Estadão Conteúdo - O ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Torquato Jardim, disse em entrevista concedida em 18 de maio, em Teresina, no Piauí, que não acredita que as investigações e condenações da Operação Lava Jato tragam mudanças concretas ao País.
Nas declarações, publicadas nesta quinta-feira (2), pelo jornal “O Diário do Povo do Piauí”, e cujo áudio foi obtido pelo jornal O Estado de S.
Paulo nesta sexta-feira (3) Torquato também diz que os partidos políticos brasileiros são “balcão de negócios” e que o Centrão, formado por 225 deputados de 13 partidos foi montado “em nome da corrupção e da safadeza”. “O que mudou com o impeachment de Collor?
O que mudou no Brasil depois da CPI do Orçamento, quando os sete anões foram cassados?
O que mudou com o mensalão?
O que vai mudar com a Lava Jato?”, questionou o ministro. “Enquanto o mensalão estava sendo condenado, a Lava Jato estava sendo operada.
Eles aconteceram ao mesmo tempo”.
LEIA TAMBÉM » Em posse, Temer pede a Torquato apoio para tirar o País de ‘crise extraordinária’ » Governo Temer anuncia Torquato Jardim para o Ministério da Transparência » “Objetivo do governo Temer era tornar obscura a transparência”, diz Dilma Ao ser questionado sobre as ações de combate à corrupção e o que ele imaginava que deveria ser feito para aumentar a eficácia dessas ações, Torquato respondeu com ironia e bom humor: “Se eu soubesse o que fazer, eu ganhava o Prêmio Nobel.
Ganhava o Oscar da Política.” As declarações foram dadas por Torquato durante o 6º Congresso de Ciência Política e Direito Eleitoral do Piauí, evento do qual foi palestrante, realizado no período entre 18 a 20 de maio em Teresina. À época, ele ainda não comandava o ministério da Transparência.
Torquato que é advogado e foi ministro do TSE, foi nomeado para a pasta da Transparência nesta quinta-feira, em substituição a Fabiano Silveira, que deixou a pasta após a divulgação de áudios de conversas nas quais ele discutia estratégias de defesa de investigados da Lava Jato.
As gravações foram feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que fez acordo de delação premiada com o Ministério Público já homologado pelo Supremo Tribunal Federal. » Ministro sugere que servidores sem identificação com Temer deixem cargos na antiga CGU » Após pressão, Fabiano Silveira pede demissão do Ministério da Transparência Ao falar sobre o sistema político brasileiro, Torquato disse que no País, “partido político é um balcão de negócios todos com o mesmo programa, com o mesmo propósito”.
E deu como exemplo o chamado ‘Centrão’, bloco na Câmara formado em meados de maio por 225 deputados e 13 siglas (PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, Solidariedade, PHS, PROS, PSL, PTN, PEN e PTdoB).
Para o ministro, o grupo de parlamentares “é um vexame triste para a cidadania brasileira em que o baixo clero se reúne contra o presidente Michel Temer.
E não é em nome da governabilidade, é em nome da corrupção e da safadeza.” Para ele, as medidas contra a corrupção não surtem o efeito esperado porque os envolvidos nas denúncias nem sempre são punidos pelo eleitor. “Vivemos num País em crise.
Não sei qual a esperança que temos.
O Brasil vive da ração e não da razão.
Qualquer programinha social onde se distribua bônus disso, bônus daquilo, se ganha a eleição”, afirmou. » “Objetivo do governo Temer era tornar obscura a transparência”, diz Dilma “O Brasil tem que sair da ração para chegar a razão.
O Brasil tem que sair da senzala para chegar a Casa Grande.
Quando isso acontecer, se muda a história”, completou Torquato. “Se há esperança?
Não sei.
O Brasil tem que ressurgir.
Temos que descobrir o que é ser brasileiro.
Nós somos Estado, antes de sermos uma sociedade civil”, declarou.
O ministro confirmou que concedeu a entrevista e o conteúdo de suas afirmações em Teresina.
Torquato, no entanto, não quis comentar as declarações nem respondeu a perguntas enviadas pela reportagem do Estado sobre o ceticismo em relação aos efeitos da Lava Jato ou sobre considerar os partidos políticos “balcão de negócios”.
RESPOSTA - Líderes do chamado “Centrão” reagiram com indignação às declarações do novo ministro. “Prefiro ficar calado do que responder idiotice.
Idiotice não se responde”, afirmou o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), um dos principais articuladores do Centrão.
Para o parlamentar goiano, o novo ministro tem o dever de explicar sua declaração. “Temos certeza que fazemos política da melhor qualidade, centrada na responsabilidade ética e democrática”, disse. » Após polêmica com ministro, chefes regionais do Ministério da Transparência colocam cargos à disposição e servidores protestam » Ministro da Transparência é citado em novas gravações, mas nega irregularidades Para o líder do PSD na Câmara, deputado Rogério Rosso (DF), a declaração do novo ministro da Transparência é um “absurdo”. “Trata-se de uma acusação gravíssima que, caso tenha ocorrido, ele precisará provar o que disse”, afirmou.
O parlamentar disse que irá entrar em contato com os outros líderes do Centrão para tirar uma posição conjunta “desse absurdo”.