Por Osvaldo Matos, publicitário e sociólogo em seu livro A Lei do Cão LEIA MAIS: » Blog de Jamildo publica livro em capítulos » A orelha do jegue » Mata fome » Pense num genro » O prefeito cara de pau A violência faz-se passar sempre por uma contra-violência, quer dizer, por uma resposta à violência alheia - Jean-Paul Sartre Na época de carnaval, na década de oitenta, em um baile tradicional da cidade de Tropicana, realizado no Iate Clube, onde se reunia a nata da sociedade, havia muitos políticos, bastantes autoridades do judiciário, do legislativo, das forças armadas e da polícia.
Rolava muito loló e lança-perfume, pois, nessa época, era um diferencial, o que se usava no carnaval, além de muita bebida e whisky.
Quando a festa estava a altas horas, uma das pessoas convidadas, o comandante da tropa especial de patrulhamento da Guarda Nacional Republicana, uma espécie de rádio patrulha, estava com a esposa no evento, quando, de repente, houve um tumulto no salão.
Ele viu policiais deslocando-se até o salão para conter uma pessoa.
O comandante, na função de policial, aproximou-se para ver o que estava acontecendo.
Quando o comandante chegou no local, o presidente do Clube pediu-lhe para que tomasse providências, pois a pessoa envolvida no tumulto era um major-aviador e estava fazendo gestos obscenos no salão, além de brigar com os policiais.
O dito cujo embriagado, com hematomas, olhos inchados e o supercílio cortado, por ter agredido os policiais, que revidaram.
Mesmo assim, o rapaz não deixava de ter o velho queixão.
Ao ver a confusão, o comandante perguntou: - O que está acontecendo?
Os policiais esclareceram a atitude do cavalheiro, urinando em pleno salão, além de mostrar as partes íntimas para as senhoras, por isso, foram retirá-lo.
Perante tal situação, o comandante perguntou ao major: - Quem é você?
Tem identificação?
O major puxou a carteira e identificou-se como major-aviador.
O comandante pediu-lhe calma e prometeu-lhe resolver o problema.
Mas ele não queria papo e perguntou qual era a patente do comandante, era a de capitão.
O rapaz respondeu que não falaria com merda de capitão, principalmente com capitão de polícia, pois pertencia às forças armadas.
O comandante aguentava tudo, menos aquele tipo de humilhação, muito comum na época por parte das forças armadas, pois tinham saído de um período de ditadura e julgavam-se donos do pedaço.
O comandante, imediatamente, mandou conduzir o major para um camburão e dessem umas voltas, durante toda a madrugada, com ele.
Depois o jogassem na porta do primeiro quartel da força aérea que aparecesse.
Os policiais obedeceram.
O comandante sabia nada acontecer pelo fato de ser major da força aérea e que o terminaria prejudicando, ele e os soldados.
Haviam visto história semelhante antes. - Então, se vai acontecer, vamos sacrificá-lo um pouquinho.
A viatura rodou, freou, freios bruscos.
Imagine estar dentro de um camburão, sem apoio, algemado, tomando freio para tudo que é lado, com um calor intenso, em pleno verão de um país tropical.
Feito isso, o major foi jogado na porta do comando da força aérea.
Logo após o carnaval, o comandante foi chamado à sede do comando central, o quartel general da guarda.
Na época, o comandante da guarda de cada Estado era oficial do exército, coronel das forças armadas.
Quando o capitão chegou, a primeira pessoa vista foi um brigadeiro, um general da aeronáutica, com seu comandante e vários oficiais superiores, também o alto comando da guarda.
Perfilou-se e apresentou-se.
Prestou as saudações e continuou na posição de sentido.
O comandante geral perguntou-lhe: - O que aconteceu com este major?
O capitão, na posição de sentido, perfilado, jogou seu olho para o lado, olhou para o major e respondeu: - Com o major da força aérea, nada.
Agora, com o marginal a mostrar as partes íntimas para senhoras da sociedade, inclusive minha esposa presente na festa; aconteceu que foi preso.
Alterou-se, não se identificou.
Só o fez depois que eu cheguei.
O senhor sabe, marginal.
O major levantou-se, o brigadeiro também, e gritou com o capitão, que permanecia na posição de sentido.
Quando terminou a gritaria, disse: - Comandante, nunca imaginei um oficial da força aérea, que estudou, possui um curso superior e passou por uma seleção rigorosa fosse fazer o que nem o pior dos meus soldados da guarda faria.
Na década de oitenta, os soldados da guarda só precisavam ter a quarta classe do primeiro grau.
O comandante geral olhou para o Brigadeiro, depois olhou para o capitão, mandou o capitão retirar-se e acrescentou: - Eu não vou poder fazer nada contra o capitão.
Apenas vou transferir-lo do comando, porque sua atitude foi de policial, típica de policial.
E quem estava errado foi o major, com testemunhas e testemunhas.
Todas as testemunhas foram depor em uma sindicância, um inquérito, mas, praticamente, todos os presentes do baile ficaram revoltados com a situação e ofereceram-se como testemunhas em defesa do capitão ter tomado aquela atitude.
Porém, não era de se esperar, a corda sempre quebra do lado mais fraco: o comandante teve que punir o capitão com trinta dias de detenção e ainda o atrapalhou na promoção, pois o capitão demorou cerca de dez anos para obter a posição major, o que ocorreria normalmente em quatro anos.