais, assim como, se comportaram de modo discrepante diante do impeachment e isso em nada alterou as relações mutuamente respeitosas e convergentes no governo.
Não será agora, em plena campanha, que isso venha a mudar.
Vermelho - Em âmbito nacional, PCdoB e PT mantêm uma aliança que vem desde 1989.
Por que no Recife essa aliança não se repete?
LS – Em razão da crise interna profunda que o PT viveu então, essa aliança já não se repetiu em 2012.
O PCdoB mantém ótimas relações com o PT no Recife, porém, após três anos e meio de participação ativa na coalizão que governa a cidade – onde pontificam o vice-prefeito e os titulares das secretarias de Meio Ambiente e Sustentabilidade e de Esportes, além da direção do IASC (Instituto de Ação Social e Cidadania) – não faria sentido abandonar a coalizão e passar para o lado oposicionista.
Sobretudo, porque construímos juntos o programa de governo, que no fundamental vem sendo implementado com êxito.
Vermelho – Mas, setores do PT criticam o PCdoB no Recife por estar aliado a um partido, o PSB, cuja maioria dos seus parlamentares votou a favor do impeachment.
LS – A crítica é um direito democrático.
Cada partido tem a sua opinião.
Mas, a meu ver, o argumento não tem consistência, pois estamos aliados ao PSB no Recife em torno de um projeto para a cidade e a eleição é municipal.
Demais, o próprio PT acaba de anunciar aqui uma aliança privilegiada com o PRB, partido cujos deputados federais votaram fechados pelo impeachment e participa com destaque do governo Temer.
Vermelho - Até recentemente a imprensa local noticiou a pretensão do PMDB em indicar o vice de Geraldo Julio, alegando inclusive que a presença do PCdoB na chapa poderia causar desconforto na coligação…
LS – É verdade, os jornais noticiaram isso durante algum tempo.
Vejo como natural um partido da coalizão aspirar ao posto de vice-prefeito.
Mas, em condições normais, essa é uma escolha do titular da chapa, que considera os muitos aspectos de ordem política e também o critério da confiança pessoal.
Sinto-me honrado por ter sido escolhido pelo prefeito Geraldo Julio para mais uma jornada de luta.
Leia artigos de Luciano Siqueira para o Blog de Jamildo: » Para além de um samba curto » Pulverização parlamentar e reforma » Uma solução democrática Vermelho – Falava-se em dificuldade de relacionamento entre o PCdoB e o PMDB…
LS - Os argumentos e fatos veiculados pela imprensa não tinham aderência na realidade.
O PCdoB jamais causou desconforto a aliados, nem eu, pessoalmente.
Mesmo quando participamos de alianças em confronto aberto com o PMDB aqui no Recife, pondo em lados opostos Miguel Arraes e Jarbas Vasconcelos, nós do PCdoB e eu, em particular, aliados de Arraes e do PSB, jamais deixamos de manter relações cordiais com o PMDB e seu líderes.
Inclusive, com o deputado Jarbas Vasconcelos e com o atual vice- governador, meu amigo Raul Henry.
Nem é verdade que eu costumo chamar deputados de “golpistas” porque votaram pelo impeachment.
Afirmo, que o impeachment, no que tange à observância da Constituição, é um golpe, pois a presidenta Dilma não cometeu crime de responsabilidade.
Mas, não ataco deputados e senadores.
Nunca fiz isso durante toda a minha vida militante, não é do meu jeito de ser.
Também é falsa a informação de que militantes do PCdoB teriam pichado com frases depreciativas a residência do deputado Jarbas Vasconcelos.
Vermelho - Olinda e Recife são duas cidades muito interligadas.
Em Olinda, o PSB tem candidatura própria e combate o PCdoB.
Em que medida esse fato interfere na aliança entre PCdoB e PSB Recife?
LS – Não interfere.
Preferíamos que o PSB mantivesse a aliança conosco em Olinda, assim como o PT, que lá atua ao lado do PCdoB há quase dezesseis anos.
Mas, respeitamos a opção de ambos terem candidatos próprios.
Vamos tentar eleger Luciana Santos numa campanha elevada, sem hostilizar os candidatos do PSB e do PT, tratando-os como concorrentes e não como adversários.
Vermelho – Para o PCdoB, então, o Recife é uma situação considerada excepcional?
LS – Não. É uma situação comum, perfeitamente sintonizada com a linha geral do PCdoB, que considera a pluralidade de alianças em todo o país, de acordo com a dinâmica política de cada cidade e tendo em conta que o foco das eleições está na cidade.
O pleito não é “nacionalizado”.
Estou certo de que, apesar das diferenças, a Frente Popular parte unida para a luta eleitoral que se aproxima, pois, além do apoio da população do Recife, conta com a contribuição de quadros experientes, como o vice-governador Raul Henry e o deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB); do deputado federal e secretário estadual André de Paula (PSD); do próprio PSB; do PDT; e dos demais partidos que integram a Frente.
Vermelho - A Frente Popular do Recife considera a hipótese de um segundo turno?
LS – Toda eleição no Recife é dura, acirrada.
Quando se vence no primeiro turno é sempre por uma margem apertada.
Lutaremos para vencer no primeiro turno, mas, obviamente, temos que considerar a hipótese de um segundo turno.
Isso, inclusive, nos remete a uma condução tática da campanha firme, esclarecedora e, ao mesmo tempo, equilibrada, serena, evitando queimar pontes para alianças num hipotético segundo turno.
Vermelho - Como a Frente Popular pretende sensibilizar um eleitorado em sua maioria apático e descrente da política?
LS – O ambiente do pleito ainda está em formação e é uma hipótese plausível a apatia de parcelas expressivas do eleitorado.
Entretanto, o debate sobre a situação atual e os rumos da cidade sempre haverá de despertar o interesse da maioria.
A cidade é a extensão do nosso lar, dizem os urbanistas.
E a Frente Popular tem muito que apresentar, o conjunto da obra do governo Geraldo Julio muda significativamente a vida de boa parte de nossa população – e isso sensibiliza e emociona.
Realizações como o Hospital da Mulher o Programa de Robótica nas Escolas (que já beneficia mais de 70 mil alunos da rede municipal) – só para dois citar dois exemplos – têm grande aceitação entre a população.
Além disso, faremos uma campanha propositiva, em tom elevado e ao mesmo tempo leve e criativa, para reafirmar a esperança e confiança do povo do Recife.
Vermelho - Que legado o atual governo deixa para a cidade?
LS – Como disse, o programa de governo vem sendo executado com êxito.
Justamente por ter mantido um saudável ambiente de respeito às diferenças e de busca de unidade em torno do programa, Geraldo Julio já ostenta um legado muito importante: não se deixou vencer pela crise geral do país e pela enorme restrição de recursos dela decorrente; manteve os objetivos programáticos da gestão, reduzindo apenas a dimensão das metas; destinou mais de 80% (oitenta por cento) de toda a execução orçamentária – ações, programas, novos equipamentos, etc. – para a maioria da população, precisamente a grande maioria que sobrevive do seu salário e se submete a graus variados de vulnerabilidade.
Na história recente do Recife, nunca se fez tanto em tão curto espaço de tempo em favor da população que mais necessita.
Vermelho – Em que um segundo mandato de Geraldo Julio poderá avançar?
LS - Poderá avançar muito, apoiado na experiência e nas realizações acumuladas.
Poderá, inclusive, concretizar um dos seus legados mais importantes: a retomada do planejamento como “fio da história” na gestão da cidade.
Um conjunto de planos estruturantes do funcionamento e da vida da cidade – entre os quais, destacadamente, o Parque Linear do Capibaribe / Caminho das Capivaras -, englobados no projeto Recife 500 anos nos darão as linhas seguras para seguir avançando.
O Recife 500 anos será o desenho da cidade que queremos no futuro, iluminando as escolhas do presente.
Vermelho – Por que “fio da história”?
LS - Porque a cidade do Recife, ao lado do Rio de Janeiro, nos anos 1920 e 1930 do século passado, foi pioneira do planejamento urbano.
Depois, Pelópidas Silveira, nos 1950, e Miguel Arraes, no início dos anos 1960, deram passos adiante.
Depois isso se perdeu sob o imediatismo como fruto da pressão das demandas emergenciais.
Planos até foram feitos, porém, sem a participação da sociedade e sem concretude.
Geraldo retoma o fio condutor de Pelópidas e de Arraes.
Vermelho - Como o PCdoB encara as eleições para a Câmara Municipal?
LS – O PCdoB pretende eleger uma bancada de vereadores e vereadoras.
Nós nos orgulhamos do mandato do vereador Almir Fernando, um líder popular autêntico, incansável lutador ao lado do povo da Zona Norte da cidade.
Mas, pretendemos ampliar a bancada.
Disputaremos com chapa própria, uma chapa competitiva de homens e mulheres vinculados à luta do povo em várias áreas e segmentos da cidade, todos com história de luta comprovada.