Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas Estadão Conteúdo - Em busca de apoio político, o governo dará um desconto de 40% nas prestações das dívidas dos Estados com o Tesouro pelo prazo de um ano, segundo fontes da área econômica.
Mas a estratégia do governo, ainda em análise, poderá ser a de enviar ao Congresso na semana que vem um projeto com desconto de 20%, para haver espaço de negociação.
Em contrapartida ao socorro, o governo quer apoio à volta da CPMF.
O desconto deverá trazer alívio adicional ao caixa dos Estados, que hoje estão pressionados por um lado pela queda da arrecadação e, por outro, pelo crescimento das despesas de pessoal.
Reduzindo o pagamento da dívida, sobrarão mais recursos para atender a outras prioridades.
O resultado, porém, é que os governos estaduais terão um resultado primário (a diferença entre a arrecadação e as despesas não financeiras) menor do que o esperado.
Além do desconto, cujo impacto não foi informado, o governo aceitou alongar a dívida por 20 anos e por 10 anos para o pagamento do financiamento dos Estados com o BNDES.
O impacto dessa medida é calculado em R$ 37 bilhões em três anos.
Os efeitos em 2016 foram estimados em R$ 12 bilhões.
Esse valor não considera a redução da prestação com desconto, que deixará mais espaço para gastos.
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Se essa proposta for aprovada, portanto, o déficit, ao fim do ano, deve ser superior aos R$ 60,4 bilhões já anunciados e, ainda assim, a meta fiscal será dada como cumprida.
A criação da banda depende da aprovação de um projeto de lei a ser enviado ao Congresso ainda este mês. “É uma medida que vai permitir que os Estados consigam atravessar o ano”, disse à reportagem o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dyogo Oliveira. “E ela virá acompanhada de novas regras de condução fiscal que preservarão a saúde financeira dos Estados”, como a proibição de contratarem mais crédito e a adoção de um programa de redução gradual de gastos com folha salarial.
O alívio financeiro aos Estados, no entanto, é visto com preocupação por especialistas.
O professor titular de direito financeiro da Universidade de São Paulo (USP), Heleno Torres, avaliou que a proposta aumenta a dívida do setor público e o governo corre grande risco de os parlamentares ampliarem ainda mais os benefícios durante a votação do projeto no Congresso, porque a base governista está muito frágil.
Para o especialista em finanças públicas Fernando Montero, economista-chefe da corretora Tullett Prebon, a medida piora as contas públicas, mas a redução do crédito pelos Estados pode ser positiva.
Segundo ele, o déficit dos governos regionais, que deverá ocorrer por conta do socorro aos Estados, é agora um problema menor diante de tantas variáveis “dramáticas” para as finanças públicas, como o tombo das receitas, a recessão e os juros elevados.
As informações são do jornal O Estado de S.
Paulo.