Ao menos um ano antes da deflagração da Operação Turbulência, em maio do ano passado, a Polícia Federal de Pernambuco teve a confirmação de que a empresa Câmara e Vasconcelos, apontada como pivô do escândalo de desvios de dinheiros em obras da transposição e refinaria da Petrobras, tinha como donos dois laranjas locais.
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Os dois associavam a empresa, até então desconhecida da PF, como uma das formas encontradas para repassar recursos aos políticos alagoanos Arthur Lira e Benedito de Lira, ambos do PP de Pedro Correia e Eduardo da Fonte.
O repasse de recursos, oriundo de desvios da Petrobras, ocorreram após a eleição de 2010, quando o deputado estadual Arthur Lira virou deputado federal e o pai dele, Benedito de Lira, então deputado federal, elegeu-se senador da República. » Supostos privilégios dos presos podem gerar crise interna no MPPE » Grupo de empresários da Operação Turbulência contrata assessoria de comunicação para rebater informações da PF » Empresário morto controlava três firmas fantasmas.
Empresa de fachada em Goiás irrigava esquema Quando foi esquadrinhar a Câmara e Vasconcelos, a Polícia Federal em Pernambuco chamou os pernambucanos Ernani Dias de Morais Filho e Hélio Dias de Morais, para depor.
Os dois depoimentos ocorreram no dia 25 de maio de 2015.
O auxiliar financeiro Ernani Dias Morais Filho, de Camaragibe, confirmou que havia sido sócio da empresa, mas apenas entre setembro de 2009 a agosto de 2012, a pedido do irmão, Hélio Dias de Morais.
Ernani disse a PF que o real dono da empresa era Paulo e que ele não sabia sequer o sobrenome dele (Morato). » Juiz viu indícios de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha para negar soltura de acusados » Advogado diz que acusado na Operação Turbulência é mantido preso para levar a delação » Justiça Federal decide manter na prisão mais dois dos cabeças do esquema da Operação Turbulência Da mesma forma, o laranja negou conhecer os repasses de Youssef e disse que nunca ouviu falar da M.
O.
Engenharia nem da Construtora Rigidez, duas das empresas de fachada que Youssef usou para encobrir o envio dos recursos.
Também disse que não conhecia Arthur Lira nem Benedito de Lira, muito menos que doações eleitorais da Câmara e Vasconcelos.
O sócio-laranja também disse que nunca havia conhecido João Carlos Lira Pessoa de Melo, outro dos alvos da Operação Turbulência e que Youssef havia apontado como agiota no Recife, ligado à Câmara e Vasconcelos.
O outro laranja ajudou a entender melhor o esquema da Câmara e Vasconcelos.
Hélio Dias de Morais, mecânico, com apenas o primeiro grau incompleto, dono de uma oficina na Madalena, no Recife, confirmou ter sido sócio da empresa investigada pela PF, mas disse que o verdadeiro dono era Paulo Cesar, de quem afirmou não saber nem o sobrenome.
Os dois se conheceram porque Paulo Cesar era cliente da oficina. » Operação Turbulência acha elo entre esquema local e operador uruguaio condenado na Lava Jato, por prestar serviços a Nestor Cerveró » Operação Turbulência descobriu quatro empresas fantasmas ligadas a Apolo Vieira, acusado pelo MPF em 2009 de fraudes de R$ 100 milhões com importação de pneus » Empresas fantasmas da Operação Turbulência funcionavam em distribuidoras de medicamentos e até central de bebidas Hélio Dias de Morais disse a PF que Paulo Morato pediu a ele e ao irmão Ernani para figurarem como sócios da Câmara e Vasconcelos porque Paulo Cesar estava com o nome sujo.
Em contrapartida, Hélio Dias de Morais receberia um pró-labore mensal.
Além da vantagem financeira, a firma também ficaria responsável pela manutenção dos caminhões que eram encaminhados por ele, em nome da Câmara e Vasconcelos.
Na apresentação realizada pela PF, no dia 21 de junho passado, o nome dos dois ex-sócios foram citados formalmente como laranjas, oficialmente pela PF.
Paulo César Morato, no mesmo dia, foi dado como foragido, tendo aparecido morto e envenenado no dia seguinte, 22 de junho, em um motel de Olinda.