por Roberto Numeriano A cena triunfal do golpe de Estado em curso não será ainda a deposição da presidente Dilma pelos usurpadores da Casa-Grande.
Quando as panelas dos inocentes úteis e hipócritas morais / políticos ressoarem (sobretudo nos terraços de apartamentos milionários de Boa Viagem e Casa Forte, no caso da nossa província), restará Lula no palco desse espetáculo grotesco e sinistro, que envergonha a nação aos olhos das democracias liberais, de juristas estrangeiros, dos acadêmicos e jornalistas éticos e imparciais, e dos cidadãos legalistas e democratas.
Depois da chacina da presidente da República, será necessário matar (aprisionar) e esquartejar (tornar inelegível para 2018), o velho fantasma chamado Lula.
O novo ato dessa peça de horrores já foi anunciado pela bruxa de Macbeth à boca da ribalta: trata-se da canhestra e diversionista acusação de Janot contra Lula.
Sempre na linha de indícios sobre os quais (como já fez o parcial e arbitrário juiz Moro para construir suas “convicções”), nunca se prova nada.
Fosse o acusado o ex-presidente Fernando Henrique (golpista-mor que está negociando para o PSDB seu quinhão no crime de lesa-democracia), tenham certeza que tais “indícios” seriam desconsiderados, e o agente que os levantou levaria uma advertência na sua folha funcional.
O depoimento da ex-amante de FHC (que desdisse todas as acusações contra o antigo amor de sua vida), explica tudo.
Claro: o amor verdadeiro tudo perdoa…
A Procuradoria-Geral da República de Janot compõe mais um elo na cadeia de eventos destes tempos onde o mal, a mentira, a traição, a infâmia e a covardia saltaram de suas cavernas infernais e assumiram a condução política do país.
Nem refiro, aqui, má-fé intencional no sortilégio da bruxa de Macbeth: Lula deve ser preso porque foi / é o assenzalado maior que ousou um dia sentar na poltrona onde sempre se refestelaram os nobres traseiros da Casa-Grande. É algo do imaginário simbólico de nossas reacionárias elites acusar e prender sempre quem não tem “estirpe”.
E a PGR já deu o sinal assinando a peça que diz tudo e não diz nada (mas o que importa é que aponta alvo).
Neste rol de eventos, o medo de Moro tem prazos, e o principal deles é a provável deposição usurpadora da presidente, dia 11 de maio.
Completa a chacina, outro sinal será dado para a República de Curitiba, e então os capitães do mato, cheios de pompa com seus óculos escuros e coletes, armados até os dentes, sairão à caça de Lula, o valente negro fujão que ousou levantar um quilombo no Planalto Central.
Vai ganhar muito quem primeiro botar as mãos e depois cortar a cabeça dos malditos cangaceiros.
E agora sabe, garroteado feito um Montezuma diante das tropas de Cortez, que não há conciliação possível ou “Lulinha paz e amor” suficiente para quem vê a periferia e seus pobres como ameaça real ou potencial aos projetos da Casa-Grande.
O sinal maior da tocaia pronta é o silêncio das últimas semanas, depois que o juiz (cego pela vaidade da fama e querendo mostrar serviço para as elites e seu porta-voz, a indefectível Rede Globo) errou na dose e no tempo do remédio reservados ao seu papel na tragédia de Shakespeare à brasileira.
Preso o negro fujão, batucadas as panelas da vingança e do ódio de classe, enaltecido o papel da “justiça” da Casa-Grande com seu paletó, toga e trabuco, restará a narrativa golpista pela voz do jornalista-ventríloquo da Globo, Bonner, alcunha o Aético.
E então, adentraremos todos no reino de Macbeth.
Mas nesse mítico país gestado pelos infernos caberá ao povo, como na peça do grande bardo inglês, sofrer calado as principais atrocidades sociais e econômicas da usurpação e covardia políticas cevadas por séculos de Casa-Grande?
A humilhação da pobreza, a violência de não poder sonhar o futuro e lutar no presente, a dor da traição de suas vontades e desejos; tudo isso será o destino do povo no país de Macbeth?
Sigamos os próximos atos da tragédia brasileira, que certamente terá seu ato final no STF.