Por Jamildo Melo, editor do Blog O afastamento de Dilma, nesta quinta-feira, por crimes de responsabilidade, no Senado, é o resultado de um conjunto de erros políticos e econômicos, além do desgaste natural de 13 anos de administrações do PT, no plano federal.
Os petistas repetiram à exaustão que seria golpe afastá-la porque havia sido eleita por mais de 50 milhões de votos, mas o fato concreto é que Dilma perdeu a legitimidade para governar o Brasil.
Na Câmara, Dilma já havia sido incapaz de ter ao menos 150 votos em um congresso de 513 parlamentares.
O placar final da votação foi 367 votos a favor e 146 contra o pedido.
Na área da economia, Dilma cometeu muitos erros que lhe ajudaram a perder o controle da condução do País.
Já na campanha eleitoral, mentiu aos brasileiros de forma irresponsável, fraudou números para passar a imagem de um Brasil cor de rosa (o que, oficialmente, justificou a aceitação do pedido de impeachment pelo Congresso), dos sonhos, tentando disfarçar uma crise iminente.
Ao assumir o segundo mandato, foi obrigada a enfrentar a realidade, gerando então a quebra da confiança e perda de credibilidade que ceifaram milhões de empregos.
O apetite intervencionista de Dilma, junto com sua inépcia gerencial, acabaram por arruinar estatais como Petrobras e Eletrobras, afugentando investidores.
A Refinaria Abreu e Lima está aí… Nos últimos meses, não restava dúvida sobre a importância de uma agenda de reformas para retomada da atividade econômica no País e a presidente Dilma chegou a propor um pacto nacional, depois de chamar a todos de golpistas.
Na área política, os dois maiores erros foram tentar substituir o PMDB, com a criação de partidos menores como PROS e PSD, além de ter chamado o ex-presidente Lula para ocupar um ministério na Esplanada.
A decisão mais recente trouxe a Lava Jato para dentro do Palácio.
A pá de cal foi dada por Rodrigo Janot, ao negar que ele tivesse direito a foro privilegiado e pudesse assumir o cargo de ministro da Casa Civil, na mesma semana de novas revelações de uma delação premiada da empreiteira Andrade Gutierrez.
A decisão mais antiga, de tentar acabar com a influência do PMDB, despertou a ira do aliado de primeira hora e deu força ao inimigo Eduardo Cunha, que venceu a disputa para o comando da Câmara dos Deputados.
A contradição ajudou a afundar o governo Dilma, pois Temer havia sido eleito como Dilma, na mesma chapa e era seu eventual substituto em caso de impedimento.
Interessava ao poder apresentá-lo como golpista.
Pelo lado de Temer, o PMDB insuflou a rejeição dela, com o balcão de emendas e cargos, que chegou a incluir até o Ministério da Saúde.
Até a virada do ano passado, o governo do PT havia sido muito eficiente em buscar uma polarização com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, denunciado na Lava Jato e já réu no STF por ter dinheiro na Suíça.
Era o malvado perfeito.
Desde que aceitou o pedido de impeachment, começou a ser usado como escada para catapultar uma imagem de Dilma injustiçada.
Além disto, o presidente Eduardo Cunha, do PMDB e aliado de Temer, estaria promovendo um julgamento político, fruto do ódio (de Cunha à presidente Dilma).
Já com Dilma, o discurso era de que, aos 18 anos, Dilma foi torturada nos porões da ditadura de 64 e não dedurou ninguém.
Não havia processo contra ela.
Assim, nos últimos 40 dias, era objeto de tortura por uma parte da elite brasileira.
Outra contradição que ajudou a afundar o governo Dilma foi a campanha contra o vice Temer, eleito como Dilma, na mesma chapa e seu eventual substituto em caso de impedimento.
Interessava ao poder apresentá-lo como golpista, como chegou a fazer Lula no Ceará.
Pelo lado de Temer, o PMDB insuflou a rejeição dela, com o balcão de emendas e cargos, que chegou a incluir até o Ministério da Saúde.
Na primeira fase, na Câmara, o ex-presidente Lula chegou a se isolar em um quarto de hotel em Brasília para tentar salvar Dilma, apesar de investigado pelo Ministério Público Federal e não contar com nenhum cargo oficialmente no aparelho estatal.
Lula será o principal beneficiário do impeachment de Dilma?
Caso não seja preso pela PF, ganhará dois anos e sete meses para fazer oposição, com a ajuda da CUT.
Na fase do processo em si, o governo Dilma também errou muito, em especial por apostar em falácias como instrumento de defesa.
Os aliados de Dilma bateram na tecla de que os governos anteriores fizeram pedaladas fiscais e nem por isso sofreram condenação ou advertência do Tribunal de Contas da União (TCE) por utilizar um mecanismo de contas.
O volume usado nas pedaladas pelo governo Dilma era incomparável e bilionário, usado para financiar os gastos públicos de forma irresponsável, como a tal nova matriz econômica e os recursos para a bolsa banqueiro do BNDES.
Dizer apenas que o dinheiro foi usado para pagar o bolso família não colou mais.
A operação Lava Jato também ajudou a acabar com o governo Dilma, com vários escândalos políticos e a deflagração de 28 fases.
Pesquisas mostram que a PF é a instituição melhor avaliada do País.
Para deslegitimizar o discurso das pessoas que pediam moralidade, os aliados de Dilma também espalhavam nas redes sociais que a Lava Jato seria estancada com a assunção de Temer.
Em discurso recente, o próprio Temer prometeu que não iria fazer nada nesta linha.
Talvez até mesmo porque não pode.
O Judiciário deve ser livre para investigar e punir.
O juiz Sérgio Moro, de Curitiba, venceu os petistas, Lula e Dilma porque restabeleceu a esperança em dias melhores, sem mentiras, sem disfarçatez, sem irresponsabilidade fiscal.
Nenhum partido poderia vencer tal quebra de braço.
Não era mais possível enganar os incautos com o nós contra eles.
Contra o MPF e a Justiça, Lula e seus aliados não podiam dizer que Moro trabalhava pelas elites pois começou o seu trabalho mandando prender os maiores empresários do Brasil.