A delação das delações Por Bernardo Melo Franco, na Folha de São Paulo Os armários da Odebrecht guardam dinamite suficiente para implodir os maiores partidos brasileiros. É por isso que Brasília tremeu com a notícia de que a empreiteira decidiu fazer um acordo de delação com a Lava Jato.
Ao anunciar uma “colaboração definitiva” com as investigações, a empresa sinalizou que ainda tem muito a revelar.
Tem mesmo.
Suas relações com a política brasileira são antigas, íntimas e duradouras.
Vão muito além da simpatia e das doações registradas na Justiça Eleitoral.
Para o PT e o governo, a delação pode ser arrasadora.
Além de tocar alguns dos maiores investimentos da Petrobras, a Odebrecht participou da construção dos estádios da Copa e das grandes obras do PAC.
Também foi recordista em empréstimos do BNDES para projetos no exterior. É improvável que esses negócios não tenham seguido o padrão petrolão de superfaturamento.
A empreiteira também poderá quebrar o silêncio sobre as relações com o ex-presidente Lula.
Desde que deixou o poder, ele viajou o mundo em jatinhos fretados pela empresa.
Recebeu um total de R$ 3,9 milhões, entre pagamentos à empresa de palestras e doações ao instituto.
Os procuradores sustentam a tese de que os repasses estariam ligados a gestões no governo Dilma.
O ex-presidente diz que nunca praticou tráfico de influência.
Agora teremos a chance de ouvir a versão da empresa, que vinha se recusando a colaborar.
A outra novidade é que a Lava Jato ganhou subsídios para investigar os repasses da Odebrecht a políticos de mais partidos, incluindo os de oposição.
Nesta quarta (23), tucanos como Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin apareceram em planilhas da empresa ao lado de valores numéricos.
Eles têm direito à presunção de inocência e poderão explicar o que faziam na lista.
Isso também tende a ser bom para a Lava Jato.
Sob suspeita crescente de partidarismo, os investigadores ganharam uma oportunidade para rebater as acusações com a prática.
Basta dar o mesmo tratamento a todos.