Por Osvaldo Matos, publicitário e sociólogo em seu livro A Lei do Cão O combate que travam em cada indivíduo o fanático e o impostor, faz com que não saibamos nunca a quem nos dirigir.

Emil Cioran Era tarde da noite, perto das onze horas, o estudante universitário voltava de mais uma noite quando ouviu buzinas e sirenes atrás do seu carro.

O universitário não entendeu o porquê daquilo.

Num instante, o carro foi trancado e obrigado a parar.

Desceram homens vestidos com coletes de polícia que mandaram-no sair do carro, colocaram-no de costas, revistaram-no e puseram-lhe um capuz.

Depois deram um soco forte nos rins que gerou uma dor imensa.

Já no carro, que saiu em arranco, o jovem fez duas perguntas: - O que está acontecendo?

Na primeira, levou uma imensa tapa.

Na segunda, um murro.

Com isso, silenciou.

O rapaz percebeu que o carro se deslocava como se estivesse em uma pista.

Então, sentiu o carro entrar em uma área deserta, tipo de uma mata esburacada.

O jovem perguntou: - Vocês vão me matar?

Sofreu mais uma agressão. - Cala a boca, seu merda.

Em seguida, as portas do carro abriram-se.

O jovem sentiu que naquele momento poderia morrer e, em um instinto de sobrevivência, mesmo estando amarrado e encapuzado, começou a brigar, a morder e a chutar, o que o fez receber mais uma agressão violenta, com chutes e chaves.

Perdeu os sentidos com um mata-leão.

Minutos depois, o jovem acordou sentado em um chão áspero e em uma parede fria.

Mesmo com o capuz, percebeu não haver luz no local.

Por lá, ficou horas e horas, até que uma luz acendeu e um homem tirou-lhe o capuz.

O rapaz subiu o olhar e, imediatamente, o homem deu-lhe uma tapa, tão violenta, que lhe arrancou dois dentes. - Baixa a cabeça seu bosta.

O homem saiu da sala.

Sozinho, o jovem pensou: “Por que eu?”, “O que foi que fiz?”, “Meus pais não têm dinheiro.

Por que esses caras me querem?

Por que tanta violência?”.

Ouviu uma discussão, começou a ser colocada na sala: - Vocês erraram, gritou o homem que entrou no quarto, não era esse cara, vocês erraram.

Pegaram o cara errado.

O jovem respirou. - Meus Deus, será que agora vou viver ou vou morrer?

Na discussão, o homem que tinha entrado no quarto, parecia ter uma certa liderança sobre os outros.

E a discussão rolava: - Não, mas temos de o matar.

Ele: - Não.

Não vamos matar.

Os outros: - Ele viu a sua cara? - Não.

Então, não vamos matar.

A discussão durou até que uma voz se ouviu.

O homem gritou de forma forte e disse: - Ninguém vai encostar um dedo mais nele.

O jovem suspirou, respirou e agradeceu a Deus.

Naquele momento, começou a rezar, pensar na família e em sua noiva.

Estava preste a casar.

Ingressou novamente no local em que estava, o líder.

Ele manteve o capuz e esclareceu: - Amigo, “pegaram você errado”.

A nossa ideia era pegar outra pessoa.

O seu pai é delegado de polícia e a outra pessoa também é filho de um delegado de polícia.

Sendo que o seu pai é um delegado do bem. É uma pessoa boa. É uma pessoa que ajuda os policiais.

Já o pai da outra pessoa não é.

A questão é que cantaram a bola errada e pegaram você, porque você estuda na mesma faculdade desse elemento.

Peço-lhe que você esqueça o meu rosto, porque, se o lembrar, vai morrer seu pai, sua mãe, todo mundo de quem você gosta e você também.

Mas, se você não ajudar no reconhecimento, nas investigações, terá uma vida normal.

Agora, o erro destes imbecis vai viabilizar nossa operação.

Nós vamos deixar marcas em você para mostrar aos delegados do mal que somos nós e estamos dispostos a fazer.

Você vai sofrer um pouco, mas vai ser necessário.

O jovem disse: - Não entendo por que isso aí. - Não dá para entender, mas depois de tudo você vai entender.

Respondeu o líder.

A camisa do jovem foi arrancada, e começou a receber uma sessão de tortura: um instrumento pontiagudo.

O jovem não identificou se um punhal ou se uma faca.

Começaram a riscar-lhe o corpo, como se estivesse formando desenhos e palavras.

Em seguida, o jovem sentiu um furo profundo no peito.

O homem disse: - Não mexa nesse local, em seu peito.

Ele entregou-lhe um bilhete e explicou-lhe o que fazer: - Você vai levar isso e não vai entregar a ninguém.

Você vai entregar a seu pai.

Vou libertá-lo, agora vai para casa.

O jovem foi pego e vestiu a camisa.

Estava muito nervoso e vomitando, devido à quantidade de agressões.

A sua vontade era só sair daquele local e voltar para a família.

Então, colocaram-no em um carro.

O rapaz percebeu outro carro a segui-los.

Um silêncio total.

Chegando a uma determinada altura, o homem determinou: - Vamos descer.

O jovem desceu.

O homem pediu para que se deitasse.

Assim fez.

O homem falou: - Vou deixar suas mãos liberadas e você vai contar até duzentos.

Quando perceber não haver mais nada, pode tira o capuz.

O jovem estava tremendo, com medo, pensando ser o momento de sua execução.

Contou até duzentos.

Em vez de contar rápido, fê-lo lentamente, porque cada número a menos poderia ser um momento a mais de vida.

Os carros afastaram-se.

Contou até duzentos, mesmo assim, esperou um pouco, depois resolveu tirar o capuz com cuidado.

Escuridão imensa.

O jovem viu, ao fundo, existir uma favela e uma mata.

O seu carro estava atrás dele.

Assim, resolveu ir até o carro.

A porta estava aberta e a chave na ignição.

Ligou o carro imaginando que explodiria a qualquer momento, como uma queima de arquivo.

Procurou a saída daquela área.

Encontrou a pista e dirigiu-se para casa.

Quando chegou na esquina de sua residência viu inúmeras viaturas de polícia.

As viaturas paradas, desceu do carro.

O pai olhou para ele.

A mãe saiu e correu chorando.

Quando ela se aproximou e viu o estado em que o filho se encontrava, desmaiou.

O pai não teve reação.

Não abraçou o filho perante aquela cena: Ele, totalmente ensanguentado, com as roupas rasgadas, o olho e a boca inchada.

O jovem aproximou-se do pai e deu-lhe um abraço.

O pai abraçou-o fortemente e chorou.

Inquiriu sobre o acontecido.

Entraram.

A mãe, desesperada, chorava.

O pai não esperou o filho contar a história.

Pegou o filho, colocou-o em uma viatura e foi refazer o trajeto.

O rapaz tentou refazer, mas começou a chorar e a vomitar.

No vômito saiu sangue.

O pai, preocupado, levou o filho para o hospital.

Após o exame, ficou internado.

Durante a semana, o jovem recebeu a visita de vários delegados, além de várias fotografias.

Ele desconhecia o teor do bilhete, pois o pai não havia o informado, nem o que havia no peito pregado.

As investigações começaram e várias fotos foram vistas.

O filho do delegado estava com medo de reconhecer alguém.

O que chamou a atenção do rapaz é serem as fotos de policiais e ex-policiais.

Dessa forma, perguntou ao pai: - O que aconteceu?

Quem foi que me sequestrou?

O pai respondeu: - Você foi pego por policiais que estavam sendo investigados por vários crimes.

Você vai andar com segurança durante um tempo.

A nossa família inteira estará com segurança.

Você não vai poder ir a casa de sua noiva, até por segurança dela.

Ela também vai ter segurança.

Você vai ter que ficar em casa e daqui para a faculdade vai ter gente.

Imagine você ter dezenove para vinte anos, estar estudando e não poder sair com os amigos, não poder namorar e nem ir ao cinema.

Além de, na porta da faculdade, ter sempre um policial olhando para você, sendo isto motivo de gozação e preconceitos.

Aquilo era uma necessidade.

Em um determinado dia ocorreu mais uma investigação com mais um bloco de fotos.

O jovem viu uma foto do homem que salvou a sua vida e seu instinto não conseguiu disfarçar, embora tenha tentado, o pai logo observou reação ao ver uma determinada foto.

O filho não queria, em hipótese alguma, denunciar o homem, ora por medo do que acontecesse com a sua família, ora por gratidão, pois aquele homem havia-lhe salvado a vida, na opinião dos outros estaria morto.

O faro do pai foi em cima, a reação perante a foto o denunciou.

O pai falou e o filho disse aos policiais, que estavam investigando o caso, que não havia reconhecido nenhum dos apresentados.

Passado o ocorrido, quando o rapaz chegou em casa, o pai estava o esperando e disse-lhe: - Foi aquele cara.

Ele nunca havia mentido para o pai. - Realmente, pai, não posso mentir, mas o cara salvou a minha vida.

Eu queria que nada acontecesse com ele.

O pai nem sequer ouviu qualquer tipo de apelo do filho.

Imediatamente, saiu de casa.

Passou cinco dias fora de casa.

A mãe e os filhos, já desesperados, perguntavam “O que foi que aconteceu?”.

Os amigos diziam: - Ele está em uma missão.

Cinco dias depois o pai voltou: - Meu filho, viva a sua vida, não tenha medo de mais nada.

Está tudo resolvido.

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