Por Osvaldo Matos, publicitário e sociólogo em seu livro A Lei do Cão LEIA MAIS: » Blog de Jamildo publica livro em capítulos » A orelha do jegue » Mata fome Mais um dia havia se passado e o delegado Francisco estava em uma situação de extrema pressão.

Sua filha, prestes a casar, e ele não ia muito com a cara do seu futuro genro.

Para ele, o rapaz era um cara muito certinho: professor de matemática fazendo mestrado.

Embora não lhe encontrasse sinais exteriores de uma pessoa má, alguma coisa no faro do delegado dizia haver algo por trás daquele cara.

O casamento estava se aproximando.

As pessoas, às vezes, colocam inimigos em casa.

Casa de ferreiro, espeto de pau.

O delegado e seu pai, sargento reformado, trocaram algumas opiniões.

O delegado sempre mostrava descontentamento e não ia com a cara do futuro genro.

Mas, seu pai dizia: ?- Não. É impressão sua.

Mal sabia o delegado que seu pai, policial experiente, havia resolvido investigar o rapaz.

Certo dia, à noite, sua filha estava muito feliz, pois faltavam poucos meses para o casamento.

O sargento Sarmento ligou para Francisco: ?- Filho, preciso falar com você.

O delegado pegou o carro e foi à casa de seus pais.

O velho estava esperando ansioso, na porta.

Disse: - Meu filho, vamos invadir o apartamento do seu genro. ?- Como, papai? ?- Vamos invadir o apartamento do seu genro. - Isso não pode, isso vai criar… - A única forma da gente pegá-lo é invadindo o apartamento. - Por quê, papai? - Suspeito ser seu genro seja um pedófilo.

Fiz algumas observações, algumas investigações, segui-o e vi-o percorrendo pontos próximos às escolas, dando carona para crianças e adolescentes.

O meu sinal vermelho está ligado.

Quando chegaram ao apartamento, o delegado identificou-se ao porteiro como sogro.

O porteiro disse que o rapaz não estava em casa, mas o delegado afirmou que possuía a chave, e iria pegar uns móveis para a mudança do apartamento do genro.

O delegado Francisco e seu pai arrombaram a porta, escancararam o apartamento, mesmo assim, nada encontraram.

No entanto, pai do delegado teimava em dizer que havia alguma coisa escondida.

Fizeram um verdadeiro salseiro no apartamento do futuro genro do delegado.

A partir de observações, o pai do delegado começou a bater nas paredes. - Papai, por que você está batendo nas paredes? - Tem alguma coisa me dizendo, que há algo errado aqui.

Quando foi batendo nas paredes, abriu o guarda-roupa, viu um fundo meio fofo.

Então, disse: ?- É aqui que está tudo.

Imediatamente, os dois tentaram retirar as roupas e o compensado do guarda-roupa, depois retiraram a porta, que era embutida.

Quando separaram tudo, não era de se esperar o que viram, uma cena dantesca: fotos e mais fotos de crianças nuas, vítimas de violência e, certamente, violências que as levaram à morte.

Imagine a cabeça de um pai vendo a jovem filha, médica recém-formada, criada com todos os gostos que um pai poderia dar, sendo vítima de um pedófilo e, pelo que viram, também de um assassinato.

O que veio à cabeça do delegado foi matar o cara, mas a razão falou mais forte.

O pai do delegado, com a velha experiência, disse-lhe: - Matar uma cara destes não adianta, a gente deve prendê-lo, para na cadeia o pessoal pintar e bordar.

Eles viram que a maioria daquelas fotos fora tirada em um local parecido com um sítio de ampla vegetação.

Resolveram, então, colocar tudo no lugar, uma trabalheira, para parecer nada haver acontecido.

No dia imediato, o genro do delegado sumiu.

Apesar de terem arrumado as provas, o genro devia ter observado as câmeras, além do próprio porteiro.

Simplesmente, havia sumido.

Com isso, o delegado e o pai começaram a investigação onde o cara poderia encontrar-se.

Ambos contaram à filha o acontecido.

Imagine a decepção com, tanto amor, aquela situação.

Eles não quiseram parar por aí.

A vergonha do delegado era imensa, mesmo com experiência, junto com a do seu pai, ter deixado um psicopata aproximar-se da joia maior da sua vida, a filha.

O velho ditado: “Casa de ferreiro, espeto de pau”.

O delegado ficou com um pouco de sentimento de culpa de não ter tido cuidado em ver quem estava rodeando os filhos. “Acho que todo pai deve ser um pouco investigador”, pensou ele.

Imediatamente, nas investigações do pai do delegado, mesmo aposentado, pois havia colocado isso como ideia fixa, ele levava as crianças para um sítio da família abandonado por questões de brigas e de herança.

Chegando ao sítio, em uma área longe da estrada principal, distante vinte quilômetros da cidade mais próxima, os dois viram um ambiente macabro, que deixava entender algumas situações misteriosas.

A partir desse momento resolveram averiguar se corpos poderiam estar naquele local.

As fotos insinuavam que as crianças haviam desaparecido.

Eles começaram a observar o terreno e a procurar ondulações.

O pai viu um amontoado de areia, um caso estranho.

Encontraram, na cozinha da casa, uma pá e, imediatamente, cavaram o local.

Ao fazê-lo, uma surpresa: o corpo de criança em estado de decomposição, calculado em dez ou doze anos.

O delegado ligou para a delegacia e acionou a equipe de capturas com os peritos.

O terreno foi escavado e o resultado, trágico, encontraram dez corpos de crianças.

O delegado pensou o quanto havia deixado a filha envolver-se com tal homem, e, como pai, tinha a obrigação de conhecer o futuro genro.

Estava a filha, praticamente, nas mãos de um psicopata.

Montaram, novamente, uma equipe e iniciaram a caça ao psicopata.

Ele estava tão apaixonado pela filha do delgado que cometeu um erro: querer observar e contatar-se com ela.

Na opinião do delegado, até para pegar a sua filha e cometer algo semelhante ao acontecido com as crianças.

No momento em que a filha saía do trabalho, colocaram um carro para segui-la e ver o que acontecia em sua volta.

Eram pessoas discretas, conhecedores da inteligência, segurança velada.

Assim, pegaram o cara e declararam a prisão.

Um escândalo, por se tratar de uma pessoa da sociedade, bem posicionada.

O delegado pensou: o assassino vai ser julgado, ou não, vai ser tido como psicopata, doente mental e incapaz; psicopata é um ser extremamente inteligente.

Vai tentar com as progressões da pena e repetirá o mal.

O delegado não teve dúvidas, ao prender o homem levou-o para a delegacia, onde estavam ladrões e assaltantes de carro.

O policiamento havia feito uma grande operação e prenderam traficantes de drogas.

Com a delegacia cheia, não existia outro local para deixar o preso.

O delegado resolveu colocar o pedófilo na mesma cela dos criminosos, presos há poucos dias, e contou aos detentos, ao colocá-lo na cela, o que ele havia praticado.

Depois mostrou-lhes as fotos das crianças mortas.

No momento o delegado sentiu um pouco de humanidade, da revolta na cara de cada traficante e assaltante que ali permaneciam, cerca de vinte.

Pediram para que o delegado se retirasse.

Lá dentro houve um verdadeiro trucidamento: todas as partes do corpo do pedófilo foram arrancadas, à mão e dentadas.

Após o ocorrido, o delegado começou um dos piores momentos de sua vida.

Sua filha desiludida e a carreira dele ameaçada.

Comissões de direitos humanos e imprensa colocaram para o público que o delegado havia sido o responsável pelo massacre.

Os presos insistiram em dizer ter sido uma postura dos prisioneiros.

Os direitos humanos e os superiores consideravam um erro do delegado.

A partir daquele dia, viu que o valor difere entre as pessoas, era uma utopia para ele.

Entre idas e vindas na corregedoria e no ministério público; ele contratou um bom advogado, entre os que deviam grandes favores ao pai, que, na época difícil da vida do advogado, como estudante e líder estudantil, muitas vezes foi poupado por seu pai, que o admirava muito.

Esse importante advogado conseguiu criar uma linha de defesa que livrou o delegado da culpabilidade do crime.

Daí por diante, sua vida mudou, ele começou a perceber que a vida gerava situações inesperadas.

Para o delegado, as pessoas não são o que dizem ser, e a maldade está implícita no ser humano, e faz parte dele.