Veja a íntegra da fala de encaminhamento do voto de Fernando Bezerra Coelho na Comissão Especial do Impeachment no Senado Ao longo destas duas semanas de trabalho nesta comissão, nós, do PSB, aqui representado por mim, pelo Senador Romário, pelo Senador Roberto Rocha, pelo Senador João Capiberibe e também pela presença assídua da Senadora Lúcia Vânia, ouvimos e analisamos com bastante prudência os argumentos dos denunciantes e da defesa.

Buscamos pautar nossa atuação nesta Comissão não apenas como participantes do debate político.

Antes disso, procuramos estudar e fazer uma compreensão técnica – jurídica – dos fundamentos do processo de impeachment e do enquadramento das condutas imputadas à Excelentíssima Senhora Presidente da República entre as hipóteses de crime de responsabilidade previstas na Constituição e na lei.

Nesta hora, é preciso ter coerência e sermos fiéis à nossa história para que possamos honrar o voto daqueles que têm confiado no projeto que o Partido Socialista Brasileiro defende para o país.

Desde as primeiras eleições diretas após a redemocratização, em 1989, o PSB atuou na Frente Brasil Popular, apoiando a candidatura do ex-Presidente Lula.

E assim o fizemos nas eleições que se seguiram.

Nas eleições presidenciais de 2002, optamos por lançar candidatura própria, mas, no segundo turno, firmamos posição ao lado da coligação que possibilitou a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Estivemos presentes na Administração do Ex-Presidente com Roberto Amaral, com Eduardo Campos e com Sérgio Rezende.

Nas eleições de 2010, abdicamos de candidatura própria para dar continuidade ao projeto que possibilitou avanços para o Brasil, para o Nordeste e, especialmente, para o meu Estado de Pernambuco.

Com a eleição da Presidente Dilma, tive a honra de participar da administração federal como Ministro da Integração Nacional.

Mas, o nosso apoio jamais foi desprovido de senso crítico.

Já no ano de 2013, o então Presidente Eduardo Campos, alertou, em diversas oportunidades, para os erros e equívocos de uma política econômica que poderia colocar em risco os avanços obtidos até então.

Como não encontramos, no governo, qualquer receptividade às nossas ponderações e alertas, o PSB se mobilizou para se colocar como alternativa ao Brasil, para romper a polarização PT-PSDB.

Saímos do Governo Dilma em setembro de 2013; mas, não nos afastamos dos nossos compromissos históricos e programáticos.

Com coragem e determinação, idealizamos um projeto próprio e alternativo.

Com a candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, alimentamos a esperança e o sonho de construirmos uma nova política para o Brasil.

Porém, o sonho de um Brasil diferente foi interrompido de forma abrupta, com o acidente que vitimou nosso presidente.

Ainda assim, não fraquejamos, não desistimos do Brasil.

Decidimos avançar e continuamos a luta com Marina e Beto Albuquerque.

E aqui vale relembrar a acidez das críticas feitas ao nosso projeto pela campanha da candidata à reeleição.

Muitas foram as ironias e acusações de que éramos pessimistas e desinformados em relação ao real quadro econômico do país.

Perdemos as eleições; mas, nos mantivemos firmes em nossa opção pela mudança quando apoiamos a candidatura de Aécio Neves no segundo turno.

Dilma Rousseff ganhou a disputa presidencial falando que o Brasil não enfrentava os problemas que apontamos durante toda a campanha.

Exageraram nas promessas e não tiveram a humildade de reconhecer os erros.

Nem por isso, nos recusamos ao diálogo político.

Mas, foi justamente isso que faltou ao governo nos 16 meses deste mandato.

O governo se isolou, perdeu apoios políticos, perdeu a credibilidade e a própria autoridade.

Na economia, os números falam por si, mostrando que nossas críticas jamais foram fruto de pessimismo ou desinformação, como a Presidente alardeou durante todo o processo eleitoral.

Pois bem.

Agora, estamos a enfrentar o julgamento da admissibilidade da denúncia por crimes de responsabilidade imputados à Excelentíssima Senhora Presidente da República.

E, após a análise dos argumentos contidos na denúncia e opostos pela defesa, é inevitável a conclusão de que os indícios do cometimento dos crimes de responsabilidade, de fato, existem.

A Presidente da República, temos certeza, continuará a exercer, como fez até agora, a sua ampla defesa, numa próxima fase.

Quando deverão ser apreciados os elementos de prova para configuração da prática dos crimes de responsabilidade.

Mas, neste momento tão importante da vida nacional, não temos como não nos posicionarmos pela admissibilidade da denúncia.

Não bastassem os robustos indícios da prática delituosa – que enquadram a viabilidade do impeachment sob o aspecto jurídico – é preciso também avançar para a superação do impasse político e tentar recolocar o país num caminho que torne possível enfrentar o atual cenário de crise política, ética e econômica.

Por tudo isso, o PSB encaminha voto favorável à admissibilidade da denúncia apresentada em desfavor da Presidente da República, acreditando em novos e melhores rumos para o Brasil.”