Por Luciano Siqueira, especial para o Blog de Jamildo Que mil flores desabrochem e um milhão de escolas de pensamento possam se expressar.

A frase parece exagerada, mas cabe na atual situação do país - para que se busquem saídas para a crise mediante proposições factíveis e alicerçadas num grau possível de consenso entre as correntes políticas e os segmentos sociais comprometidos com a democracia.

Porque o debate é imprescindível.

A polêmica é necessária.

E o respeito às diferenças há que permear o confronto de ideias.

Entretanto, entre grupos mais ativos e de algum modo presentes na cena política o grau de sectarismo e intolerância é elevado.

Em parte, pelo incremento do preconceito e do ódio na esteira das manifestações assumidamente de direita.

E também, no campo à esquerda, pela extrema dificuldade de alguns em examinar a realidade em sua inteireza, reconhecendo - do ponto de vista político - a real correlação de forças.

Também à esquerda, a omissão diante de erros cometidos - que em nada contribui, salvo para bloquear a busca efetiva da superação das dificuldades.

Nesse cenário, aos partidos políticos costumeiramente chamados de “programáticos”, por ultrapassarem os limites de mera legenda para disputas eleitorais, se recomenda coerência e coragem cívica.

Sem nenhuma presunção, cá com meus botões de militante, ressalto o exemplo do PCdoB, que não abre mão da defesa firme de suas próprias opiniões e, ao mesmo tempo, dialoga ampla e indiscriminadamente com todas as forças políticas em presença - seja para cotejar respeitosamente projetos díspares e antagônicos, seja explorar as possibilidades de convergência ainda que parcial e pontual.

Isto porque, particularmente ao campo de forças que se vê em inferioridade, sob a ameaça de se consumar o impeachment da presidenta da República, com todas as suas graves implicações políticas, institucionais e sociais, cabe a tentativa de construir um pacto nacional que preserve a democracia.

Em outras palavras, um entendimento entre partidos e movimentos sociais e o ascendente movimento pela democracia e parcelas das forças neutras ou ora aliadas ao provisório governo Temer.

Fora disso, não há como superar a crise.

Pois se o Senado não consumar o impeachment, o retorno de Dilma ao cargo não significará a conquista das indispensáveis condições de governabilidade.

Ao contrário, seria a continuidade do impasse entre o Executivo e o Congresso Nacional.

Daí a expectativa em relação a uma possível mensagem da presidenta Dilma à sociedade brasileira comprometendo-se com a realização de um plebiscito destinado a aprovar a antecipação das eleições presidenciais.

Por tal caminho obviamente não se conseguirá estancar a crise e retomar o crescimento econômico da noite para o dia.

Mas se poderá restabelecer o contencioso acerca dos rumos do país mediado pelo voto popular.

Gradativamente se somam sinais favoráveis a essa proposta advindos de setores diversos, inclusive de forças perfiladas na oposição ao governo Dilma mas não comprometidas com o interino governo Temer.

Quem sabe ganhe corpo e se viabilize como solução democrática para o impasse político - apesar da relutância de grupos que se imaginam condenados aos limites do protesto e do ressentimento.