Por Nelson Pedro-Silva Sei que é habitual comparar o Governo FHC com o do Lula.
Acontece que, praticamente, inexistia CPI no governo do primeiro.
Na época, o promotor geral da República era identificado como o “engavetador” nacional.
Também se sabe que ainda vive-se sob o império de uma mentalidade aristocrática, preconceituosa em relação aos seus não iguais.
Sabe-se ainda dos discursos de ódio emitidos contra Lula, assim como em relação aos nordestinos, pobres (principalmente, quando eles recebem auxílio pecuniário), negros, homossexuais, mulheres, deficientes e não portadores de diploma universitário.
Considerando esse quadro, destaco: 1) como as baratas que saem dos esgotos no verão, os citados Promotores estão fazendo o mesmo, pois as condições econômicas e políticas atuais não estão propícias, provavelmente pela qualidade lamentável da maioria dos representantes do Congresso; pela base de apoio predatória; pelo inconformismo com os resultados das últimas eleições, a ponto de alguns desejarem a volta do Regime Militar ou o impeachment da Presidenta, logo depois dos resultados; pela situação econômica mundial a influenciar a nossa; pelas condições climáticas atípicas; mais do que a corrupção, pela falta de competência técnica ou de vontade gerencial dos servidores públicos; pela inabilidade da presidenta para lidar com questões políticas; pelo descompromisso, irresponsabilidade, corrupção, estelionato eleitoral dos governadores e prefeitos e pela maioria da mídia, que tem sido extremamente irresponsável, a ponto de beirar o absurdo.
Quisera que a situação econômica estivesse propícia e nada disso aconteceria ou não seria dada tanta manchete (para tristeza de muitos). 2) é dever dos Promotores investigar e zelar pela coisa pública.
Contudo, estranha-me o fato de tais “magistrados” de São Paulo fazerem “corpo mole” em relação aos escândalos da merenda e do mono trilho, a escassez e a racionalização de água, a cobrança de ICMS sobre a energia elétrica, em tempos de crise energética; 3) a prisão preventiva é aplicada quando é determinada pela Justiça para impedir que o acusado (réu) atrapalhe a investigação, a ordem pública ou econômica e aplicação da lei.
Indago: o Lula está atrapalhando as investigações?
Informo que foi só a partir do seu governo que a instituição CPI passou a ser efetivamente uma instituição.
A situação é tão absurda que o Líder do PSDB pediu prudência.
O que Lula está fazendo é tentar convencer a todos sobre o processo de judicialização da esfera política.
O que pensar?
O ódio contra os grupos minoritários e/ou os marginalizados é terrível e preocupante, pois beira o fascismo.
Indago: Isso só porque os pobres passaram a ter o direito de ter um automóvel, impedindo que os outrora julgados ricos pudessem passear com os seus veículos sem enfrentar tantos engarrafamentos?
Contra as linhas exclusivas de ônibus e as ciclovias que tornou mais difícil fazer uso de carros particulares e os pobres, por meio de transporte coletivo, cheguem mais cedo em casa e, assim, possam dedicar mais tempo para a família?
Em tempo: a Polícia Federal vivia em frangalhos, antes do governo Lula.
Só passou a serem vistas como instituições respeitadas graças à valorização dos seus salários e o seu reaparelhamento.
Talvez não tenha acontecido isso com os Promotores de São Paulo.
Nesse caso, a culpa deve ser imputada aos 25 anos do governo do PSDB que, só para ficar num exemplo, tem acabado com a USP, UNESP e UNICAMP, que ainda – a duras penas – tentam continuar a ser os maiores centros produtores de pesquisa da América Latina.
Outro dado: até considero o Sr.
Lula ingênuo e, como diz o ditado: “pobre não come doce; quando o come, se lambuza”.
Porém, por conta de alguns milhões, penso que ele jamais jogaria a sua biografia de um dos maiores estadistas brasileiros.
Pensar dessa forma, é ingenuidade, leviandade ou crime.
Promotores, gostaria que os Senhores tivessem a mesma disposição em relação aos fatos que têm ocorrido no Estado paulistano, outrora, minha terra da garoa.
Nelson Pedro-Silva é professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp em Assis, São Paulo.