Por Jayme Asfora, em artigo enviado ao Blog de Jamildo Perdão.
Foi essa palavra usada no último domingo pelo Papa Francisco para falar sobre o que deveria ser feito pela Igreja em relação aos homossexuais, referindo-se, principalmente, à condição marginalizada que foi imposta aos gays durante séculos e que só contribuiu para a discriminação, o preconceito e, por consequência, a violência.
A histórica declaração do Papa acontece poucos dias antes da data de 28 de junho – quando se celebra o dia do Orgulho Gay e pessoas em todo mundo pedem o fim da homofobia que tantas vítimas ainda faz diariamente.
A história da data está relacionada ao dia 28 de junho de 1969, quando, cansados da repressão protagonizada pela polícia do estado de Nova Iorque, lésbicas, gays, travestis e todos aqueles que frequentavam um bar chamado Stonewall Inn, alvo de repetidas batidas policiais sem justificativa, resolveram não mais se calar diante e iniciaram uma grande rebelião.
Durante três dias, eles enfrentaram a polícia com pedras e garrafas como armas de defesa do movimento, tomaram as ruas armando barricadas e resistindo à violência estatal.
Um ano depois, mais de 10 mil pessoas marcharam pela cidade comemorando o primeiro aniversário da rebelião de Stonewall e exigindo respeito e seus direitos. 47 anos depois, a população homossexual (e LGBT em geral) ainda não conseguiu alcançar o respeito necessário para viver em paz e os assassinatos, humilhações, agressões várias e cotidianas, pior ainda, não cessaram.
Prova disso foi o que aconteceu na boate PULSE, em Orlando, onde 49 pessoas foram brutalmente assassinadas no último dia 12.
Um crime que tirou, de centenas de familiares e milhares de amigos, o direito de conviver mais e construir novas histórias com seus filhos, irmãos, primos, tios, companheiros de trabalho, de estudo.
O direito a um futuro.
Enfim, vidas que nunca mais serão as mesmas e que, com certeza, ficaram ainda perplexas, atônitas as mentes, se perguntando como o simples ato de amar pode gerar tanto ódio.
Muitas vezes, penso em como posso explicar a minhas filhas que pessoas morrem ou até mesmo se matam porque as outras não aceitam a sua forma de amar.
Como diz o psiquiatra Contardo Caligaris, como explicar por que uma pessoa - um adolescente por exemplo - se mata pra matar o próprio desejo que, os oprimidos, não podem revelar?
Nosso desafio é implodir tantos e tantos “armários”!
As novas famílias são uma realidade e, desde 2011, reconhecidas e protegidas formalmente pela nossa Constituição, conforme entendeu o Supremo Tribunal Federal em decisão de inflexão louvável e inesquecível!
Consciente de já vivermos essa realidade, escolhi uma escola pra matricular minha filha na qual, em maio e agosto, são festejados os dias da família.
Não há dia do pai ou dia da mãe.
Onde cada criança se sente incluída, tenha ela apenas uma mãe, dois pais, duas mães, um pai, apenas tios, etc.
Dessa forma, acredito, essas crianças sempre vão se sentir pertencentes, acolhidas numa verdadeira família, seja de que tipo for.
Afinal, como diz o Ministro Luiz Barroso, a família verdadeiramente é formada por afetos.
Por isso, que nesse 28 de junho, Dia do Orgulho Gay, torço e peço que todos façamos uma reflexão profunda sobre qual mundo queremos deixar para nossos filhos?
Se queremos o mesmo que existe há 47 anos, responsável pelas batidas em Stonewall ou pelas mortes na PULSE, ou se queremos uma sociedade que aprenda a viver com o diferente de forma fraterna e igualitária.
Amando os diferentes.
Vendo beleza nisso.
Se não ensinarmos tudo isso hoje, as lágrimas não cessarão no porvir. É urgente lutar diariamente, cada um da sua maneira, porque 2011 não é tão distante assim.
Pois é!
Até hoje, mesmo depois de nossa Corte Suprema ter dado esse largo passo, ainda se tenta “reverter” a decisão das mais diversas formas.
Distorcendo-a.
Mentindo sobre ela.
Interpretando-a com clara e evidente má fé.
Precisamos trabalhar para que todos entendam que amar nunca será um crime.
Como diz Caetano: Eles se amam de qualquer maneira, à vera Eles se amam é pra vida inteira, à vera Qualquer maneira de amor vale o canto Qualquer maneira me vale cantar Qualquer maneira de amor vale aquela Qualquer maneira de amor valerá *Jayme Asfora é vereador do Recife