Apenas uma medida econômica é consensual; nova CPMF tem maior rejeição.

Foto: Lucio Bernardo Jr./ Câmara dos Deputados Agência O Globo - A ida da presidente Dilma Rousseff ao Congresso para a abertura do ano legislativo na terça-feira agradou aos parlamentares, que elogiaram o que consideraram um gesto de abertura ao diálogo, mas pode não trazer os efeitos práticos esperados.

Mesmo com polêmica, João do Morro vai cantar “Dilma” no Galo Das cinco principais propostas que a presidente sugeriu em seu discurso para reorganizar a economia, apenas uma delas teria, hoje, caminho livre na Câmara.

O GLOBO ouviu, ontem, os líderes do PT, PMDB, PR, PSD, PSDB e DEM, que totalizam 266 de um total de 513 deputados.

As quatro primeiras legendas são da base e as duas últimas, da oposição, e o único consenso entre eles foi sobre a fixação de um limite de gastos para o governo.

LEIA MAIS: » Secretário-geral do PSDB considera discurso de Dilma uma “perda de tempo” » Um dia após Dilma defender CPMF, Fernando Bezerra Coelho faz discurso firme contra volta do imposto Por outro lado, justamente o principal apelo de Dilma Rousseff — a recriação da CPMF — colocada como única alternativa para o governo recuperar o equilíbrio fiscal no curto prazo, foi alvo de maior rejeição entre os deputados.

Apenas o PT, partido da presidente, se posicionou a favor do tributo.

No PMDB, há uma defesa da apreciação da medida, mas a bancada se divide.

Os representantes dos demais partidos — PR, PSD, PSDB e DEM — se disseram contra.

Outros temas, como a adoção de uma margem de flutuação do resultado fiscal, o aumento de impostos que incidem sobre a renda e o patrimônio e a reforma da Previdência com adoção de uma idade mínima para aposentadoria também enfrentam resistências entre os partidos, embora menores. » Aécio: O que Dilma buscou hoje foi o apoio do Congresso para aumentar impostos » Dilma teve gesto correto ao enfrentar vaias no Congresso, diz Eduardo Cunha Sobre este último ponto, a maioria dos partidos quer que o governo apresente antes uma proposta concreta para ser discutida.

O PR foi o único partido a se declarar abertamente favorável, inclusive com o estabelecimento de idade mínima.

Já os oposicionistas disseram que só debatem o apoio à proposta depois que o PT encampá-la.

Só que o líder do PT, Afonso Florence (BA), afirmou que, antes de se aprovar a reforma, deve ser aprovada a CPMF, com direcionamento para a Previdência. — A posição do PT é negociar uma fórmula que preserve os direitos dos trabalhadores.

Primeiro, tem que aprovar a CPMF, porque é preciso um tributo que vá para a Previdência.

Só estabelecer idade mínima não resolve de uma vez o problema — afirma Afonso Florence. » Dilma é vaiada no Congresso Nacional ao defender volta da CPMF » Apesar de vaias, Dilma diz ter achado ‘ótima’ a receptividade do Congresso Só que a tarefa de aprovar a CPMF será inglória.

Florence foi o único dos ouvidos a defender abertamente a recriação do imposto, afirmando que o PT quer tributar os “mais ricos” e que o dinheiro arrecadado será destinado a Saúde e Previdência.

O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), defendeu que é preciso votar a proposta e, se for rejeitada, apresentar uma alternativa.

O líder do PSD, Rogerio Rosso (DF), afirma que há “imensa dificuldade” em sua bancada e busca alternativas que tornem o imposto temporário e não atinja os mais pobres.

O líder do PR, Maurício Quintella (AL), afirma que seu partido é extremamente refratário à ideia e que espera que o governo aprofunde a reforma administrativa antes de tratar de aumento de tributos.

No DEM e PSDB, a rejeição é absoluta ao tributo. — Queremos que governo corrija despesas e não venha pedir mais sacrifício à população depois de destruir a economia.

Não vamos aceitar isso — disse o líder do PSDB, Antônio Imbassahy. » Em abertura do ano legislativo, Dilma conversa com Renan e evita Cunha A fixação de um limite para o crescimento do gasto primário do governo, sugerido pela presidente como forma de dar mais previsibilidade à política fiscal e melhorar a qualidade das ações de governo, foi a única das medidas que não enfrentou maiores resistências.Para os deputados da base, a medida pode trazer maior rigor fiscal. — Isso forçará o debate sobre a qualidade dos gastos, com uma avaliação periódica criteriosa dos programas do governo. É fundamental para melhorar o resultado fiscal — afirma Picciani.

Apesar das resistências, Dilma disse ontem a ministros que quer manter o diálogo com o Congresso e fazer um “trabalho de convencimento”.

Segundo colunista Lauro Jardim, o ex-ministro Delfim Netto, que sugeriu a ida de Dilma ao Congresso, disse a um interlocutor que achou o discurso “um bom começo” e que, agora “faltam os projetos".