Um dia depois de o ministro do Planejamento do governo Temer Romero Juca (PMDB/RR) ter caído, após a revelação de diálogos comprometedores sobre a Lava Jato, a bancada do PT no Senado apresentou, na tarde desta terça-feira (24), uma representação junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo a instauração de um procedimento investigatório para apurar se o ex-ministro interferiu para obstruir a Operação Lava Jato e influiu para o afastamento da presidente Dilma Rousseff.

A peça também foi assinada por cinco outros senadores.

Os parlamentares petistas informaram ainda que irão pedir, nesta quarta-feira (25), a suspensão do processo de impeachment no Senado.

O senador Jucá foi flagrado sugerindo ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” representada pela Lava Jato, que investiga ambos.

A conversa foi gravada de forma oculta semanas antes da votação na Câmara dos Deputados que desencadeou o afastamento da presidente.

Humberto Costa (PT-PE), ex-líder do Governo Dilma no Senado, disse que os áudios divulgados pela imprensa deixam claro que o impeachment foi um evidente golpe, articulado somente para paralisar a Lava Jato. “Um processo declaradamente sujo, nascido de um acordão para golpear Dilma e colocar Michel Temer com fins escusos, não pode prosperar”, afirmou “Nós sempre alertamos para essa tentativa suja de ruptura da ordem democrática liderada por corrompidos no Congresso, com apoio vergonhoso da elite empresarial e de grandes meios de comunicação”, afirmou Humberto.

Os senadores pedem que Romero Jucá seja impedido de retornar ao cargo de ministro do Planejamento, do qual foi exonerado depois da divulgação dos áudios.

A representação solicita ainda que, mesmo retomando o cargo de senador, o ex-ministro interino seja impedido de frequentar lugares, ter contato com pessoas ou usar sua função de parlamentar para, de qualquer forma, tentar criar quaisquer obstáculos ao andamento da Operação Lava Jato.

A mesma postura não foi adotada pela bancada do PT com o ex-líder do governo Delcídio do Amaral, quando pilhado em uma tentativa de comprar o silêncio do delator Nestor Cerveró.

O PT somente passou a estigmatizá-lo depois que a Época revelou detalhes de sua delação premiada.

No Conselho de Ética do Senado, como vingança, toda a bancada do PT no Senado fechou questão por sua cassação, embora também use contra Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara dos Deputados, o argumento de que ele é movido por um desejo de vingança. “Não bastasse a gravidade em si de se ter um senador da República a operar, francamente, no sentido de lograr a obstrução da Justiça, ou, quiçá, a praticar tráfico de influência em face do que, potencialmente, poderia ser dito às autoridades pelo senhor Sérgio Machado, o que ainda se observa, prima facie, é a inominável forja de ambiência institucional e mobilização da opinião pública propícias a desestabilização e derrubada de um governo legítimo”, escrevem, em documento.

Humberto avalia que houve evidente desvirtuamento de finalidade do instituto do crime de responsabilidade. “Seria preciso submeter a Senhora Presidente da República à expiação, para que, amainada a ira cívica, se contivesse a sangradura do estamento político”, diz a representação.

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) reafirmou, nesta terça-feira (24), que as gravações divulgadas, de conversas suas com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, não contêm ilegalidade.

Ele disse que nesta quarta-feira vai apresentar sua defesa no Plenário.

Sobre a alteração da meta fiscal, em votação no Congresso, o senador afirmou que a proposta faz um ajuste realista das contas públicas.