Por Osvaldo Matos, publicitário e sociólogo em seu livro A Lei do Cão Nos anos noventa, em uma cidade pacata do interior de Dos Montes, com 20.000 habitantes, o comércio começava ativamente com mais um dia de feira, quando se escutou um tiro.
Como a cidade era muito pequena, o tiro foi ouvido, praticamente, em toda a região comercial da cidade.
Houve uma correria próximo ao prédio da prefeitura.
Uma senhora estava estendida, morta. - O que foi que aconteceu? - Zé Prequé endoidou, pegou a arma de caça, atirou nesta senhora e correu para a casa dele.
A casa de Zé Prequé ficava em um alto, local que parecia até pensado, pela construção, para uma ação do tipo que iria se desenrolar.
Zé Prequé entrou em casa e começou a atirar a esmo.
Imediatamente, os policiais daquela cidade, um sargento, não tinha delegado, e quatro soldados, por ser dia de feira, eles estavam de serviço.
Foram à casa de Zé Prequé com um carro velho emprestado da prefeitura.
O sargento tentou negociar com Zé Prequé, conhecido em toda a cidade, e sem tomar nenhum tipo de cuidado, foi logo dizendo: - Zé Prequé, é o seu amigo, o sargento Souza.
O que está acontecendo? É melhor você se entregar.
Foi quando começou um diálogo, o sargento tentando chamá-lo à realidade.
Zé Prequé tinha esposa e filhos.
O sargento quis convencê-lo de que seria julgado pelo acontecido com a senhora, mas havia vários fatores, ele poderia pegar uma pena menor se se entregasse e, como ele estava atirando a esmo, poderia ferir outras pessoas.
De repente, um novo tiro se escuta, atingindo a cabeça do sargento e causando morte instantânea.
Os soldados não sabiam mais o que fazer.
Tentaram colocar-se em posição de defesa, atrás de postes e árvores.
A casa era no alto com a vista para todo canto: para a área de passagem de pedestre e de carros.
Mas Zé Prequé continuava dando tiros para todo lado.
Um soldado correu e tentou fazer uma ligação para o batalhão da área.
O comandante conversou com o soldado e prometeu enviar reforços, orientando-o a atirar contra a casa para manter a pessoa assustada, dar alguns tiros e ver se ele revidaria.
Orientou, também, para o soldado ficar de olho nas janelas e na hora que aparecesse alguma coisa, era para atirar.
Se caso faltasse munição, fosse buscar em qualquer lugar da cidade até o reforço chegar.
Os soldados assim fizeram.
Como não conseguiram nem resgatar o corpo do sargento, de tanto medo que estavam, o corpo permanecia estendido.
E a qualquer sinal de movimentação Zé Prequé voltava a atirar.
Assim se passaram duas horas.
O clima na cidade estava tenso, quando o reforço chegou.
Vieram as viaturas, mais vinte homens e armamentos, embora ainda deficitário.
A cidade mais próxima estava a cem quilômetros e era, justamente, a sede do comando daquela área.
Vieram também a polícia de segurança pública e os delegados.
Assim, uma nova tentativa de negociação foi feita por um tenente jovem vindo da sede.
Ele disse: - Eu tenho uma argumentação.
Ele estava com um megafone e com o colete à prova de balas.
Começou, então, a negociar.
Zé Prequé gritou: - Eu não negocio com quem não vejo.
Quero ver a sua cara.
O tenente, achando que a negociação estava boa, começou a aparecer com o megafone e disse estar desarmado.
Zé Prequé pôs-se a conversar: - Eu quero que o senhor me convença porque devo me entregar?
E de que vocês não vão me matar, pois matei um de vocês.
O tenente justificou que a polícia não existia para matar, e sim para prender e havia muitas testemunhas no local, além da imprensa.
Ele poderia se render, pois estava seguro.
Assim se passou um diálogo de quase vinte minutos.
Nesse ínterim, chegou a filha de Zé Prequé, uma criança de dez anos, a esposa e a mãe.
Todos tentaram conversar.
O tenente foi relaxando da guarda, achando que Zé Prequé poderia se entregar a qualquer momento.
De repente, houve um outro tiro, dessa vez no braço do tenente.
O impacto da bala levou o tenente ao chão.
Com isso, houve uma saraivada de balas por parte dos outros policiais em torno da casa de Zé Prequé.
Imediatamente, na saraivada, alguns policiais tiraram o tenente da área de tiro, para ser socorrido.
O comandante, em deslocamento, vindo de uma reunião em outra cidade, foi informado, pelo rádio do carro da polícia, da situação.
Então, o comandante falou: - Eu já pedi que uma unidade de choque fosse até aí, porque eu quero que a viatura blindada e um trator da prefeitura derrubem a casa, pois não tem jeito de tirar esse cara daí.
Foi feito um estudo da casa e não tem condições de aproximação para jogar uma granada.
Além do fato de nessa época a polícia não ter condições de fazer uma abordagem mais tática.
Novamente, Zé Prequé começou a atirar para todos os lados.
Mais um policial foi ferido.
Sabendo que a vontade de Zé Prequé era de se tornar um marco, por um estado de loucura, o comandante disse: - Agora nós devemos ir de todo o jeito e usar os elementos que forem possíveis.
Diante daquele quadro de quase cinco horas de negociação, a ordem de tiro em direção à casa foi constante, para que não houvesse tempo de Zé Prequé pensar.
Nesse intervalo, chegou uma metralhadora antiga, a mais possante existente no quartel, pois derrubava até helicóptero.
Foi colocada em prática com mais uma saraivada de balas que perfuraram os tijolos da casa e foram detonados.
Zé Prequé ficou em silêncio, dessa forma, os policiais pensaram haver resolvido e já estavam começando a comemorar, quando uma nova saraivada de tiros saiu da casa e mais um policial foi ferido.
O comandante, que havia chegado ao local, ficou desesperado com a falta de recursos.
Novas tropas chegaram, o cerco feito na casa continuava, mas ele via que pela sua posição estratégica, não tinha como fazer uma abordagem.
A casa estava em um local que, a qualquer movimento, Zé Prequé poderia derrubar mais um.
Não era de se esperar, em um determinado momento, Zé Prequé gritou: - Eu vou sair, eu quero que vocês me garantam não acontecer nada comigo, porque eu sou doente mental, tomo remédio controlado e quero sair.
O comandante pensou: Zé Prequé vai sair e apresentar o laudo de um médico dizendo ser doente mental e os meus policiais mortos e feridos, além da senhora que morreu, vão ficar impunes.
O comandante não pensou duas vezes: posicionou o seu melhor atirador e disse a Zé Prequé: - Saia.
Zé Prequé disse: - Eu estou garantido?
O comandante disse: - Saia.
Zé Prequé voltou a perguntar: - Não vai acontecer nada comigo?
O comandante disse: - Pode sair, fique tranquilo.
Saia com a arma.
Jogue a arma e depois levante as mãos.
Zé Prequé recuperou o melhor juízo e resolveu sair.
Quando Zé Prequé fez o movimento de jogar a arma, o comandante ordenou o tiro fatal.
O policial efetuou o tiro certeiro, com isso, Zé Prequé ajoelhou-se.
Imediatamente, com um instinto quase animal, todos os policiais presentes no local atiraram em Zé Prequé.
Centenas de tiros.
A morte de Zé Prequé foi comemorada como uma lavagem de alma após essa operação.
Quando entraram na casa, encontraram vários medicamentos de controle e receitas médicas.
Mas, Zé Prequé já estava morto.
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