Estadão Conteúdo - Na tentativa de segurar a base aliada, o presidente em exercício, Michel Temer, está se vendo obrigado a preencher alguns cargos de segundo e terceiro escalões, o que só esperava fazer após a aprovação do projeto de lei que restringe as nomeações políticas nas estatais. É o caso da Companhia Brasileira de Alimentação (Conab) que deverá ser liberada já na semana que vem para o PTB.
Como esta, outras indicações devem ser publicadas no Diário Oficial para tentar acalmar a base aliada no momento em que a Operação Lava Jato avança sobre o Palácio do Planalto e gera instabilidade política no Congresso.
Irritados com a demora nas nomeações no segundo e terceiro escalões, deputados e senadores da base aliada prometem dificultar as votações na Câmara para pressionar o governo Temer a agilizar essas indicações.
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Temer tem se empenhado no atendimento não só aos líderes, mas individualmente aos parlamentares que apoiam o governo, em um gesto para tentar compensar esta insatisfação.
No entanto, a demora na votação do PL das estatais no Senado atrapalha seus planos porque, a cada dia que passa, a pressão aumenta.
Uma pequena rebelião, contudo, já está sendo desenhada.
Deputados prometem começar a atrapalhar as votações já na próxima semana, quando está prevista a análise de duas matérias econômicas importantes: a medida provisória que amplia de 20% para 49% a participação de empresas estrangeiras no capital companhias aéreas brasileiras e lei que altera as regras de administração dos fundos de pensão.
A votação das propostas está prevista para segunda e terça-feira (20 e 21).
No resto da semana não haverá sessões, por conta do acordo para as tradicionais folgas para festas juninas.
Para esta primeira semana, a estratégia dos parlamentares insatisfeitos é faltar nos dias previstos de votação, para que não haja quórum suficiente. » Machado reafirma em nota que Temer solicitou doação para campanha de Chalita » Sílvio Costa vai apresentar requerimentos para confirmar se Temer encontrou Machado » Temer amplia tom contra Sérgio Machado e diz que acusação é irresponsável, leviana, mentirosa e criminosa » Machado aponta Temer, Sérgio Guerra e outros políticos em propinas da Transpetro CENTRÃO - A principal reclamação do atraso nas nomeações vem de deputados do Centrão - grupo de cerca de 220 parlamentares de 13 partidos liderados por PP, PSD, PR e PTB e principal base de sustentação de Temer na Casa. “Desde a semana passada já há deputados esticando a corda, não querendo votar as matérias para pressionar o governo a nomear”, conta um parlamentar do PP.
Segundo ele, a base está “a ponto de explodir”, pois tem sido bastante cobrada por seus aliados locais sobre as nomeações.
Deputados afirmam que a principal cobrança tem sido pelas nomeações de órgãos federais nos Estados, como diretorias do Incra e Iphan.
Há também cobranças por cargos em secretarias de ministérios e diretorias de bancos públicos, como Caixa Econômica e Banco do Brasil.
Temer está sendo pressionado até mesmo a fazer uma reforma ministerial para poder fazer um aceno ao Centrão.
Mas, segundo interlocutores, a ideia do presidente em exercício é só promover mudanças na Esplanada caso Dilma Rousseff seja definitivamente afastada da Presidência da República. » Centrão já discute sucessor de Eduardo Cunha na Câmara » Planalto e Centrão tiram apoio a mandato de Eduardo Cunha Além da pressão dos parlamentares, Temer ainda enfrenta inúmeros problemas políticos por conta das delações envolvendo ele mesmo e a figuras importantes de seu partido, que acabou levando à queda de Henrique Eduardo Alves do Ministério do Turismo na quarta-feira (15).
Para não ficar refém da crise, Temer tenta montar uma agenda positiva, que inclui viagens pelo País.
Antes, na segunda-feira (20), por exemplo, o presidente em exercício se reúne com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para tratar da Agenda Brasil.
Ao mesmo tempo, marcou a reunião com governadores para tentar destravar a questão dos dívidas dos Estados.
Como a crise política está fora do seu controle, o presidente em exercício está focando em duas frentes: a economia e a social, para tentar resgatar confiança do mercado e da população.