Estadão Conteúdo - A Polícia Federal e a Procuradoria da República descobriram que o fundo Consist - cujo mentor e beneficiário maior teria sido o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento/Governo Lula e Comunicações/Governo Dilma) - continuou operando mesmo depois da deflagração da Operação Pixuleco II, em agosto de 2015, quando foram presos um lobista e um advogado sob suspeita de serem os operadores do esquema de desvios milionários sobre empréstimos consignados.

Paulo Bernardo, preso na quinta-feira (23) na Operação Custo Brasil, deixou o governo Dilma em 2015.

A investigação mostra que, mesmo depois da saída dele do Ministério das Comunicações, o fundo Consist ainda se mantém ativo.

LEIA TAMBÉM » PF prende ex-ministro Paulo Bernardo, marido da senadora Gleisi Hoffmann » Michel Temer diz que prisão de Paulo Bernardo é ‘fato doloroso’ “Há indícios de que havia uma permanência da organização criminosa e, mesmo após cessarem os cargos públicos esse esquema ainda se mantém em diversos locais, uma gama de contratos ainda está em vigor e diversas pessoas têm uma força política grande”, declarou o procurador da República Andrey Borges de Mendonça, da força-tarefa da Operação Custo Brasil.

Deflagrada na quinta-feira, a Custo Brasil culminou com a prisão do ex-ministro e de mais dez investigados por suposto desvio de R$ 100 milhões no âmbito dos consignados. » Bancada do PT no Senado acusa PF de abuso de poder por prisão de Paulo Bernardo » Líder do PSDB no Senado critica ação da PF que prendeu Paulo Bernardo Na sexta-feira (24), o procurador defendeu a manutenção da ordem de prisão preventiva de Paulo Bernardo. “Além de casos de tentativa de obstrução da investigação, o Ministério Público Federal entende que a prisão, embora medida excepcional, se faz necessária para neutralizar esse risco, seja de reiteração, seja de novas condutas fraudulentas.

E mais: esse valor (desviado) tem que ser recuperado.

A finalidade do processo penal também é recuperar o patrimônio obtido ilicitamente.

Essa é uma finalidade do processo penal e a aplicação da lei penal, nesse sentido, é de recuperar parcela desses valores.” Quando aponta “casos de tentativa de obstrução da investigação”, o procurador da Custo Brasil se refere ao detalhe de que, após a Pixuleco II, que prendeu o ex-vereador do PT de Americana (SP) Alexandre Romano, o Chambinho - suposto lobista da organização criminosa que desviou R$ 100 milhões dos consignados, dos quais R$ 7,1 milhões teriam sido destinados ao ex-ministro -, houve registros de “atitudes fraudulentas para induzir em erro a Justiça”.

Naquela mesma ocasião, agosto de 2015, foi alvo de buscas o escritório do advogado Guilherme Gonçalves, em Curitiba, apontado como repassador de propinas a Paulo Bernardo e pagador de contas eleitorais da senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR), mulher do ex-ministro.

A petista é investigada no Supremo Tribunal Federal (STF), Corte máxima que detém competência para processar políticos com foro privilegiado. » Resenha Política comenta Operação Turbulência e Custo Brasil » Empresário preso na Operação Custo Brasil já foi ligado à FPF » Empresário preso na Operação Custo Brasil tentou ser prefeito no interior de Pernambuco A Consist é uma empresa de software que fez acordo com entidades contratadas pelo Planejamento na gestão de Paulo Bernardo, em 2010.

Cabia à Consist gerenciar o dinheiro emprestado por milhões de servidores públicos. » Operação Custo Brasil prende empresários no Recife » Ex-tesoureiros do PT também são alvos de mandados de prisão na Operação Custo Brasil Segundo o procurador da República Andrey Borges de Mendonça, que integra a força-tarefa da Custo Brasil, foi verificada a simulação de contratos de serviços após o desencadeamento da Pixuleco II.

O plano seria tentar conferir uma aparência de legalidade a transferências de valores sob suspeita. “Houve atos nesse sentido, de tentar simular uma prestação de serviços”, declarou Andrey Borges.

O procurador reafirmou os motivos do decreto de prisão preventiva do ex-ministro do Planejamento. “O esquema permaneceu durante mais de cinco anos.

Não era um esquema isolado, um ato isolado.

Era um esquema permanente e estável em que havia recebimento de valores altos, valores milionários.

Em alguns casos, isso não se aplica a todos, se verificou atitudes fraudulentas para induzir em erro o juízo, como por exemplo por meio da simulação de contratos de serviços após a deflagração da Pixuleco II, em agosto de 2015.

Houve atos nesse sentido de tentar simular uma prestação de serviços”, declarou Andrey Borges na sexta-feira, após audiência de custódia de Paulo Bernardo e de outros alvos da Custo Brasil. » Senado pede ao Supremo que anule buscas em apartamento de Gleisi » Senado retoma discussão do impeachment, mas Gleisi Hoffmann não aparece para defender Dilma Na audiência, Paulo Bernardo afirmou que “não recebeu nenhum centavo desse esquema”.

Ele contestou o recebimento de valores.

Seus advogados argumentaram que “não há” motivos para que o ex-ministro permaneça preso.

Mas o Ministério Público Federal e o juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6.ª Vara Federal Criminal em São Paulo consideram que os indícios contra Paulo Bernardo são fortes e suficientes para que ele seja mantido em custódia.