Por Pedro Brito, em artigo enviado ao blog Caros amigos do Blog, gostaria de fazer um breve comentário sobre a suspensão na frequência do voo Recife-Miami, da American Airlines (AA), que a partir do próximo mês de maio deixará de operar na rota entre as duas cidades e o provável desenrolar da realidade do turismo em Pernambuco.

Em Novembro de 2012, a AA iniciou suas operações ligando as duas capitais: a pernambucana e a do Estado da Flórida, nos Estados Unidos da América (EUA).

O voo que faz a rota, e que em breve deixará de ser realizado, não conectava apenas Recife (REC) a Miami (MIA).

O trajeto ligava todo o Nordeste brasileiro a todas as cidades EUA onde a AA operava e, também, ao mundo.

Essas eram as palavras dos próprios executivos da AA, que com o apoio da EMPETUR, na época, discursavam para os stakeholders turísticos pernambucanos e dos Estados vizinhos, nos primeiros dias da operação.

Estavam ao alcance do Recife, através da AA, com menos de 12 horas de viagem e a apenas uma conexão (MIA), mais de 30 importantes cidades nos EUA e outras 18 cidades no México.

Foi o que apontou, dentre outras informações relevantes, um breve estudo estratégico de diagnóstico e prognóstico do setor aéreo internacional, concluído há exatos 6 meses.

O estudo de 42 páginas, iniciado em agosto de 2015 e finalizado nos últimos dias de setembro do mesmo ano, feito com metodologia científica, foi fruto de um trabalho para a Disciplina de Gestão de Projetos Turísticos, dentro do Programa de Pós-graduação em Turismo (Mestrado) da UFRN e entregue à diretoria da EMPETUR e à assessoria do Secretário de Turismo.

Entretanto, ao que parece, esse estudo depois de apresentado foi preterido. À época, o estudo (em seu prognóstico), apontava dentre outras coisas que, dada à eminência da crise econômica na qual estávamos adentrando, aconselhou a alta direção da EMPETUR que: a) revisse com a maior brevidade possível toda sua estratégia de investimento em marketing internacional, cancelando eventos pouco relevantes em mercados não prioritários e redirecionasse os recursos; b) em conjunto com o Trade Turístico local (hotelaria e receptivos), concentrassem-se em ações nos mercados emissores indicados no trabalho; c) priorizasse a manutenção dos voos internacionais que já operavam no Aeroporto dos Guararapes/Gilberto Freyre, prestigiando as companhias aéreas em campanhas de marketing conjuntas no exterior.

O estudo aconselhou, também, que fosse reconsiderada a ideia de se investir na captação outros voos internacionais (charters ou regulares) em detrimento ao apoio necessário aos parceiros já estabelecidos.

Isso porque, foi diagnosticado que havia uma clara falta de sustentabilidade na ocupação dos assentos por parte do público viajante nas aeronaves que era formado, em sua grande maioria, por brasileiros (65%), segmento em franca decadência econômica diante da alta do Dólar americano e do Euro, contra uma minoria de turistas estrangeiros.

Esse público estrangeiro, a despeito da crise mundial que aconteceu há alguns anos, poderia ocupar os assentos nos voos em direção não só ao Recife, mas para toda a região, por conta da desvalorização do Real frente àquelas moedas.

Esse raciocínio se justifica pelo crescimento de 4% do fluxo turístico no mundo, em 2014, e que se manteve no primeiro quadrimestre de 2015, segundo dados do Barômetro Mundial do Turismo, da OMT/WTO (Organização Mundial do Turismo - ONU).

Agora, em um cenário futuro ainda mais pessimista, corre-se o risco tal qual fez a AA, que outras companhias aéreas que ligam Recife ao mundo, a exemplo da TAP (Transportes Aéreos Portugueses), da CONDOR (Thomas Cook Group), da TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) e da COPA AIRLINES (Companhia Panamenha de Aviação) abandonem, pouco a pouco ou de forma imediata, o turismo em Pernambuco a própria sorte, por absoluta falta de visão e ação dos atuais dirigentes do turismo no Estado.

Como consequência, o fluxo turístico local e regional voltará mais uma vez a depender dos aeroportos do Sudeste e de suas conexões cansativas, além da queda da venda de pacotes para a Região.

Nesse cenário pragmático, e ainda mais pessimista, estão em jogo outras 41 importantes cidades (ou Hubs - utilizando-se o mesmo critério de 12 horas de viagem e uma conexão) distribuídas nas Américas e na Europa.

Ou seja, o turismo de Pernambuco está em cheque.

Perdemos, mesmo que temporariamente, uma de nossas maiores conquistas dos últimos 15 anos no turismo de Pernambuco e do Nordeste, o voo Recife-Estados Unidos-Mundo.

Pedro Brito apresenta-se como turismólogo/UNINASSAU, MBA em Marketing/UFPE, Mestrando em Turismo/UFRN e Professor Universitário.