Dilma, em entrevista hoje em Brasília Eu acho o seguinte: todos aqueles que apostaram na estabilidade, que apostam no “quanto pior, melhor”, criam uma situação bastante difícil para o País.

Não é porque o New York Times botou na capa que isso é um problema. É um problema porque todo mundo sabe que sem estabilidade política não se tem crescimento econômico, recuperação da economia, não se tem basicamente a volta do crescimento com geração de emprego.

E a manutenção e as novas conquistas, os novos caminhos de oportunidades que tem que se abrir para a população brasileira.

Então não é uma questão de estar ou não estar na capa do New York Times.

Essa seria da nossa parte uma visão um pouco colonial. É porque isso prejudica o País internamente, não é externamente.

Se extravasou para o mundo é porque aqui nós estamos em uma situação que não é correta. É aquela situação em que a oposição, desde o dia em que eu assumi, criou todo tipo de instabilidade, uma quantidade enorme de pautas “pautas-bomba”.

Recentemente tem uma transitando no Congresso, que simplesmente é uma “pauta-bomba” e de hidrogênio, por quê?

Porque ela tem um impacto de R$ 300 bilhões ao transformar os juros das dívidas dos estados em juros simples.

Eu pergunto, quem é aqui que consegue um empréstimo com juros simples?

Nenhum de vocês.

O que que é juros simples?

Se eu devo R$ 100 e a taxa de juros 5%, eu devo R$ 105.

No outro ano, se a taxa de juros continua 5%, eu devo 5% sobre R$ 105.

No caso do governo, eles querem que não seja assim, que seja somando só, não multiplicando.

Então, é o seguinte, regras para o governo são inconsistentes com a situação.

Isso não está certo.

E a instabilidade política sistemática é algo extremamente danoso. É público e notório que há um vaso comunicante entre a economia e a política. É público e notório, no Brasil, que tem um pessoal que torce para o “quanto pior, melhor”.

Quanto pior para nós todos, para a população brasileira, quanto melhor para eles que querem cortar o caminho do poder.

Eu acho que o País é uma democracia.

Nós somos uma democracia.

Uma democracia que nós conquistamos às duras penas.

Todos aqui da minha geração lutaram para que esse País fosse um país onde a gente pudesse manifestar de forma tranquila.

Porque, da nossa geração, você fazia qualquer protesto, você ia preso para a cadeia e lá ficava um tempo como eu fiquei três anos.

Nós que lutamos por isso sabemos que o preço disso é muito alto.

Não tem estabilidade sem democracia.

Não tem crescimento econômico sustentável sem democracia.

Não tem esse resgate que nós temos que fazer da população brasileira - e aí, não dá para uma parte da população achar o seguinte, que Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Prouni, Fies é algo que só beneficia uns poucos, não beneficia a todos.

Um pessoal de classe média alta não pode pensar isso, sabe por quê?

Porque esse País, ele tem uma riqueza imensa.

Como é que chama essa riqueza imensa?

Chama-se mercado interno.

Mercado interno é transformar 204 milhões de pessoas em pessoas com renda suficiente e que condição suficiente.

Para quê?

Para ter um bom emprego.

Para ter um bom emprego é preciso ter boa educação.

Para ter boa educação é preciso que nós tenhamos a tranquilidade para crescer. É impossível.

O próprio Fundo Monetário Internacional, que é insuspeito, diz no seu relatório do final do ano passado, ou início desse ano, eu não lembro bem se é de dezembro ou se é de janeiro, dizem que eles esperavam que o Brasil passasse por isso, por esse período de crise que todos os países emergentes estavam passando, pela violenta queda nos preços das commodities, de forma mais rápida.

No entanto, isto não se deu e atribuí uma parte à instabilidade política.

Isto é algo que a gente tem de levar em conta. É impossível. É impossível.

Nenhum governo conseguirá governar o Brasil se não tiver um pacto pelo diálogo, pela estabilidade política.

Se não se respeitarem as regras do jogo, porque a hora que você desrespeita uma regra do jogo, você desrespeita o próprio jogo democrático. É isto que está em questão. É por isso que é extremamente grave que, desde o início do meu segundo mandato - primeiro pediram recontagem de votos, depois falaram que as urnas tinham problema, fizeram auditoria nas urnas e não apareceu problema nenhum, depois sistematicamente tentaram construir mecanismos para me tirar do governo.

Como?

Um é esse processo de impeachment com base nas chamadas “pedaladas fiscais” de 2015”, que não foram julgadas pelo TCU nem pelo Congresso.

Foram apresentadas sexta-feira.

De quando é o processo de impeachment?

Ou seja, eu tenho um processo de impeachment por algo que não foi apresentado.

Então, depois criaram, depois de aprovadas as contas, as contas da campanha no TSE, criaram toda sorte de problemas.

E aí acham que, ao tirar um governo legitimamente eleito, esse País vai ficar tranquilo, vai ser a pacificação.

Não é.

Quando você rompe um contrato dessa magnitude, que é um contrato que é base do presidencialismo, que são 54 milhões de votos, você rompe contratos em geral, você rompe a base da estrutura democrática do País.

Então… não, nós não estamos nessa época mais.

Mas a instabilidade pode permanecer de forma profunda e extremamente danosa.

Não se faz isso é porque quando você de fato tem responsabilidade diante do País, você não cria tumulto desnecessário, sem base.

Não faz isso. É disso que se trata.

Então, abrir o diálogo, o governo está inteiramente disposta a abrir o dialogo, inteiramente.