Por Osvaldo Matos, publicitário e sociólogo em seu livro A Lei do Cão Apenas a violência pode servir onde reina a violência, e apenas os homens podem servir onde existem homens.

Bertolt Brecht Certo dia, um presidiário recebeu indulto para passar o Natal com a família.

Ao chegar em casa, o presidiário encontrou o filho, que trabalhava como motorista na casa de um executivo de uma multinacional.

O filho havia passado em casa para ver o pai, porque ia ficar o Natal com essa família, dirigindo em um carro caro para a época.

O carro chamou a atenção do pai: - Oh, filho, para quem você está trabalhando? - Estou trabalhando para um executivo.

Inclusive, pai, ele vai ficar sozinho porque a família dele está fora, por isso, vai passar o Natal em um restaurante com os amigos. - Ele tem dinheiro? - Tem.

A mente doentia do pai começou a armar um plano para assaltar o empresário.

Pensou: “Já que o Natal não vai prestar, ao menos o final de ano da minha família vai prestar”.

Quando chegou, a casa não havia nada.

Não tinha comida, não tinha o peru, não tinha nem galinha.

Não tinha nada.

Ele, um presidiário.

A família trabalhava para tentar manter um padrão, tinha assassinado uma pessoa (um latrocínio: roubo seguido de morte).

No presídio, passou por momentos difíceis, pois a situação do sistema prisional nos países de terceiro mundo é escola de doutorado do crime.

O pai perguntou ao filho o local onde o executivo ia almoçar, jantar e passar o Natal.

Perguntou, também, a que horas o filho o pegaria.

Em seguida, chamou um colega de presídio, também solto, e disse-lhe: - Isso é uma moleza, vamos praticar essa parada que é moleza.

A gente vai pegar o cara e vai conseguir uma grana.

Vamos na casa dele, pois esse cara deve ter grana em casa e deve ter joias.

A gente se faz e depois solta o cara.

O plano foi posto para funcionar.

O filho, sem saber de nada, seria rendido pelo comparsa.

Este era o plano: - Tu rende o meu filho, segura e amarra ele.

E a gente vai embora com o carro.

Eles iriam trabalhar disfarçados, encapuzados.

Quando o carro saiu do restaurante e pegou a primeira esquina da rua mais vazia da cidade, os ex-presidiários deram o bote.

Estavam de moto.

Pararam o menino, já desesperado, e pediram para ter calma.

Embora ambos estivessem com capuz, pela voz, o rapaz reconheceu o pai.

Enquanto o comparsa tentava amarrar o v, o executivo ficou desesperado e começou a lutar contra o pai do motorista que tentou agredi-lo.

Com a luta, o pai resolveu tomar uma postura mais violenta para calar o executivo.

Nessa atitude, o presidiário mentor falou.

Foi nesse momento que o filho teve a certeza de que o ladrão era o pai.

Em seguida, todos foram à casa do executivo.

O motorista ficou parado e pensando no local, de olhos vendados e as mãos amarradas, sem defesa.

Era madrugada e a rua deserta.

Chegados à casa do executivo, reviraram a casa e conseguiram pegar dinheiro, joias e objetos de valor.

O comparsa, na cozinha, tomava todo tipo de bebida alcoólica possível.

O pai do rapaz procurava as joias, enquanto o executivo ficava amarrado em um dos quartos.

Quando chegou a hora de ir embora, o comparsa completamente embriagado, falou: - Vamos colocar ele em outro quarto e vamos embora.

O chefe deu um esporro pelo fato do comparsa ter bebido, aquilo era um absurdo.

Nesse ínterim, passou pelo local onde o jovem estava amarrado, na rua, uma viatura da polícia.

Ele, com medo do que acontecesse com o executivo, disse ter reconhecido a voz do pai.

Imediatamente, a polícia armou um cerco e chegou na casa antes dos assaltantes saírem.

Os dois resolveram resistir à prisão.

Pediram resgate e pediram um carro para saírem com o refém.

Como o jovem estava lá, a polícia o usou para pedir ao pai para se entregar.

Mas, o pai não queria voltar ao presídio, havia saído no indulto de Natal e tinha em sua cabeça fugir.

Não iria voltar.

Uma troca de tiros começou.

Quando eles perceberam que a polícia tinha resolvido invadir a casa, deu-se uma grande troca de tiros.

A polícia invadiu a casa e conseguiu prender os dois ladrões e salvar o executivo com vida.

O que ninguém esperava aconteceu: na hora do tiroteio, quando todos estavam pensando em se proteger, um tiro pegou na cabeça do jovem (filho do marginal, o único motivo de orgulho).

Morreu instantaneamente.

O pior deu-se, após a realização da perícia, descobriram ser a bala que havia atingido o motorista, ter sido disparada da pistola de seu pai.

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