Estadão Conteúdo - O empresário Marcelo Odebrecht ficou em silêncio nesta terça-feira, 23, na Polícia Federal em Curitiba.
Ele alegou que primeiro precisa ter acesso aos autos da Operação Acarajé, deflagrada na segunda-feira, 22, apontando como alvo principal o publicitário João Santana, marqueteiro das campanhas presidenciais de Lula (2006) e de Dilma (2010 e 2014).
Também investigado na Acarajé, a nova etapa da Lava Jato, Odebrecht foi transferido do Complexo Médico Penal de Pinhais para a sede da PF para depor sobre pagamentos supostamente ilícitos em favor de João Santana.
LEIA MAIS: » Em ato contra o PT, manifestantes distribuem acarajés na Câmara » Lobista fez repasses a Santana na Suíça durante a campanha de Dilma Os investigadores encontraram em seu celular anotações em siglas e apelidos que podem indicar os repasses de recursos de “origem espúria” no exterior.
Um desses registros é a palavra “Vaca” e outro é “Feira”, que aparecem ao lado de números.
Para a PF, “Vaca” é referência ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e “Feira” uma citação a João Santana - baiano de uma cidade próxima ao município de Feira de Santana. » Após ter prisão decretada na Lava Jato, João Santana chega ao Brasil Os investigadores queriam perguntar a Odebrecht qual o significado da frase encontrada em seus arquivos: “dizer do risco cta suíça campanha dela”. “É compreensível que Marcelo Odebrecht não queira depor sobre algo que não tem conhecimento”, declarou o criminalista Nabor Bulhões, advogado do empresário. “Basta ler a Súmula Vinculante 14 do Supremo Tribunal Federal.
O investigado tem o direito de conhecer o teor do inquérito.
Marcelo Odebrecht não invocou o direito ao silêncio, nem vai invocar.
Mas precisa ter acesso aos autos da investigação para sobre ela se manifestar”, afirmou o advogado.
Nabor Bulhões disse à reportagem que requereu nesta Terça-feira cópia dos autos da Acarajé. “Fomos informados que os autos estão sob sigilo, estão inacessíveis.
Mas é bom que se diga que isso aqui não é um jogo de loteria esportiva, é uma investigação criminal.
Ora, o investigador passa seis meses, às vezes um ano até, trabalhando incessantemente.
Aí de repente convoca um acusado para falar sobre o que foi apurado naquele longo período A Súmula 14 do Supremo bem traduz essa situação: o investigado tem o direito inequívoco de conhecer o teor da investigação para só então sobre ela se manifestar.” > Moro sequestra apartamento de R$ 3 milhões de João Santana > Lava Jato investiga repasse de R$ 7 milhões para grupo de João Santana > PF deflagra 23ª fase da Operação Lava Jato.
Marqueteiro de Dilma e Lula “O que ocorreu é que ele (Odebrecht) foi conduzido para a Polícia Federal para ser ouvido sobre dados e elementos da operação (Acarajé) aos quais ele ainda não teve acesso. (…) Pedimos acesso aos autos com designação de nova data para que aí sim possa responder, como sempre fez, a todos os questionamentos dos investigadores”, destacou Bulhões.
Bulhões observou que não tem conhecimento do conteúdo da Acarajé, exceto por “informações esparsas noticiadas pela imprensa”. > Defesa diz que João Santana e a mulher retornarão ao Brasil nas próximas horas > Lava Jato: Odebrecht diz que vai colaborar com autoridades » João Santana renuncia a cargo em campanha presidencial na República Dominicana Mas um detalhe ele já rebate enfaticamente - a informação de que Marcelo Odebrecht mandou sair do País dois executivos ligados à empreiteira, entre eles Fernando Miggliacio, preso na Suíça no dia 17 de fevereiro quando tentava fechar contas bancárias. “O que eu posso dizer com absoluta convicção é que Marcelo Odebrecht não tem nada a ver com movimentação ou com transferência de funcionários (da empreiteira) para o exterior.
Isso daí é uma mera especulação.
A decisão (do juiz federal Sérgio Moro) fala em Odebrecht sob o comando do Marcelo, mas não imputa a ele nenhum ato específico referente à transferência de funcionários.” O criminalista disse que realizou um levantamento sobre o período em que Odebrecht esteve à frente da Construtora do grupo “Não há nenhuma coincidência temporal da passagem de Marcelo Odebrecht pela construtora e a passagem desses funcionários pela própria construtora.
Cronologicamente se demonstra isso com extrema facilidade.
Não há referência nenhuma a interferência ou determinação de Marcelo Odebrecht para que os funcionários deixassem o Brasil”, disse.
Bulhões tem um outro argumento que reputa importante para rebater a suspeita deque o empreiteiro mandou executivos da Odebrecht para fora do País a fim de “driblar” as investigações. “A mobilidade de servidores num grupo empresarial como a Odebrecht é uma questão corriqueira no grupo que está presente em 28 países.
Muitos funcionários que hoje trabalham no Brasil amanhã poderão ser transferidos para o exterior.
Marcelo Odebrecht não tem absolutamente nada a ver com a ida (de funcionários) para os Estados Unidos.
Eles não integraram a Construtora Norberto Odebrecht na época em que o Marcelo por lá passou.
Quando eles foram transferidos o Marcelo não estava mais na Construtora.” O advogado concluiu. “Transferência de funcionários por influência do Marcelo Odebrecht não corresponde à verdade, é uma informação absolutamente falsa que pode ser derrubada com dados meramente cronológicos, temporais.”