O direito de escolher Por Evaldo Costa, jornalista e ex-asessor de Eduardo Campos Um dos fatores agravantes da crise política que estamos vivendo é a ação de uma minoria ativa e ruidosa que domina os canais de expressão pública e faz parecer que todos nós, os milhões de brasileiros espalhados por todos os recantos do território nacional, pensamos igual a eles.
De forma calculada, a minoria ruidosa faz todo esse barulho exatamente para parecer que fala por mim e por você que me lê, sem que tenhamos sido sequer consultados.
A tática é antiga.
Chama-se construir a polarização.
Dividida em dois grupos, troca sopapos nas esquinas e se açoita nas redes sociais.
São inimigos, mas também aliados.
Brigando entre si, os dois saem ganhando.
Agressivamente, procura constranger o debate político com técnicas de intimidação assemelhadas às do fascismo.
Ninguém pode apontar algo positivo na ação de um governo de 13 anos de duração sem ser acusado de comprometimento com a corrupção.
Ninguém pode criticar os desvios e a pressão política indevida sobre o Judiciário sem ser chamado de golpista.
Neste domingo vimos outra vez este filme.
Independentemente do que dizem os criativos contadores de multidões, de fato houve muita gente nas ruas.
Mas é inegável também que muita gente que teria o que dizer, contra ou a favor do governo, ficou em casa por não se sentir confortável nem ao lado de quem pede ditadura nem na companhia de quem, diante das revelações da Lava-Jato, diz que errados são os juízes, não quem se apossou do patrimônio público.
Falei em fascismo e reafirmo.
Ou não há traços inaceitavelmente autoritários no açulamento de turbas para atacar fisicamente adversários? É mentira que impeachment é golpe.
Trata-se de instituto legitimamente inserido na Constituição pela Assembleia que elegemos.
Também não é verdade que estejamos precisando mudar o regime político igualmente constitucional.
A solução para nossos problemas deve ser encontrada dentro da ordem jurídica que construímos da forma mais democrática de sempre.
O Brasil é muito mais sofisticado do que esse pobre menu binário.
Nunca fomos o povo que aceita o prato feito proposto no cardápio.
Mesmo no passado remoto, quando outros países latino-americanos em estágio civilizatório equivalente se dividiram e se estraçalharam em guerras selvagens, o Brasil quase sempre fez escolhas mais complexas, construindo sínteses dialéticas mais ricas, mais pacifistas e mais progressistas.
Eu disse quase porque também fizemos guerras absurdas.
Entre se tornar independente ao cabo de uma guerra civil sangrenta, com dezenas de milhares de baixas na população civil, o Brasil preferiu um arranjo “pelo alto”, lento, mas pacífico, dividindo a família imperial portuguesa.
Não foi o caminho que eu preferiria.
Mas é o tipo de escolha que marca a nossa história desde sempre.
E é com essa capacidade de se reinventar, fugindo das fórmulas prontas, que o Brasil vai superar esse momento de confrontação nociva e sem sentido.
Entre um radicalismo e o outro, o Brasil vai dizer não aos dois e encontrar a nova trilha, o eixo do futuro.
E tudo começa por recusarmos a falsa dicotomia.
Entre o inseto e o inseticida, escolhemos o chinelo.
Entre o sujo e o mal lavado, ficaremos com o chuveiro.