Estadão Conteúdo - Após a indecisão sobre qual posicionamento o governo deveria adotar em relação às manifestações que ocorreram ontem, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, recebeu no início da tarde desta segunda-feira, 14, em duas rodadas, grupos de jornalistas para declarar a opinião do governo Dilma Rousseff sobre os atos.

Apesar de reconhecer o vigor dos protestos, o ministro garantiu que a agenda do governo não muda e destacou o fato de as manifestações terem sido “patrocinadas”. “Há o reconhecimento de que a manifestação foi vigorosa, e há o reconhecimento que, das últimas, foi a mais produzida, com envolvimento de federações e empresas”, afirmou, destacando que isso “não tira o valor” dos protestos.

LEIA TAMBÉM: > Eduardo Cunha quer instalar até sexta comissão para analisar impeachment de Dilma > Governo aposta em ato com presença de Lula para mostrar resistência ao impeachment > Governo fica surpreso com tamanho da manifestação e aliviado com caráter pacífico > Para oposição, público de domingo irá acelerar processo no Congresso Para o ministro, “o bom ou mau humor” da rua tem a ver com o bom ou mau humor da economia e, apesar de dizer que o governo não tem solução mágica para a crise, salientou que “o impeachment não é remédio nem para crise econômica nem impopularidade”.

O ministro rechaçou ainda a comparação das manifestações de ontem com os protestos que pediam as Diretas Já e disse que essa análise “é absolutamente indevida” e que era outro momento. “Nas diretas ninguém patrocinou”, disse. “São naturezas diferentes, numericamente não sei, mas do ponto de vista motivacional é totalmente diferente.” Na maior manifestação da história do País, milhões de brasileiros foram às ruas ontem, em pelo menos 239 cidades nas cinco regiões, pedir a saída da presidente Dilma.

De acordo com institutos de pesquisa, Polícia Militar e historiadores consultados pelo jornal O Estado de S.

Paulo, os atos públicos de ontem superaram em adesão as manifestações das Diretas Já (movimento pelo fim da ditadura entre 1983 1984) e do movimento conhecido como Junho de 2013 (série de protestos desencadeada pelo aumento do preço das passagens do transporte público).

Wagner destacou que há um claro foco de insatisfação com o governo e insistiu que o perfil dos que foram protestar era “claramente oposicionista” e provavelmente de eleitores do senador tucano Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado por Dilma nas eleições.

Apesar disso, o ministro salientou que os protestos mostraram a negação da política, até porque “os parlamentares da oposição não tiveram beneplácito”. “Quem achou que ia faturar, não faturou”, afirmou.

Para o ministro, os atos de domingo dão mais responsabilidade para quem está no comando das instituições e aumentam a preocupação no sentido de que eles não apontam uma solução e, às vezes, partem para um ataque pessoal. “Mesma pressão que a rua faz contra corrupção tem que fazer pela reforma política.

Essa era a bandeira que deveria ser levantada, senão não muda nada”, afirmou.

Ao destacar que a classe política foi o principal alvo de insatisfação, Wagner afirmou ainda que o juiz Sérgio Moro, que comanda a Operação Lava Jato “traçou um plano de criminalização da política”. “O rei da festa foi o Moro”.