Por Raul Jungmann, em artigo enviado ao Blog de Jamildo O principal juízo dos militares sobre a crise parte da constatação que os atores políticos, legitimados pelo voto para apontar e construir os caminhos da solução, abdicaram do papel que o grave momento nacional lhes reserva e reduziram as enormes dificuldades que se abatem sobre nós a mera luta pelo poder, na sua expressão mais primária.

E ao esforço de preservação de biografias que a cada dia se mostram mais indefensáveis.

Reclamam, em síntese, da inexistência de vontade política para o enfrentamento efetivo dos problemas e, em consequência, da incompreensível subordinação das razões de Estado às conveniências político-partidárias.

A visão que eles têm da crise atual pode ser assim resumida: a.

Estão fechados com o que diz a Constituição e seu papel por ela definido.

Nas suas palavras, nada farão fora do que diz o “livrinho” - nem prá por, nem para tirar ninguém, nem aceitarão ou apoiarão aventuras institucionais de qualquer das partes envolvidas; b.

Entendem, tendo em vista o aprofundamento social e econômico da crise, que cabe aos políticos sua rápida resolução, antes que ela se agrave ainda mais; e c.

Estão preocupados com a perspectiva de, não revertido o quadro de deterioração em curso, se verem convocados a intervir em nome da Garantia da Lei e da Ordem - GLO, art. 142, caput, da CF.

Convenhamos, a conjuntura lhes dá razão quanto ao temor de um descontrole.

O crescente desemprego, a recessão, inflação, colapso fiscal de estados e municípios justifica a preocupação.

Ademais, a perspectiva inédita de três anos de recessão, associada à vertiginosa perda de legitimidade do sistema político, de corrupção endêmica do governo e de parte do parlamento, somadas a amplas manifestações via redes sociais, torna cinzento nosso futuro.

Esse quadro poderia ser saneado se a política não fosse refém dela própria, como já dissemos anteriormente.

Isto porque, a crise é sobretudo política e da política, na sua relação incestuosa com o capital privado e patrimonialista com o Estado, aprofundada e acelerada à metástase pelos governos do PT e aliados, os principais responsáveis diretos pelo que ai está.

Diferentemente do que se passou em vários momentos da nossa história desde a crise de 1868, quando Caxias promoveu a queda do gabinete liberal do 2o reinado, inexiste projeto de tutela dos militares sobre as decisões ou rumos políticos do pais..

Hoje, os militares não desejam o poder ou identificam motivos para nele interferir, o que contribui decisivamente para nossa estabilidade democrática.

Porém, temem que a irresolução da crise e seu agravamento os tire dos quartéis, onde cumprem com disciplina e compromisso seus deveres profissionais e institucionais.