Veja discurso da presidente Dilma Rousseff, durante cerimônia do Minha Casa Minha Vida, antes de viajar a Pernambuco Eu tenho consciência de uma coisa: esse processo de golpe não é exclusivamente um golpe contra o meu mandato, é um golpe contra o meu mandato sim, por quê? É um impeachment, um impeachment que não tem base legal, tudo isso nós sabemos, não tem base legal.
Mas, na verdade, ele não é só um impeachment sem base legal sendo um golpe, não é isso não.
Eu fui eleita com 54 milhões de votos e um programa.
Eu fui eleita com um programa, fui eleita com um programa.
No meu programa estava lá escrito: Minha Casa Minha Vida.
Como é que você, se você não quer um certo tipo de política, como é que se fazia na América Latina?
Simples, se dava um golpe de Estado.
Nos anos 60, 70 aqui na América Latina, os golpes era armados e foram dados do Sul do continente até o Norte do continente através de armas, baionetas e utilizando também as forças armadas daqueles países.
Esse processo foi superado.
E aí, como é que eu vou, não gostando dos programas que um governo implementa, como é que eu vou tirar o governo se ele foi eleito?
E se eu considero difícil disputar eleições diretas, porque se eu chegar à eleição direta e falar assim: eu vou acabar com uma parte do Minha Casa Minha Vida, eu vou tirar 36 milhões de pessoas do Bolsa Família, quem é que vota num programa desses?
Ninguém.
Então, na verdade, nós vivemos um impeachment, um impeachment golpista, porque não tem base real, nós todos sabemos, é ridícula essa questão das pedaladas fiscais, porque, caso contrário, eu não entendo porque, se nos governos anteriores a mim, todos os presidentes usaram as mesmas práticas que usei, iguais aos meus decretos.
Têm 30 decretos durante o período do Fernando Henrique Cardoso, 30 decretos.
E naquela época não era crime e hoje é.
Bom, mas tirando essa parte que todos nós já sabemos, o que é que está em questão mesmo?
Está em questão uma eleição indireta que é travestida de impeachment.
Por quê?
Porque vão querer, na maior cara de pau, aplicar o programa que não foi o programa referendado nas urnas.
Por isso é que eu comecei com essa questão do foco, o foco.
Além disso, eu gostaria também de dizer aos senhores que o meu processo é um processo tão violento.
Por quê?
Como é que ele foi feito?
Foi necessário uma pessoa destituída de princípios morais e éticos, acusada de lavagem de dinheiro, de contas no exterior, para perpetrar o golpe.
Ontem, o Supremo disse que o senhor Eduardo Cunha era uma pessoa que usava de práticas condenáveis.
Umas das práticas mais condenáveis foi a chantagem explícita feita pelo senhor Eduardo Cunha com o meu governo.
Quando?
Quando ele entra com o processo de impeachment, e não preciso falar, os senhores podem olhar nos jornais daquele momento, o que acontece?
Ele ameaça o governo da seguinte forma: se vocês não derem 3 votos para impedir que a Comissão de Ética da Câmara me condene, ou seja, me deem 3 votos favoráveis a mim, caso contrário, eu aceito, porque quem aceita o pedido de impeachment é o presidente da Câmara.
Então essa é uma questão tão descarada que o advogado do PSDB, ex-ministro do senhor Fernando Henrique Cardoso, que entra com meu processo, ele que entrou com o processo de impeachment, que foi lá e redigiu esse pedido, ele disse a respeito do ato do senhor Eduardo Cunha, chantagem explícita.
Não era chantagem explícita só, é golpe explícito.
Além de golpe explícito, é desvio de poder.
Então, o pecado original desse processo não pode ficar escondido.
E aí, não vamos nos iludir, todos aqueles que são beneficiários desse processo, por exemplo, infelizmente, aqueles que estão usurpando o poder, infelizmente, o senhor vice-presidente da República, são cúmplices de um processo extremamente grave.
A garantia que eu tenho é que isso está registrado.
O registro está onde? Óbvio que está nos papéis, mas está, sobretudo, nas nossas consciências, na consciência do povo brasileiro. É aí que está o mais importante registro.
E é aí que nós sabemos que a história deixará bem claro quem é quem nesse processo.
E mais, eu tenho absoluta certeza que por isso sempre quiseram que eu renunciasse, porque eu sou, eu já disse isso antes, eu sou muito incômoda, primeiro, porque eu sou a presidenta eleita; segundo, porque eu não cometi nenhum crime; terceiro, porque se eu renuncio, eu deixo e enterro a prova viva de um golpe absolutamente sem base legal e que tem por objetivo ferir interesses e ferir conquistas adquiridas ao longo dos últimos 13 anos.
Eu tenho a disposição de resistir.
Resistirei até o último dia.
Quero dizer aos senhores que eu agradeço o fato, e eu percebo isso, que os senhores sabem o que está acontecendo, e que por isso eu agradeço toda a solidariedade que eu recebo.