Em entrevista à Rádio Jornal em Brasília, o senador Cristovam Buarque (PPS), ex-ministro de educação no Governo Lula, admitiu que não está otimista em relação ao futuro do Brasil após o julgamento do processo de impeachment. “O impeachment ou a continuação da Dilma vai manter o Brasil no mesmo rumo de uma crise muito profunda”, disparou.
Para o senador, o que deve ser questionado é o modelo político brasileiro, que, segundo ele, é o mesmo desde 1992.
Entre os pilares que compõe o modelo, Buarque cita e critica os programas sociais. “As transferências de renda, que surgem com Fernando Henrique Cardoso, com o Bolsa Escola, Lula amplia com o Bolsa Família, mas se esgotou pelo fato de que não foi capaz de emancipar o povo, criou, na verdade, uma dependência”, disse.
Buarque defende que não basta o impeachment da presidente, mas do modelo político que rege o Brasil. “Precisa da construção de um novo modelo que refaça a democracia sólida, que recupere a estabilidade monetária, que defina instrumentos para emancipar a população das dificuldades que ela tem”, ressaltou.
Ainda segundo ele, além da renovação do modelo político, a esquerda no Brasil também deve se reinventar. “Hoje a esquerda brasileira está debaixo dos escombros criados pelo governo do PT.
Tem duas alternativas aí: uma é surgir de dentro dos escombros uma esquerda velha, liderada por Lula e que, em vez de fazer cidadãos, fez consumidores, ou surgir uma nova esquerda, que põe a educação como motor”, pontuou. “Mas tenho impressão que vi demorar e, para que ela surja, vai ter que passar pela oposição”, acrescentou o senador.
IMPEACHMENT Sobre o processo de impeachment que será votado na Câmara neste domingo (16), o senador diz não ver com otimismo um possível governo Temer. “Vejo de maneira muito assustada, pelas pessoas que estão ligadas a ele, pelo fato de impeachment estar sendo coordenado por Eduardo Cunha, pelo fato de os crimes que justificam o impeachment não estarem muito claros ainda”, explicou.
Caso o processo de impedimento seja aprovado na Câmara e siga para o Senado, o ex-ministro disse que votaria pela admissibilidade, mas não se posicionou se votaria a favor ou contra. “Apesar de ter o parecer e de ter a votação da Câmara, se passar, eu não me dou por satisfeito, vou querer fazer uma porção de outras análises”, afirmou. “O Senado, ao meu ver, tem a obrigação de fazer uma peça tão sólida que ninguém duvide dessa ideia de que houve golpe”, ressaltou Buarque.