O Globo - O que está em jogo neste momento?
Moreira Franco - A oportunidade de mudar os rumos da economia, de estancar a crise social e de recuperar a capacidade de governar da máquina federal, dos estados e dos municípios. É o que sustenta a disputa entre Dilma e o Brasil.
Para ganhar, Temer tem que ter o voto de 2/3 do eleitorado (deputados federais) e não só maioria simples; Dilma só tem que evitar que este número seja alcançado. É uma disputa desigual.
O Globo - Por que a existência desta disputa?
Moreira Franco - O que há é uma imposição constitucional sob regras definidas pelo STF, o processo de impeachment foi aberto na Câmara.
As razões decorrem porque, além da manipulação exagerada de verbas orçamentárias e da maquiagem fiscal, o governo está inviabilizando a economia do país, os governos municipais e estaduais e as esperanças da nação de ter garantidos tranquilidade e crescimento.
Hoje, 285 brasileiros perdem o emprego por hora, os 40 milhões que melhoraram de vida já perderam as conquistas obtidas, a inflação cresce e os juros sobem, a produção cai, e milhares de empresas fecham as suas portas.
Não há segurança jurídica, credibilidade nem propostas do governo para tirar o país da crise.
Ao contrário, para evitar o impeachment ele aumenta os gastos e compromete o futuro do país.
O Globo - Não é traição o vice disputar com a titular?
Moreira Franco - Não.
Essa disputa está definida na Constituição Federal, é pois respeitá-la.
Antes da decisão da Câmara e do STF sobre a instalação e os seus ritos, não houve nenhuma ação, palavra ou gesto do Temer que o envolvesse neste processo.
Ele fez questão de manter seu papel institucional com rigor.
Mesmo com o PMDB, e ele é o seu presidente, tendo manifestado sua inconformidade com os rumos que o governo dava à gestão econômica, financeira e administrativa do país.
O Globo - Dilma tem o controle da máquina pública — cargos e verbas —, e Temer, não.
A luta pela conquista de votos para a votação do impeachment não é desigual?
Moreira Franco - Exageradamente desigual, e digo isso porque o governo intensificou as trocas de cargos e a liberação de verbas para conquistar voto ou ausência de deputado no plenário da Câmara.
Mas a opinião pública está atenta, acompanha as atitudes políticas do deputado.
O governo tem a oposição da nação, e, como doutor Ulysses dizia, “quando o Brasil quer o Brasil muda”.
O Brasil quer, e a Câmara jamais se colocou em confronto com a nação.
Quando das Diretas, ela consertou sua trajetória logo depois, elegendo doutor Tancredo indiretamente contra a vontade do governo.
Não adianta, o jogo está jogado.
O Globo - O senhor concorda que quem quer que ganhe esta disputa não governará só?
Moreira Franco - Concordo.
Só com a pacificação do país e a unificação de sua maioria em torno do desafio de atravessar a ponte que nos tire da mais grave crise econômica de nossa História, como tem sido pregado constantemente pelo Temer, nós evitaremos o sacrifício social de mais de 40 milhões de brasileiros que não resistem a uma recessão prolongada, como a que estamos vivendo.
O governo federal precisa manter os programas sociais como Bolsa Família, Pronatec, Minha Casa Minha Vida, Fies, hoje quase paralisados por falta de recursos financeiros.
A criação das condições para retomarmos o crescimento impõe capacidade e gosto pelo diálogo e o entendimento com o Congresso e com a sociedade.
E entre Dilma e Temer, a história recente nos mostra que só Temer tem esses atributos.
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