Foto: ABR Por Alexandre Conceição* na Folha de S.
Paulo Foram muitas as torcidas para que o conturbado ano de 2015 acabasse e recomeçasse uma nova etapa na política nacional.
Pois bem, chegado o novo ano, os desafios não parecem ser muito diferentes. É sabido que vivemos um período de graves crises –políticas, econômicas, sociais e até mesmo ambientais.
Todas correlacionam-se de alguma maneira.
No entanto, é provável que a primeira grande batalha deste ano seja a novela do processo de impeachment da presidenta Dilma.
Já derrotado nas ruas, sem base jurídica e motivado apenas por razões oportunistas e revanchistas de Eduardo Cunha, deve ser enterrado até abril.
Essa, portanto, não será a maior das preocupações para este ano.
Passado o desfecho, ainda restam ao menos duas grandes questões a serem enfrentadas pelo governo e pelo conjunto da sociedade: as crises econômica e política.
O primeiro ano do atual mandato de Dilma, como uma forte política neoliberal marcada pela austeridade, teve diversos erros que agravaram a crise econômica.
Redução dos gastos públicos, baixo investimento no setor produtivo e o aumento da taxa de juros foram alguns desses equívocos que desestimularam qualquer possibilidade de crescimento.
Este ano começou com um novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.
A simples mudança de gerência, contudo, não significa uma modificação automática nos rumos da economia. É preciso que mude o tom da política econômica.
Um exemplo disso seria baixar a altíssima taxa Selic, responsável por transferir mais de R$ 500 bilhões em juros e amortização aos bancos.
Esse capital deveria ser direcionado a setores que impulsionam a economia, como os programas sociais, o setor produtivo e as empresas estatais, gerando emprego e renda.
Além disso, há a necessidade de buscar novas formas de arrecadação para o Estado, por meio de uma reforma tributária eficiente.
Apenas a taxação de grandes fortunas, por exemplo, poderia render cerca de R$ 100 bilhões por ano.
Sobre a crise política, a questão é mais complexa.
Não se trata apenas de governo X ou Y, mas da falência do nosso sistema de representação.
A população não se reconhece mais em seus representantes, o Congresso Nacional debate pautas reacionárias e contrárias aos interesses do povo, como a reversão de direitos sociais e trabalhistas conquistados nos últimos anos.
Nosso sistema político foi sequestrado pelo financiamento privado de campanhas.
O povo não tem mais participação ativa na gestão do país.
Diante desse cenário, é imprescindível uma reforma do sistema político.
Todavia, ela não pode ser conduzida pelas mesmas pessoas beneficiadas pelo atual modelo. É urgente a realização de uma Assembleia Constituinte exclusiva e soberana, na qual os mais diversos setores da sociedade civil possam de fato decidir os rumos da política brasileira.
Quanto ao governo, seu tempo está acabando.
Precisa, de uma vez por todas, demonstrar sinais claros de mudança, assim como sinalizar de qual lado realmente está.
Caso contrário, as crises apenas se aprofundarão, agravando os problemas da economia e da classe trabalhadora, o que nos levará a um cenário drástico até 2018. *Alexandre Conceição integra a coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)