Os relatórios de investigação da Polícia Federal, no bojo da operação Turbulência, apontam uma curiosidade da empresa fantasma Câmara e Vasconcelos, controlada pelo testa de ferro Paulo César Morato, um dos nomes citados na compra do avião de Eduardo Campos em 2014 e que apareceu morto em um motel em Olinda, no dia 22 de junho, um dia depois da deflagração da operação da PF de Pernambuco.
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Coincidência ou não, o endereço mudou depois do acidente. “Somente depois do acidente com Eduardo Campos e a exposição de seu nome na mídia seu endereço foi alterado para um empresarial no Recife”, registram os investigadores.
A Polícia Federal também descobriu, depois de diligências in loco, que no local informado funcionava outra empresa, de nome shift Comunicação.
Em agosto de 2015, dois meses de depor na Polícia Federal em Brasília, um ano depois do acidente, a Câmara e Vasconcelos Locação e Terraplenagem passa a se chamar Morato Locação e Terraplenagem Eireli. » Relatório do MPF e Policia Federal diz que João Carlos Lyra era ‘laranja’ de Eduardo Campos » Eduardo Ventola era beneficiário das contas da firma fantasma Geovani Pescados, que comprou avião de Eduardo Campos » Empresa de terraplenagem na Refinaria Abreu e Lima é o elo entre esquemas da Lava Jato e Operação Turbulência Além da localização, a Polícia Federal também desconfiou das movimentações financeiras. a empresa tinha sede em Nazaré da Mata, mas a conta bancária e o grosso das movimentações ocorria no Bradesco de Piedade.
Não é só.
A PF descobriu ainda que um funcionário do Bradesco, naquele bairro, havia sido o beneficiário da emissão de títulos em valores expressivos.
Empregado do Bradesco desde 2008, o funcionário foi o terceiro beneficiário de recursos no valor de R$ 4,1 milhões provenientes de uma emissão de 24 títulos da empresa A.
M De Pneus, além de outros R$ 200 mil cobrados de títulos emitidos da empresa Tonimar de Araujo Pneus, apontadas as duas como fantasmas, por funcionar no mesmo endereço, onde na verdade fica a empresa America Farma.
Lagoa de Itaenga e Nazaré Paulo César Morato apresentava-se como único sócio igualmente da Câmara e Vasconcelos e Lagoa Indústria e Comércio.
Segundo a Polícia Federal, a empresa Lagoa Indústria, localizada na cidade de Lagoa de Itaenga, próxima a Nazaré e também na Zona da Mata Norte, era igualmente fantasma.
O endereço de funcionamento por ela declarado era, na verdade, um endereço residencial. na visita ao local, os agentes da PF constaram que o morador trabalhava com reparos de aparelho celular.
Os vizinhos do local afirmaram que eventualmente correspondência chegava naquele endereço, endereçados a Lagoa Indústria, mas nunca souberam da existência dela.
O maior empreendimento na rua da Lagoa Industria é um primeiro andar de casas.
Lagoa de Itaenga, localizada a 64 km do Recife, tem uma população de quase 22 mil pessoas que sobrevivem quase exclusivamente do cultivo da cana-de-açúcar e da pecuária. » Antes de morrer envenenado, PC Morato assumiu contas do esquema da Operação Turbulência como verdadeiras » Corpo de Paulo César Morato é enterrado em Barreiros » SDS confirma envenenamento de Paulo César Morato Até então pacata, a cidade, depois de ter seu nome inscrito na Operação Turbulência, os moradores parece que tiveram seus ânimos alterados, receosos, sigilosos, em falar sobre esse assunto, inclusive se esquivando quando indagados sobre suas opiniões.
As rodas de dominós e conversa nas praças públicas ainda são características do lugar, ali eles discutem, divergem, mas quando chega um estranho logo o papo muda de rumo.
A empresa Câmboa Cerâmica LTDA, um dos alvos da investigação da Polícia Federal, é um referencial de empregabilidade para os moradores da cidade.
Quase todos tem alguém da família que trabalhou lá ou prestou algum serviço.
Mais fantasmas e laranjas Não era só isto.
O endereço de funcionamento vinculado a empresa Lagoa Indústria, ao menos entre os anos de 2010 a 2013, era o mesmo de outras empresas investigadas na mesma operação, como a Câmboa Cerâmica Engenharia e Comércio (do empresário Eduardo Freire Bezerra Leite0 e a TECPRO locação e serviços, também indiretamente ligada ao chamado Eduardo Ventola.
A TECPRO realizou inúmeras operações suspeitas envolvendo outras pessoas investigadas na operação.
No entanto, a empresa TECPRO também era fantasma, segundo a PF.
Nas deligências da PF, ela constatou que não havia qualquer atividade empresarial no lugar, mas fez descobertas intrigantes para o caso. » Resenha Política debate, no NE10, Operação Turbulência e eleições 2016 » Delações de Trombeta e Morales denunciaram ‘delivery’ de dinheiro de João Carlos Lyra, no Recife » Operação Turbulência: em um mês, quatro empresários presos, um morto e muitas dúvidas A empresa, no papel, tinha como sócio majoritário Vlamir nogueira de Souza e Bruno Felipe Marques de Matos e Silva (com 1%) Vlamir Nogueira era dono, junto com sua esposa, Eliane Marques silva Nogueira de Souza, da empresa Happy House Gerência e Administração, que já teve como sócia uma pessoa chamada Severina Dinanci de Moura.
Severina Dinanci de Moura, também citada nas investigações, é a atual proprietária da M e M Admnistradora e Gestora de Bens, da qual Eduardo Freire Bezerra Leite já foi sócio. » Empréstimo de Eduardo Ventola para Alagoas liga Lava Jato a esquema em Pernambuco » Um ano antes de ser preso pela PF, Carlos Lyra Filho já era investigado pela PF, após delação de Paulo Roberto Costa e Youssef » Provas usadas na Operação Turbulência são de inquérito sobre suposta propina na campanha de Eduardo Campos em 2010 Bruno, o sócio minoritário, foi apontado pela PF nos relatos como laranja.
Além de possuir o mesmo endereço do casal Vlamir e Eliane, ele apresentou, de novembro de 201 a março de 2016, vínculo empregatício com a empresa extra Prestação de Serviços, onde recebia um salário mínimo. “Tal cenário não guarda compatibilidade com as altas movimentações financeiras verificadas na conta da sua suposta empresa”, diz a PF.