Por Osvaldo Matos, publicitário e sociólogo em seu livro A Lei do Cão Saber resistir à violência é forte, mas vulgar; saber resistir à calúnia e aos motejos é maior esforço e mais raro.

Alexandre Herculano Sexta-feira, cinco horas da tarde, anos setenta.

A ditadura comendo solto, havendo perseguições e muitos desaparecimentos.

Na base aérea havia um avião, a guarda e mais uma missão.

Após alguns instantes, chegou uma viatura estilo camburão, com cinco presos encapuzados, acorrentados e algemados que, em fila indiana, embarcaram num avião de carga, pequeno.

O tempo passava e vinha a indecisão, os pensamentos e uma atmosfera de que algo iria acontecer: “Onde é que eu estou?”, os presos se perguntavam.

Eles ouviram um barulho de moto e de carro que parecia se encostar ao hangar da base aérea.

Do carro, desceu um general famoso pelas suas atrocidades e pelas suas participações em torturas e em atividades barra pesadas, veterano em revoluções, com cursos internacionais nas escolas das Américas.

Esse general faria mais uma das suas atribuladas e violentas páginas da vida.

Entrou no avião, acompanhado de seu ajudante de ordens, mais um importante delegado, querido pelo regime militar.

Conversa vai, conversa vem.

Os soldados se perguntavam: - Quem são esses, agora? - Esses são integrantes de uma célula comunista, nós pegamo-los na área da mata, pessoas perigosíssimas.

O que um dos soldados não entendia era que tipo de perigo poderiam oferecer, como célula comunista, aquelas pessoas franzinas e magras, apresentando até um ar de trabalhadores rurais.

Ninguém cogitava, se era não o que afirmavam.

Os soldados acompanhavam tudo, era só prestarem continência e atenderem aos pedidos dos superiores.

Quando o avião decolou, umas seis e meia para sete horas da noite, deu uma volta e foi possível ver uma vista deslumbrante do litoral da cidade de Tropicana, as luzes começavam a acender, era verão.

Após um tempo, o avião atingiu uma altitude onde se via praticamente um ponto de luz, nem dava para medir a altitude.

O avião começou a estabilizar, voou por mais uns vinte minutos, e veio a ordem do general: - Está na hora.

Os soldados foram ordenados a pegarem um a um dos cincos presos.

Em seguida, o general fez perguntas no pé do ouvido das pessoas e pediu que respondessem baixo.

Se a resposta fosse a contento seriam poupados, senão o general iria empurrá-los avião abaixo aos tubarões.

A porta foi aberta, todos estavam a uma altura em que o avião, por ser antigo, não estava pressurizado.

Quando a porta abriu o general começou a fazer os questionamentos no ouvido.

Tirou-se o capuz de um dos presos que começou a entrar em desespero.

O que se viu depois foi cada um sendo jogado, sem paraquedas, ao mar.

O que deixou os soldados mais impressionados foi que em volta do pescoço de cada preso era colocada uma corda amarrada a uma pedra.

Assim foi até o quarto.

Chegando no quinto, um senhor idoso, o general fez-lhe uma pergunta no pé do ouvido.

Ao ouvir-lhe a respota, o general riu, riu muito com aquele senhor e resolveu poupá-lo.

Com isso, fecharam as portas do avião e retornaram à base.

O senhor passou a noite inteira por um processo de tortura, no outro dia, foi liberado.

Oito dias depois, noticiaram nas páginas dos jornais ter ele se matar com um tiro na cabeça.

LEIA MAIS: » Blog de Jamildo publica livro em capítulos » A orelha do jegue » Mata fome » Pense num genro » O prefeito cara de pau » O aviador mijão » Mão na Venta » Indultado para o terror