Foto: Divulgação Por Pedro Henrique, secretário estadual da Juventude do PT e membro da Direção estadual do PT-PE A votação sobre a admissibilidade da denuncia contra Dilma na Câmara deixou uma certeza: o processo de impeachment contra a presidente está desmoralizado!

Quem na sociedade ainda o defende o faz por puro antipetismo, e envergonhado.

O que se viu na nossa Câmara baixa (baixíssima!) foi uma rebelião de corruptos que já não aceitam atuar no submundo e bradam, erguem-se, clamam, votam movidos pelos interesses escusos de sempre, agora em plena luz do dia.

Atacam a vontade de 54 milhões de brasileiros (a maioria pobre e vítima da nossa histórica exclusão, que foram percebidos e socorridos pelos governos Lula e Dilma) em nome de suas próprias famílias abastadas, convertidas em mártires sem martírio, em vítimas sem crime, em povo sem rosto.

Nada mais cínico.

Nada mais autoritário.

Nada mais convidativo à luta!

Não há crime.

Se houvesse um ato criminoso de Dilma este restaria claro, inconteste.

O que há é uma salada de acusações que formam um discurso intencionalmente turvo de “combate à corrupção”.

As únicas duas acusações tratadas no relatório oficial e, elas mesmas, ignoradas pelos deputados votantes, são, no mínimo, amplamente contestáveis, quando deveriam ser, pela gravidade e excepcionalidade que marcam o instrumento do impedimento, cristalinas e demolidoras.

As acusações sobre as “pedaladas” e créditos suplementares ignoram a definição correta do que seja operação de crédito, ignoram que não houve dolo da presidenta, ignoram que, não obstante possa ter havido atos fiscais danosos, não houve atentado à lei orçamentária, ignoram que as contas de 2015 sequer foram votadas (!) e ignoram que vários governadores, inclusive o de Pernambuco, se socorrem de operações contábeis semelhantes sem que nada recaia sobre eles (e não recairá, dado que o processo contra Dilma é cinicamente marcado pela exceção).

Há, isto sim, uma vontade política que forja a existência de um crime para realizar-se, contra a constituição.

Está claro para qualquer pessoa minimamente atenta que se trata de um conluio liderado por um político corrupto que busca derrubar Dilma para reorganizar os instrumentos do poder em favor do estancamento da sangria a que foi submetido o congresso pela inédita onda de investigações e pela recusa de negociações para salvação de mal feitores por parte da presidente, uma das figuras sérias da política nacional.

A luta pelo impeachment no congresso em sua grande maioria é na verdade a luta pela impunidade, expressa no grande acordão construído para salvar o mandato de Eduardo Cunha, vergonhosamente poupado pela mídia e pelo STF.

Essa é a agenda dos operadores do golpe no congresso.

Mas há outra agenda “pró-impeachment”, aquela defendida pela aliança social que financia e busca legitimar o golpe, composta pelos setores da elite econômica que falam através da grande mídia.

A agenda da salvação das taxas de lucro em tempos de aguda crise não é mais de conciliação, como na bonança da era lulista, é ortodoxa, radicalmente austera, anti-trabalhista, entreguista e de longo prazo, daí a necessidade do impeachment ser seguido da interdição de qualquer perspectiva de reorganização da centro esquerda brasileira em torno de Lula para 2018.

Em suma, é, radicalizada, a plataforma dos que foram derrotados nas eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014 pelo voto daqueles que Darcy Ribeiro chamava de a “ninguemzada”, hoje a frequentar universidades e a exigir, acobertados pela democracia, mais inclusão.

A grande coalizão golpista é formada, portanto, por endinheirados e políticos corruptos; pelos que querem salvar suas taxas de lucro e os que querem salvar seus pescoços, mobilizadores de uma classe média marcadamente excludente e manipulável, cuja participação nas ruas arrefeceu tão logo cessaram os fogos de artificio da dobradinha entre operações policiais e mídia, tudo isso em detrimento da democracia.

A trama já não engana mais. É amplamente difundida aqui dentro e no exterior a tese do golpe, a obscenidade do processo, cujas entranhas ficaram expostas na votação da Câmara, que uniu em torno da queda do governo o que há de pior na política nacional, a bancada da bala, fundamentalistas, homofóbicos, corruptos e adoradores da ditadura.

Quando a poeira baixar o curso dos acontecimentos se encarregará de garantir aos parlamentares golpistas, aos partidos golpistas, aos jornalistas que se curvaram aos interesses conjunturais dos patrões-empresários, aos membros da justiça que se acovardaram e/ou conspiraram e aos cidadãos e cidadãs que, ingenuamente ou não, embarcaram nessa aventura autoritária uma condução coercitiva para a lata do lixo da história, onde não descansa e não tem paz a memória dos avalizadores dos outros tantos golpes que o projeto concentrador, ao menor sinal de risco, já impôs ao país ao longo de nossa historia.

A boa notícia para os defensores da democracia e de todas as famílias brasileiras, sobretudo as pobres e as não tradicionais, é que está havendo e haverá muito mais resistência daqui pra frente.

A sanha golpista e a pressa da direita precipitaram um processo de aglutinação da esquerda que pode abrir uma fase nova de lutas sociais no país.

As duas frentes hoje organizadas, a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo vem aglutinando cada vez mais jovens, mulheres, trabalhadores e trabalhadoras que exigem não só o respeito à constituição, mas também a ampliação dos direitos sociais e civis.

Caso o golpe seja derrotado, o governo terá a chance de reorganizar sua agenda pela esquerda com muito mais força social.

Caso o golpe se consume no Senado, as ruas do Brasil serão tomadas por uma esquerda renovada, razoavelmente unificada e com sede de justiça.

Haverá luta!

Pior para os golpistas!