Por Jamildo Melo, editor do Blog Não há muito o que dizer para explicar a aceitação do pedido de admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Ela perdeu a legitimidade para governar o Brasil, não apenas as condições de governabilidade.
Simples assim.
Os petistas repetiram à exaustão que seria golpe afastá-la porque havia sido eleita por mais de 50 milhões de votos.
Falácia.
Voto não é cheque em branco eterno.
Ao perder a legitimidade, Dilma transformou-se em um cadáver político, incapaz de ter ao menos 150 votos em um congresso de 513 parlamentares.
O placar final da votação foi 367 votos a favor e 146 contra o pedido.
A rigor, a tese de golpe só era repetida por falta de argumentos.
Quando reuniu juristas no Palácio, entre os arautos da legalidade, ao menos quatro deles já haviam protagonizado manobra semelhante urdida pelo PT, apresentando pedido de impeachment contra o ex-presidente FHC.
Seriam golpistas arrependidos?
Seriam arautos da legalidade?
Só não vale contra Dilma?
O placar final contra a presidente só corrobora o tamanho do desgaste, embora sempre se possa falar dos oportunistas e os insinceros.
A manada prefere sempre marchar ao lado dos vitoriosos.
Deputados não trabalham com vocação suicida e não iriam morrer abraçados ao PT, muito menos Dilma.
O governo Dilma também tentou usar a máquina pública para converter votos.
O ex-presidente Lula chegou a se isolar em um quarto de hotel em Brasília para tentar salvar Dilma, apesar de investigado pelo Ministério Público Federal e não contar com nenhum cargo oficialmente no aparelho estatal.
Aliás, o governo Dilma acabou no dia em que ela tentou levar Lula para o governo, como ministro.
Com o ato desesperado, a presidente levou a Lava Jato para dentro da sua gestão.
A pá de cal foi dada por Rodrigo Janot, ao negar que ele tivesse direito a foro privilegiado e pudesse assumir o cargo de ministro da Casa Civil, na mesma semana de novas revelações de uma delação premiada da empreiteira Andrade Gutierrez.
Curiosamente, com a eventual queda de Dilma, Lula será o principal beneficiário do impeachment.
Caso não seja preso pela PF, ganhará dois anos e sete meses para fazer oposição, com a ajuda da CUT e outros.
Para os brasileiros, por mais masoquista que pudesse parecer, o ideal seria que Dilma fosse até o fim, como aconteceu com a presidente na Argentina.
No fundo do poço, é possível que os brasileiros pudessem aprender que não existe populismo sem custos, sem desastre no final.
Investimentos Na área da economia, Dilma cometeu muitos erros que lhe ajudaram a perder o controle da condução do País.
Já na campanha eleitoral, mentiu aos brasileiros de forma irresponsável, fraudou números para passar a imagem de um Brasil cor de rosa (o que, oficialmente, justificou a aceitação do pedido de impeachment pelo Congresso), dos sonhos, tentando disfarçar uma crise iminente.
Ao assumir o segundo mandato, foi obrigada a enfrentar a realidade, gerando então a quebra da confiança e perda de credibilidade que ceifaram milhões de empregos.
Nesta segunda etapa, nada foi mais importante do que concentrar-se na manutenção do seu próprio emprego.
O apetite intervencionista de Dilma, junto com sua inépcia gerencial, acabaram por arruinar estatais como Petrobras e Eletrobras, afugentando investidores.
A Refinaria Abreu e Lima está aí…
Nos últimos meses, não restava dúvida sobre a importância de uma agenda de reformas para retomada da atividade econômica no País e a presidente Dilma chegou a propor um pacto nacional, depois de chamar a todos de golpistas.
Cercada por áulicos, Dilma não via que ela era o problema e que só há chance de sair um pacto nacional sem a sua presença.
Na fase das discussões, a situação apostou em condenar a postura da oposição, liderada pelo senador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), que não teria aceitado a derrota nas urnas, em 2014.
Na avaliação do governo Dilma, desde então a oposição passou a trabalhar contra o governo e o País.
Era chamada de oposição mais irresponsável da história do País.
Só que até os próprios aliados não ajudavam.
Efeito da Lava Jato A operação Lava Jato também ajudou a acabar com o governo Dilma, com vários escândalos políticos e a deflagração de 28 fases.
Pesquisas mostram que a PF é a instituição melhor avaliada do País.
Realizada pela AMB, de 2015, em uma amostra de 3.663 entrevistas, a Polícia Federal tirou 7,5 de uma nota que vai de 0 a 10.
O Ministério Público aparece em segundo lugar (7,2); logo em seguida, o Ministério Público Estadual (6,7); Forças Armadas (6,5) e o Ministério Público do Trabalho (6,4) em último lugar.
Para deslegitimizar o discurso das pessoas que pediam moralidade, os aliados de Dilma também espalhavam nas redes sociais que a Lava Jato seria estancada com a assunção de Temer.
Neste domingo, o deputado federal Jarbas Vasconcelos, do PMDB, aliado de Temer, já cobrou o afastamento de Eduardo Cunha.
Em discurso recente, o próprio Temer prometeu que não iria fazer nada nesta linha.
Talvez até mesmo porque não pode.
O Judiciário deve ser livre para investigar e punir.
O juiz Sérgio Moro, de Curitiba, venceu os petistas e Lula porque restabeleceu a esperança em dias melhores, sem mentiras, sem disfarçatez, sem irresponsabilidade fiscal.
Nenhum partido poderia vencer tal quebra de braço.
Não era mais possível enganar os incautos com o nós contra eles.
Contra o MPF e a Justiça, Lula e seus aliados não podiam dizer que Moro trabalhava pelas elites pois começou o seu trabalho mandando prender os maiores empresários do Brasil.
Defesa com falácias Na fase do processo em si, o governo Dilma também errou muito, em especial por apostar em falácias como instrumento de defesa.
Os aliados de Dilma bateram na tecla de que os governos anteriores fizeram pedaladas fiscais e nem por isso sofreram condenação ou advertência do Tribunal de Contas da União (TCE) por utilizar um mecanismo de contas. “A oposição sabe que a presidente Dilma não cometeu nenhum crime.
Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro a fazer as pedaladas fiscais.
O presidente Lula fez.
Todos os governadores fizeram, prefeitos também fizeram pedalas fiscais.
Trata-se apenas de um instrumento contábil.
Não é crime”, chegou a afirmar o vice-líder do governo, o deputado Sílvio Costa (PTdoB).
Meia verdade, pois o volume usado pelo governo Dilma era incomparável e bilionário, usado para financiar os gastos públicos de forma irresponsável, como a tal nova matriz econômica e os recursos para a bolsa banqueiro do BNDES.
Para enrolar os bestas, dizia apenas que o dinheiro foi usado para pagar o bolso família.
Se foi crime, quem seria contra, não é?
Por mentiras deste naipe, tentou passar a ideia de que o julgamento era o mais injusto da história do Brasil. 17/04/2016- Brasília- DF, Brasil- Sessão especial para votação do parecer do dep.
Jovair Arantes (PTB-GO), aprovado em comissão especial, que recomenda a abertura do processo de impeachment da presidente da República.
Na foto, Presidente da Câmara, dep.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ).Foto: Antonioa Augusto/ Câmara dos Deputados Outra contradição que ajudou a afundar o governo Dilma foi a campanha contra o vice, eleito como Dilma, na mesma chapa e seu eventual substituto em caso de impedimento.
Curiosamente, esses mesmos moralistas não viam golpe nem mal algum em entregar o governo, na prática, a Lula, que não teve voto algum, transformando Dilma em fantoche completa.
Na campanha contra o vice e o crescimento de sua expectativa de poder até ministros do STF vazaram opiniões pessoais.
Interessava ao poder apresentá-lo como golpista, como fez Lula no Ceará.
Pelo lado de Temer, o PMDB insuflou a rejeição dela, com o balcão de emendas e cargos, que chegou a incluir até o Ministério da Saúde.
Polarização com Eduardo Cunha A política é a arte de mentir, impor suas versões, mas chega um tempo que não cola mais.
Até a virada do ano passado, o governo do PT foi muito eficiente em buscar uma polarização com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, denunciado na Lava Jato e já réu no STF por ter dinheiro na Suíça.
Era o malvado perfeito.
Desde que aceitou o pedido de impeachment, começou a ser usado como escada para catapultar uma imagem de Dilma injustiçada.
Além disto, o presidente Eduardo Cunha, do PMDB e aliado de Temer, estaria promovendo um julgamento político, fruto do ódio (de Cunha à presidente Dilma).
Já com Dilma, a cantilena era de que, aos 18 anos, Dilma foi torturada nos porões da ditadura de 64 e não dedurou ninguém.
Não havia processo contra ela.
Assim, nos últimos 40 dias, era objeto de tortura por uma parte da elite brasileira.
Se a gente não rir, amigo, adoece As redes sociais, normalmente reféns do politicamente correto, foram inundadas de memes contra a figura da presidente.
O comportamento já era esperado e foi potencializado, nos últimos dias.
Em baixa, qualquer autoridade, especialmente políticos, são um prato cheio para virar objeto de deboche.
Temer não ficou atrás, é lógico, em uma espécie de desforra.
Na crise, o riso vira uma espécie de consolo.
Guerra continua no Senado O PT já anunciou que tentará anular a indicação do PMDB para a relatoria da comissão do impeachment no Senado.
O partido diz, com razão, que a legenda é parte interessada no impeachment de Dilma.
Neste domingo, Álvaro Jucá, ligado a Temer, já avisou que a legenda não quer mais o comando da comissão, para dar o que ele chamou de isenção procedimental.
O problema é que, oferecida ao PSDB, recusou a oferta, por não querer o posto de algoz do impeachment.
Neste domingo, Aécio Neves já disse que o PSDB pretende participar com propostas de um novo governo e que o país tem pressa em tomar medidas para superar a recessão na economia.
Já o desafio de Temer será transformar essa maioria episódica deste domingo histórico em maioria efetiva, para governar de fato.
A Lava Jato fará surpresas ao PMDB?
Não se sabe.
O PMDB tem 12 denunciados no STF.
Seis deles na direção nacional.
Se a Lava Jato visitar seus correligionários, ótimo.
O que não poderia ocorrer era que o Brasil ficasse refém de um discurso paralisante.
Não se pode derrubar Dilma porque boa parte do PMDB é sujo ? É fato e constrangedor que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) também tem sua eleição contestada no Tribunal Superior Eleitoral.
Assim, o afastamento da presidente Dilma não representa de jeito algum a resolução da crise política, econômica e moral.
Mas é um recomeço, mesmo com a reduzida popularidade do vice.
Neste momento, a salvação da economia, depois de um grande desastre econômico criado pelo PT, deve ser a prioridade, mas fácil não será.
Vamos ver se a Fiesp, aliada de Temer, por exemplo, continuará reclamando que os contribuintes não irão pagar o pato com mais impostos.
Minha opinião, salvo melhor juízo.