O Estado não é um prolongamento da família, ao contrário do que pensam alguns Por Michel Zaidan, em artigo enviado ao blog Estava eu retornando de uma reunião de trabalho com a diretoria da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do estado de Pernambuco (FETAPE), quando fui surpreendido com gritos de um motorista na rua, que acenava para mim perguntando o que achava da nomeação do infante João Henrique para o cargo de secretário de governo.
Certamente não foi por necessidade econômica do órfão de pai.
LEIA MAIS: » Roberto Numeriano vê hipocrisia na ‘esquerda’ ao criticar nomeação do filho de Eduardo Campos Além da pensão por morte, o jovem desfruta de uma situação familiar confortável.
Então, qual seria a motivação do governador em nomear o filho do falecido Eduardo Campos para a sua assessoria? - Não deve ter sido em função de suas qualificações profissionais e da pouca idade e experiência que o jovem possui.
Também não deve ter sido pelo bem do estado de Pernambuco e dos pernambucanos. poderia ser uma digna apoteose do recente carnaval que homenageou a figura de Miguel Arraes e seus descendentes.
Dizia Ariano Suassuna - amigo íntimo dessa família- que o povo brasileiro tinha uma enorme nostalgia da monarquia portuguesa, seus títulos nobiliárquicos, seu fausto e brilho.
Que , no fundo, todos nós éramos monarquistas disfarçados de presidencialistas imperiais.
Mas a monarquia arianista era de carnaval, meramente simbólica, uma encenação digna de um teatro mambembe, que ele tanto admirava. » Enquete: você concorda com a nomeação do filho de Eduardo Campos? » Filho de Eduardo Campos é o novo chefe de gabinete de Paulo Câmara O problema é quando a fantasia pula dos romances armoriais e das troças carnavalescas diretamente para o Palácio do governo e assume cargo e contracheque, às custas do erário público.
Será que o senhor Paulo Henrique Saraiva Câmara não se dá conta do simbolismo dessa nomeação? - Acha que ela é um fato corriqueiro, natural (talvez, numa gestão familista) que não chama a atenção de ninguém.
Logo ele que foi recrutado do Tribunal de Contas do estado, que tem por tarefa fiscalizar as contas da administração pública?
Pode não ser, mas essa nomeação de um filho do falecido governador, responsável direto pela eleição do atual governador e do atual prefeito da cidade do Recife, pode parecer uma troca de favores, uma retribuição à família enlutada pelos extraordinários esforços realizados para sua eleição, quando ele era ainda um mero técnico e analista de contas do tribunal do estado.
Poderia ser também uma forma de se criar um trampolim político para catapultar uma futura e vindoura candidatura às eleições municipais deste ano.
Mas há, também, uma hipótese irrecusável que anda de boca em boca na cidade do Recife: assim como a ma triarca do clã, a ministra-mãe, vem envidando todos os esforços para transformar o seu filho em prefeito de Olinda (pobre Olinda!), a mãe do infante P.
Henrique deve ter recorrido à cota-parte de que desfruta nesse reino armorial para emplacar a carreira política do filho. » Em balanço, Marília Arraes chama nova política de trupe falsária » Marília Arraes se manifesta sobre primo João Campos e diz que Pernambuco agora tem sua “própria Família Real” Esta hipótese não é de todo descabida, pois entre os herdeiros do espólio eduardista ela detém muito poder.
Não parece.
Mas tem.
E o seu poder de persuasão não é meramente dialógico ou discursivo, é bem mais eficiente do que isso.
O estado de Pernambuco tornou-se um botim disputado pelas várias facções e grupos remanescentes com a morte do ex-governador.
Nem todos os competidores têm o mesmo poder.
Uns o conservam por linhagem dinástica, de sangue, de parentesco - próximo ou distante.
Outros, pela subserviência, pela fidelidade canina ou de interesses.
Há, ainda, os espertos e malandros de sempre, farejando vantagens aqui e ali.
Por quanto tempo, os pernambucanos vão tolerar o domínio dessa oligarquia?