Fernando Castilho, no blog da coluna do JC Negócios Eduardo Cunha sabia, desde que a Operação Lava começou a formular suas primeiras denúncias, que seu destino estava traçado.
A eleição para a presidência da Câmara foi, na verdade, a última cartada na esperança de Dilma Rousseff, Lula, Michel Temer, Renan Calheiros e quem mais pudesse ajudar a travar a operação e assim encontrar algum arranjo de o salvasse.
Ele realmente acreditava que podia escapar.
A vitória na Câmara Federal derrotando a chapa engendrada de última hora por Dilma e seus articuladores amadores foi o esforço para se cacifar na conversa.
Cunha tinha os exatos 267 votos que mostrou na votação do impeachment e com eles literalmente fez o diabo para se salvar.
Mas não foi suficiente.
E ele tentou de tudo para encontrar uma saída.
Até que se certificou de que estava perdido embora ainda tivesse um grupo de seguidores.
Agora se sabe que aceite do impeachment foi o gesto de escorpião que morre afogado picando o animal que aceita lhe atravessar o rio.
Dilma é para Cunha, o sapo que poderia lhe atravessar o rio.
Os dois morreram afogados num mar de corrupção.
O que a morte de Cunha, ou a sua renúncia à presidência da Câmara, prova é que o sistema é maior do que qualquer personagem.
O complexo institucional é maior e sempre acha uma porta de saída.
Por mais que se tenha dito que ele articulava para o mal; que exercia o poder extraordinário sobre 267 deputados que humilharam Dilma e o PT e que exercia um poder paralelo no Governo, no fundo Cunha era um gatuno periférico dentro do sistema de comando político que nunca o acolheu.
Como ele, a Câmara e o Senado estão cheios de exemplos ao longo da história.
De gente que adquire protagonismo, mas não ganha prestígio.
E ele nunca sentou na mesa principal como integrante.
Se esteve nela, foi como um eventual convidado.
Os caciques da Câmara e do Senado nunca chamaram Cunha para nada.
Ele só conseguiu se “respeitado” quando começou a juntar gente par se tornar líder do PMDB e depois do grupo do baixo clero que o elegeu.
Mas hoje, se a gente olha ao longo de sua trajetória, quando foi que Lula, José Dirceu e Palocci o chamou para alguma coisa?
Quando Fernando Henrique, Serre e Aécio o chamaram para alguma conversa.
Quando os caciques do DEM e do PPS jantaram com ele?
Ou mesmo quando foi que Temer, Renan, Jucá, Padilha e Geddel Vieira lhe consultaram para os assuntos centrais do PMDB?
O poder de Cunha existiu pela fragilidade de Dilma.
Ou se sua obtusidade córnea em termos de política.
Então, quando ele viu que não tinha com quem negociar (porque os seus interlocutores não mandavam na Lava Jato) ele foi cuidar de se proteger de alguma forma.
Ou ganhar algum tempo.
Sim, ele não contava com a ação do STF.
Nem nas suas noitadas com bebida cara em hotel de luxo no exterior ele achou que o STF faria o que fez.
Esse foi o ponto que ficou fora de suas maquinações.
Para Cunha, a Lava Jato poderia fazer o diabo, mas o STF (pelo rito das investigações) não o atingiria no exercício do mandato de presidência Câmara Federal.
Ele realmente achava que na presidência da Câmara nunca seria atingido.
Foi na decisão do afastamento da casa que a ficha caiu.
E Cunha viu que o STF tinha optado por um protagonismo que nunca existiu na República.
Como?
Se perguntou várias vezes o STF.
Afastar um presidente de um poder?
Isso nunca esteve na sua rota de ações protelatórias.
Foi em casa quando viu o número de vistas e telefonemas minguarem que percebeu no jogo que pensava estar ainda jogando apareceu a frase GAME OVER.
A renúncia foi só uma questão de tempo.
Nesta quinta-feira ele assinou a carta endereçada ao seu estafeta Waldir Maranhão.
Sem Lula, sem Dilma, sem Cunha e provavelmente sem Renan, em breve, Michel Temer vai continuar no poder.
Ou melhor, no comando das ações centrais do sistema.
Junto com os caciques dos grandes partidos ele sim tem o poder de comando.
E em algum lugar esse grupo vai repassar a trajetória de Cunha e rir de suas maquinações periféricas.
A vida continua.