Foto: André Nery / JC Imagem Por Vanuccio Pimentel, doutor em Ciência Política e Diretor do IGPública Vanuccio Pimentel é ex-presidente do PT de Caruaru.
Doutor em Ciência Política e professor da Faculdade ASCES.
A nomeação de João Campos para a chefia de gabinete do governador Paulo Câmara ainda tem provocado intensos debates.
De um lado, os defensores da nomeação apelam para as qualidades pessoais de João.
De outro lado, os contrários tendem a apontar a nomeação como mais um privilégio concedido a família do ex-governador.
Como pesquisador, que se dedica a estudar o peso da estrutura familiar na política nordestina, considero que a existência de clãs políticos e suas estratégias na ocupação de cargos públicos são práticas antirrepublicanas.
No entanto, também preciso reconhecer que no sistema político brasileiro estas estruturas clânicas são muito eficientes na disputa política.
Sendo informais, os clãs políticos apresentam menores custos de transação na ação política.
Porém, pretendo avaliar a nomeação de João Campos por outra perspectiva.
Entendo que a nomeação foi um erro tático do PSB e da família Campos.
Parto de duas considerações básicas: 1. 1.
Eduardo Campos não se tornou herdeiro político de Miguel Arraes por consenso familiar, mas ele precisou disputar e conquistar este espaço.
Em um cenário de disputa faz sentido a tática de ocupação de cargos públicos, pois cada desempenho positivo ajudava a legitimar sua estratégia de sucessão do avô.
Não é por acaso que parte da família Arraes nunca lidou bem com o papel de Eduardo como sucessor de Miguel Arraes. 2.
Reproduzir esse mesmo caminho feito por Eduardo para João Campos não parece ser a melhor decisão.
João não disputa com mais ninguém dentro de sua família a herança do pai.
Nem os atuais gestores do PSB (leia-se: Paulo Câmara e Geraldo Júlio) aparecem como herdeiros de um legado familiar.
Para além das semelhanças físicas com o pai, desde o primeiro dia após a morte de Eduardo que João começou a emergir como sucessor natural de seu pai.
Há o fato de Antônio Campos ter entrado em cena como um possível condutor do legado, mas a cada dia essa possibilidade parece ser mais remota, já que Renata ainda tem mantido forte influência sobre a condução do legado do marido.
Diante disto, a conclusão que chego é de João Campos não precisava do cargo de chefe de gabinete para exercer influência política e muito menos para se legitimar como sucessor de Eduardo.
O cenário não é mais o mesmo.
O atual momento da política brasileira e pernambucana é difícil e a sociedade tem questionado as práticas políticas dos governos e os privilégios que saltam à vista em todos os poderes – executivo, legislativo e judiciário – e nos três níveis de governo.
Neste contexto, a nomeação foi vista como um privilégio, especialmente quando se leva em conta a enorme lista de parentes empregados nos governos, e não como um caminho natural para João Campos.
Quando Eduardo começou a ocupar cargos o cenário político não apontava para uma reprovação tão contundente deste tipo de prática, embora à época algumas críticas também tenham surgido.
A chefia de gabinete catapultou o jovem João para o epicentro da política pernambucana agregando aspectos negativos à sua imagem: almofadinha, privilegiado, príncipe real etc. É uma imagem que não ajuda em nada a construção de uma carreira política.
Parecia ser mais interessante que João continuasse nos bastidores se dedicando a sua formação, pois esta agregaria até mais elementos positivos a sua imagem.
Sua atuação política poderia se concentrar em um papel relevante dentro do PSB estreitando relações com lideranças locais e apresentando-se nos programas e inserções do partido na TV.
Neste momento, a blindagem a imagem do jovem permitiria que ele se apresente em 2018 com alguns elementos intactos.
Como candidato a uma vaga na Câmara Federal ele teria bastante espaço para agregar também uma imagem positiva para a reeleição de Paulo Câmara.
Este elemento novo, sem máculas do processo político, relembrando fisicamente e politicamente o pai e que se apresenta como preparado e decidido a seguir o legado de Eduardo Campos parece ser muito mais positivo do que o jovem privilegiado que assumiu um cargo no governo ainda em meio a sua graduação.
Agora novos desafios se apresentam.
Além de fazer o tal papel de articulação política ele também precisa lidar com estes novos elementos apegados a sua imagem.
Não sei se o cargo de chefe de gabinete dará espaço para que ele construa uma imagem distinta junto a parte do eleitorado que viu em sua nomeação apenas mais um privilégio da família Campos.