Por Roberto Numeriano Uma vez, durante minha campanha para governador do Estado, recebi uma ligação de jovem militante partidário, que questionou uma opinião minha contrária à liberação da maconha para o dito “consumo recreativo” (belo eufemismo).
O rapaz, meio arrogante na pergunta, lembrava-me que o partido apoiava a liberação da cannabis etc etc.
Eu lhe respondi que o fato de um partido defender essa equivocada agenda não significa que todos os seus militantes e/ou filiados devam apoiar a mesma.
E que, é claro, minha posição continuaria a mesma, e também, nos espaços próprios, dando minha opinião contrária.
A não ser que o partido estivesse se transformando num gueto nazista e eu devesse correr dele para preservar minhas opiniões.
Nunca fumei cigarro, cachimbo, charuto, cigarro de palha ou maconha.
Mas não sou contrário à liberação da maconha por mim mesmo.
Ainda que nunca os tenha visto “puxando um fumo”, alguns colegas meus gostam de “mamar” seus baseados.
Não os julgo.
Nunca levantei contra eles qualquer acusação moral ou busquei dissuadi-los. (Desde muito novo sempre aprendi a conviver com todo tipo de gente, ainda que isto não signifique achar, hipocritamente, tudo lindo e maravilhoso em suas opções).
Eles, certamente, também não precisam do meu suposto aval para fumarem maconha (acho ridículo esse negócio de se dizer “amigo” de gay, de maconheiro, de cadeirante etc, como se isso demonstrasse que você é liberal e significasse legitimar as suas agendas etc).
O fato é que, como repórter policial, professor, pai e cidadão, li e meditei sobre o poder do princípio ativo da maconha (o tetrahidrocannabinol, ou THC) e concluí que se alguém viesse a mim e perguntasse se deveria ou não experimentar maconha, eu diria que fosse buscar outra coisa pra fazer na vida, e daí sentir outras “lombras”.
Aliás, eu queria ver se alguns políticos (à esquerda e à direita, ou liberais, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, admitiria numa campanha política que acharia natural um netinho em sua sala de vovô fumando um baseadozinho).
Maconha vicia.
A liberação para o consumo supostamente recreativo (sob o argumento de que vai significar um tiro certeiro no tráfico) é um dos maiores embustes ideológicos que se propaga nas redes sociais.
E muito irresponsável, social e cientificamente.
Aliás, jamais citam, esses apologistas do “uso recreativo”, as maiores pesquisas científicas sobre os efeitos de médio e longo prazo do THC no cérebro (feitas nos EUA desde os anos 60 e até hoje acompanhando viciados e ex-viciados).
Os efeitos são devastadores, entre os quais destacam-se a ativação / potencialização de psicopatias.
O fato de alguém se travestir de “intelectual”, liberado, “cabeça” etc. e achar que tem controle sobre o poder químico e viciante do THC, bem como das suas sequelas imediatas e de longo prazo, é um auto-engano da vaidade e na prática um escapismo por não tratar concretamente da maconha como problema de saúde física e mental, e, em seus efeitos, muitas vezes de polícia.
Roberto Numeriano é jornalista, professor e cientista político.