Foto: Elza Fiúza/ Agência Brasil Da Agência O Globo O ex-ministro dos Transportes, ex-senador e ex-governador da Bahia César Borges defendeu as medidas provisórias (MPs) editadas pelo governo federal para incentivar e descentralizar a indústria automobilística brasileira.
Ele prestou depoimento como testemunha na Justiça Federal do Distrito Federal na manhã desta terça-feira, em audiência da ação penal da Operação Zelotes, que investiga a possível compra de MPs que beneficiaram o setor.
Borges disse que nunca recebeu ou soube da existência de pagamento de propina nas negociações das medidas. — Nunca recebi.
Nunca soube no Parlamento.
Me admira muito que uma MP como essa possa ter saído de algum tipo de acordo — disse Borges.
Hoje vice-presidente do Banco do Brasil, ele foi relator em 2010, quando era senador, de uma dessas MPs, a 471, que prorrogou incentivo fiscal às montadores instaladas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Caso isso não tivesse ocorrido, o benefício teria acabado já em 2010.
Além disso, ele era governador da Bahia em 2001, quando foi instalada a fábrica da Ford no estado.
Segundo Borges, tanto o governo Fernando Henrique (1995-2002) como o governo Lula (2003-2010) entenderam a necessidade de desenvolver a indústria fora do Sudeste e Sul do país.
LEIA TAMBÉM: > Juiz nega pedido para enviar ação da Zelotes ao STF > Zelotes: Dilma deve responder questionamento por escrito até dia 5 > Propina a parlamentares é difícil de provar, diz procurador da Operação Zelotes — A luta da Bahia em 1999 para ter indústria automobilística não foi uma vitória só da Bahia, mas do Nordeste brasileiro.
Foi uma luta árdua, não foi fácil.
Houve empenho dos políticos baianos.
Certamente a participação do governo Fernando Henrique foi fundamental — disse Borges, acrescentando: — Essa prorrogação, que veio pela MP 471, veio no entendimento muito bom que, independentemente de coloração partidária, era importante haver descentralização da indústria.
O ex-diretor-executivo da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Paulo Sotero Pires Costa, disse que o lobista Mauro Marcondes não tinha autorização para, em nome da entidade, pedir a órgãos públicos incentivos fiscais direcionados especificamente a uma ou outra montadora.
Segundo ele, a Anfavea só dialogava com o governo para tratar de questões que atingissem toda a indústria automobilística.
Marcondes já foi vice-presidente da entidade.
O Ministério Público Federal (MPF) o acusa de atuar para beneficiar empresas que ele representava, como a MMC Automotores, subsidiária da Mitsubishi no Brasil, e a Caoa, responsável pela marca Hyundai no país.
O MPF o denunciou pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa.