Fernando Castilho, da coluna JC Negócios Como solução para crises políticas, o impeachment é um retrocesso.
Não é pelo processo dorido.
Mas pelo fracasso de uma escolha nas urnas.
Envergonha qualquer país.
Porque mostra a escolha equivocada do eleitor.
Impeachment é, em resumo, o fracasso de uma eleição.
Mas é democrático. É legal.
E, feito com base no rito legal previsto na Constituição, é legítimo.
Mas quem o torna legítimo é a condição que o governante afastado leva o país.
Um impeachment começa, no mínimo, um ano antes.
E leva outro para acontecer.
Portanto, custa ao menos dois anos à nação em crise.
Dilma Rousseff não caiu neste domingo 17 de abril.
Começou a cair há dois anos quando fraudou a reeleição com ajuda de um marqueteiro que hoje está preso acusado de lavagem de dinheiro.
Venceu a eleição contando uma mentira sobre a Economia.
E foi essa mentira que ancorou sua derrocada porque a verdade da economia é como dinheiro, não aceita desaforos de ninguém.
Mas a gênese dessa derrota começou a se formar no dia 1º de fevereiro de 2015 quando ela perdeu a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, para Eduardo Cunha.
O candidato que tentou empinar, Arlindo Chinaglia (PT-SP), recebeu 136 votos.
Ontem, os que votaram com ela somaram 137 votos.
Dito de outra forma: Aos 267 votos de Eduardo Cunha para derrotar Chinaglia somaram-se os votos do candidato do PSB, Júlio Delgado (MG), que ficou em terceiro lugar, com 100 votos.
E contra, os oito votos do PSOL, Chico Alencar (RJ), se repetiu seus seis contra o impeachment já que o partido perdeu dois deputados.
Até as duas ausências se repetiram os votos de dois deputados votaram em branco na eleição de Cunha.
O que é espantoso é Dilma não tenha aprendido rigorosamente nada com o impeachment de Fernando Collor.
Mas com diz a sabedoria popular, o cachimbo faz a boca torta.
Quando, no dia seguinte, exatamente quando no primeiro despacho o fiel amigo Aloisio Mercadante lhe disse que o PT “tinha ido longe demais”, ela desdenhou e disse que a daria um jeito na Economia.
Não deu.
Nem poderia.
Ela tinha segurado as tarifas públicas por entender como um dos artífices das pedaladas, o secretário, Arno Agostinho, que não deveria mesmo corrigir os preços dos serviços porque não havia concorrência.
Mas em dezembro de 2014, ela já não poderia continuar segurando eles pois a Petrobras, envolvida na Lava Jato, tinha quebrado com a gasolina tabelada.
Também não poderia segurar os déficits que ela mesmo autorizara se formar sacando a descoberto no Banco do Brasil, BNDES, Caixa e até no saldo do FGTS.
Pelo simples fato de que a receita estava caindo a níveis assustadores.
Porque ela mesmo, em 2014, para vencer a eleições, concedera R$ 100 bilhões em desonerações que os empresários sequer pediram.
Finalmente, teria que enfrentar o fantasma do desemprego que começara a explodir já que a economia embicara desde 2013 e ela se recusava a aceitar porque interpretava os fatos econômicos de uma forma acadêmica obtusa.
Talvez pela sua formação de economista.
Olhando pelo retrovisor hoje é possível observar que o segundo governo Dilma tinha mesmo chances zero de retomar o crescimento.
Talvez porque a economista de frases duras como a de que um plano para segurar as despesas proposto por economistas ligados a Lula “era rudimentar”.
Esse talvez seja o problema de Dilma.
Ela é uma presidente que quer se mostrar uma economista de solida base teórica.
Não é, mas pensa que sim e por isso destrói com gritos e frase contundentes seus interlocutores tentando mostrar fundamentação teórica que não possui.
O problema é que Dilma não está na Academia.
Está na presidência da República e deveria ler o que lhe ensinou o seu mestre Lula, sem escrever um só artigo acadêmico: política é arte de construir consensos.
Preferencialmente, os que nos atendem.
Será preciso um olhar mais aprofundado sobre esse 17 de abril.
Não pelo viés simplório do PT de que foi um golpe das elites, de que as ruas vão mudar a decisão dos deputados e que a CUT vai parar o país com uma greve geral.
O que o PT precisa entender é que já não tem o domínio das ruas.
O custo de manifestante por m² nas ruas está ficando cada dia mais caro.
Porque a militância não vai, salvo os jovens de classe média e universitários, de graça para os atos.
Tem que ter ônibus, alimentação e diárias.
Os movimentos a favor do impeachment são infinitamente mais baratos porque a motivação é mais política.
Se a gente olhar para os 367 votos vai enxergar que salvo os que tem mesmo fragilidade de caráter e os neófitos na política, o consenso foi dos profissionais.
Gente que sabe que o Congresso pode muito, e mais ainda, quando o presidente não respeita a distância regulamentar entre um e outro poder.
O problema é que o PT que está há mais de 30 anos na política não entendeu esse fundamento.
De cabelos grisalhos e brancos, age como os meninos dos diretórios acadêmicos das universidades na sua eterna disputa de alas da esquerda.
Não podem mais ter esse comportamento.
Foi esse comportamento que os faz ficar catatônicos na hora da crise.
E paralisados diante do desastre.
O PT não aprendeu nada com a crise de Lula lá em 2005 quando os profissionais do PSB, Eduardo Campos, e do PC dos B, Aldo Rebelo, costuraram uma saída política para o mensalão.
Não podiam ir muito longe tendo como coordenador um deputado do baixo clero como Silvio Costa (PT do B), um desse partidos que o PT se acostumou a usar por curtíssimo prazo e jogar no lixo.
Como fazem alguns “empresários” com negócios a partir de presídios com chips de telefone celular pré-pago.
Para o grande público talvez houvesse uma chance de Dilma escapar da derrota de ontem.
Mas olhando hoje é possível ver direitinho que ela já estava derrotada desde o dia em que Eduardo Cunha marcou a votação para 17 de abril.
Ou alguém acha que se ele, e os profissionais da Câmara e do Congresso, marcariam a votação se já não tivesse certeza de que teriam os votos que tiveram?