Por Luciano Siqueira, especial para o Blog de Jamildo O protesto é um direito fundamental - em qualquer circunstância e lugar.
Essencial à democracia.
Agora mesmo, já se vive o carnaval em toda parte, sobretudo nessa aguerrida e festeira terra maurícia.
E tudo se extravasa: desejos e frustrações, amor, desamor, humor e, naturalmente, a luta e o protesto.
Cabe protestar com a irreverência própria do reinado de Momo.
O que não cabe é o ensaio de vaias da parte de alguns parlamentares, ontem, quando do discurso da presidenta Dilma no Congresso.
A presidente cumpria um dever constitucional.
Os membros da Câmara e do Senado, idem.
Em clima que haverá de ser sempre de respeito mútuo, qualquer que seja o grau de discordância e de desencontro eventualmente existente entre o Executivo e o Legislativo.
O ensaio de vaias - não passou de ensaio porque os aplausos foram muito mais fortes - traduziu a precariedade política e ideológica e cultural de uma parcela dos atuais congressistas.
Faltam-lhes a consciência cidadã, o compromisso democrático e o zelo pelo exercício do mandato.
O Brasil não precisa disso.
O Brasil precisa, sim, da polêmica acesa entre oposição e situação, que confronte distintos projetos de nação.
Não se supera a crise atual com desaforos nem com atitudes inconsequentes e desrespeitosas.
Nesse sentido, as ruas certamente darão uma lição de civilidade, neste carnaval.
Milhares de foliões farão a sua crítica ao governo: ácida, contundente e provavelmente satírica e bem humorada, como sempre ocorre.
Milhares de foliões, por seu turno, defenderão a democracia contra o que consideram golpe institucional, igualmente através da chacota e do bom humor.
Há espaço para todos os gestos e todos os gostos e para a infinita criatividade do povo brasileiro.
No Congresso Nacional não há, entretanto, nem deve haver jamais, espaço para a falta de decoro - que, na essência, significa desrespeito ao povo.
Diz-se que o ano começa pra valer após o carnaval.
E teremos um ano ainda de muitas dificuldades, muito conflito e infinita necessidade de se formar uma maioria consensual, na esfera política e na sociedade, em torno da superação da crise econômica e da instabilidade política, em favor da retomada do desenvolvimento do País.
A agenda é ampla e complexa.
Exige descortino político, capacidade técnica e espírito público.
Que as saídas para a crise se dêem no âmbito da institucionalidade democrática.