Por Reinaldo Azevedo, em seu blog O que espero do governo Michel Temer?
Que seja o primeiro passo de uma reforma conservadora no Brasil que, no seu curso, marginalize o PT, tornando-o irrelevante até mesmo como uma das vozes do atraso.
Refiro-me à conservação de instituições democráticas, que têm sido permanentemente agredidas nesses últimos 13 anos.
E não só pelo PT.
Mais perniciosa do que o próprio partido, é a cultura que ele engendra.
O baguncismo chegou ao STF, por exemplo, no episódio Eduardo Cunha.
Mas deixo para outras colunas.
Sim, eu tenho a minha agenda, que é breve, mas nada simples, já exposta nesta Folha: parlamentarismo com voto distrital puro; legislação especial, na forma de um “fast track”, para investimentos em infraestrutura, na qual estaria compreendido um amplo programa de privatizações; possibilidade de se celebrarem contratos de trabalho alternativos à CLT; fim da aposentadoria especial para servidores a partir de amanhã.
Sei, no entanto, das dificuldades.
Não se herda um país em pandarecos, no chamado “presidencialismo de coalizão”, para realizar uma grande obra.
Assim, conto com o futuro presidente apenas como o capítulo inaugural de um movimento de reinstitucionalização do país.
O primeiro passo consiste em resgatar a dignidade do cargo.
Neste ponto, um eventual leitor de esquerda se assanha: “E isso será feito com luminares do PMDB, Reinaldo, alguns deles investigados pela Lava Jato?” A pergunta é justa, mas errada.
Não espero uma revolução da moral e do civismo em dois anos e meio.
Essas coisas não se operam com tal rapidez.
Trata-se, de fato, de um processo.
As minhas ambições para esse governo, próprias de um conservador de instituições, são bem mais modestas e de curto prazo.
Se Temer recuperar a confiabilidade da contabilidade pública, estará dando um passo importante rumo a um futuro melhor.
Lula e Dilma a destruíram.
Se o Palácio do Planalto for lugar de onde o chefe do governo fala para toda a nação, não apenas para seus apaniguados e militantes, voltaremos a ter um sentido de unidade, que se perdeu por nada.
Que se note: os eventuais benefícios colhidos pelos mais pobres nesses anos de petismo não decorreram do discurso rebaixado da luta de classes.
Nada sintetiza tão bem em que se transformou o país como o depoimento prestado por Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez.
Segundo disse, em 2008, o comando do PT se reuniu com ele para cobrar 1% de propina sobre todas as obras realizadas pela empreiteira desde 2003, quando o partido chegou ao poder.
E ficou claro que a, digamos, alíquota da safadeza seria aplicada às obras futuras.
Não se tratava de corruptos incrustados na máquina a serviço de um partido.
Era o partido institucionalizando a corrupção, tornando-a uma norma e um padrão.
Consta que Dilma pretende descer a rampa, ao partir, acompanhada de um monte de petistas, num ato tão solene como insolente.
Para a plateia de esquerda, essa solenidade, na forma de um rito sacrificial de exaltação, açula a resistência.
Para as instituições, resta a insolência dos que não aceitam a solução constitucional.
A verdade inequívoca é que, no dia em que Dilma e os seus comandados e comandantes deixarem o palácio, a democracia estará expulsando da sede do poder os verdadeiros golpistas, os assaltantes do Estado de Direito.
Ah, sim: Temer também é educado e gentil.
Cansei de gente que pensa como cospe e cospe como pensa.